O patriarca de Constantinopla explica a importância histórica do encontro com o papa Francisco em Roma e na Terra Santa
Roma, 13 de Março de 2014 (Zenit.org) Mattia Sorbi
Uma das maiores novidades do pontificado do papa Francisco é
a dimensão fraterna das relações com as outras igrejas cristãs. Em
particular, com os ortodoxos. Na última semana de maio, durante a visita
do papa à Terra Santa, Sua Santidade Bartolomeu, patriarca de
Constantinopla, participará de um encontro conjunto organizado por
Francisco em Jerusalém. O patriarca de Constantinopla convidou o papa a
visitar também Istambul. Para saber mais, ZENIT entrevistou Bartolomeu.
***
Santidade, em que ponto está o processo ecuménico? O que
falta para se realizar o desejo do papa João Paulo II de ver uma Igreja
unida, que possa respirar com seus dois pulmões?
Bartolomeu: A questão sobre o quanto estamos perto da unidade na
Igreja e, em particular, de permitir que a Igreja cristã (ocidental e
oriental, ortodoxa e católica romana) respire com dois pulmões, é muito
importante. Não há dúvida de que as nossas "Igrejas irmãs" estão mais
próximas hoje do que durante todo o milénio passado, graças ao "diálogo
de amor" e ao "diálogo da verdade", ou seja, graças aos passos rumo à
reconciliação e graças ao processo de diálogo teológico estabelecido nas
últimas décadas. Apesar disso, ainda estamos longe da Unidade que
compartilhávamos no primeiro milénio de vida da Igreja. A coisa mais
importante para nós é manter diante dos olhos o desejo e o mandamento do
Senhor: "que os discípulos sejam unidos e que a Igreja seja uma coisa
só". É um escândalo no Corpo de Cristo e para o mundo inteiro que os
seguidores de Jesus Cristo estejam divididos em um momento histórico em
que, mais do que nunca, somos chamados a um testemunho comum e a uma
única palavra perante os desafios do nosso tempo.
Quais são as metas mais difíceis para a Igreja no Oriente Médio hoje?
Bartolomeu: É um ambiente difícil em que emergem os problemas da
Igreja de hoje e o aumento da violência entre os povos do Oriente Médio.
As nossas Igrejas têm que proclamar a paz onde há guerra, o amor onde
há ódio, a tolerância onde há discriminação. Este princípio se aplica
tanto aos seguidores das outras religiões quanto à situação dos cristãos
nesta região frágil. Estamos muito preocupados com a crescente
instabilidade política e com o aumento da violência, especialmente na
Palestina, no Egipto, no Iraque e, mais recentemente, na Síria. Também
estamos profundamente desolados diante da injustificável inactividade e
indiferença das autoridades civis e políticas, que não conseguiram
proteger a população cristã e os cidadãos em geral. Os líderes cristãos
têm que garantir a nossa máxima solidariedade e fidelidade ao Evangelho
no Oriente Médio e, ao mesmo tempo, condenar categoricamente todas as
formas de brutalidade e derramamento de sangue. Temos que ressaltar que
todos os lugares de culto são templos sagrados do único Deus vivo, assim
como todos os seres humanos são templos sagrados do Espírito vivente de
Deus.
Qual é o grande significado do convite que Sua Santidade fez
ao papa Francisco para visitar Istambul este ano, depois da viagem a
Jerusalém?
Bartolomeu: Quando fomos convidados para a missa de abertura do
pontificado de Francisco na Praça de São Pedro (nota da redacção: foi a
primeira vez na história em que o patriarca de Constantinopla participou
da posse do bispo de Roma), convidamos Sua Santidade a nos visitar no
Phanar (nota da redacção: a sede de representação do patriarca de
Constantinopla em Istambul, na Turquia), mas também a organizar uma
visita conjunta a Jerusalém. Este convite se tornou um costume informal
desde Paulo VI, seguido mais tarde na eleição de João Paulo II e Bento
XVI. Mas a nossa última proposta, que, se Deus quiser, será realizada
dentro de poucos meses, é celebrar o encontro histórico entre o último
patriarca ecuménico Atenágoras e o papa Paulo VI no Monte das Oliveiras,
em Janeiro de 1964, que foi a primeira vez em que o papa de Roma e o
patriarca da Nova Roma se encontraram face a face depois do assim
chamado Grande Cisma de 1054. Aquele evento levou, em 1965, a um "mútuo
levantamento dos anátemas recíprocos" e foi reforçado, em 1969, por
visitas formais anuais das respectivas delegações, o que, dez anos mais
tarde, levou à criação de uma comissão internacional para o diálogo
teológico entre as nossas duas Igrejas. É viva a nossa esperança e
fervorosa a nossa oração para que o encontro com o papa Francisco
fortaleça a estreita relação entre a Igreja Católica Romana e a Igreja
Ortodoxa.
(13 de Março de 2014) © Innovative Media Inc.
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