O tempo a decorrer pode mudar
tudo. Quase tudo nos influencia, ou seja, o modo como nós pensamos, o modo como
agimos. Tem a ver com o nosso crescimento pessoal, com os contributos do meio social
onde nos movemos, com aquilo em que acreditamos, com as nossas vivências
pessoais, com a nossa cultura, a aprendizagem feita ao longo da nossa história
de vida. O título deste artigo prende-se com uma frase, que uma amiga já com
uma idade avançada, referia recorrentemente. Por sua vez, esta frase, não sejas
miser, era proferida por uma amiga
sua de origem austríaca, que veio viver para Portugal aquando da segunda guerra
mundial, em virtude de ser judia, fugindo assim da perseguição e dos horrores
sobejamente conhecidos desta guerra. Era de um nível cultural elevado. Tinha
exercido as funções de diretora de um museu. Em Portugal, viria a viver com
muita sobriedade, direi mesmo dificuldades e perseguição. Casou entretanto com
um português com formação superior e a vida em Portugal não foi fácil para
ambos. O casal, apesar de todas as dificuldades e constrangimentos vivenciados,
lutava cada dia, vivendo com muita sobriedade para levar a vida em frente. O
que importa mesmo, é que deixaram um legado cultural que não vou referir, mas
que se reveste de importância. Deixaram rasto! Tornou-se uma grande amiga, face
ao seu casamento, com esta minha amiga quase centenária. Apesar de tudo,
costumava dizer à minha amiga, não sejas
miser (forreta). Aconselhava-a a viver com sobriedade, mas a nunca ser
forreta. Esta frase vale o que vale, já que não conheço em profundidade as
circunstâncias em que foram proferidas. Mas de tanto a minha amiga a referir,
ficou-me bem presente na memória. E eis que este ano, pensei nesta frase, isto
porque tive a oportunidade de presenciar uma situação de “mesquinhez”, numa
pessoa com grande poder de compra, justificando esta sua atitude, ser contra o
materialismo, até mesmo para com as crianças, ou seja, nada de lembranças para
ninguém. Há que poupar! A sua frieza, rigidez, falta de amor, sensibilizou-me
pela negativa. Interiormente, pensei: Nada possuo, nada sou, mas não gostaria
de todo, de ser conhecida como “forreta”. Viver o desprendimento, não é assim.
Sempre aprendi que primeiro estão os outros e nós, em último lugar.
Foi de tal modo que, apesar de
termos combinado em família, que prendas eram só para as crianças, considerei
que uma pequena prenda, ainda que muito económica e insignificante, mas dada
com amor, faz toda a diferença. E se assim pensei, melhor agi. Comprei ofertas
simbólicas, muito acessíveis, tendo conseguido com um pequeno montante,
realizar este meu desejo, quase com se fosse o último Natal da minha vida,
sabendo que não haveria retorno. “Coração, coração na cruz”! Durante a
distribuição das prendas, depois da alegre consoada, das graças das crianças
que exibiram os seus dotes, da missa do galo, da aparição na janela do pai
natal, que fez a delícia dos pequeninos, sentada em frente ao presépio,
observando o menino recém-nascido, observei em silêncio, a alegria da família,
em particular dos mais pequenos, pensando: “Obrigada, perdão, ajuda-me mais”! Reparei
no rosto surpreendido de quem recebia inesperadamente, um chocolate, um pequeno
note-book, um livro, entre outros presentes
simbólicos, tudo muito simples mas com uma mensagem de amor, constatando assim a
máxima, “Há mais alegria em dar do que em receber”!
A noite já ia muito longa. Era
preciso regressar a casa. No dia seguinte, havia outros compromissos, com outra
parte da família. Mas esta noite tinha sido especial, concedendo forças e
graças para enfrentar o novo ano, com novas lutas e talvez algumas antigas que
insistem em não nos deixar. Mas temos o amor de Jesus para nos ajudar e de Sua
mãe e nossa mãe, Maria Santíssima.
Associei este Natal ao
desprendimento do supérfluo, enquanto pessoas livres, desapegadas e despojadas,
como Jesus disse: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos, mas o Filho
do Homem não tem onde repousar a cabeça”. Como São Josemaria dizia referindo-se ao amor: “O amor verdadeiro é sair de
si mesmo, entregar-se. O amor traz consigo a alegria, mas é uma alegria que tem
as raízes em forma de cruz. Enquanto estiveres na terra e não tiveres chegado à
plenitude da vida futura, não pode haver amor verdadeiro sem a experiência do
sacrifício, da dor. Uma dor que se saboreia, que é amável, que é parte íntima
da alegria, mas que é dor real, porque supõe vencer o egoísmo e tomar o amor
como regra de todas e cada uma das nossas ações”.
Termino este artigo recordando
que a vida passa, o tempo escapa-se por entre as nossas mãos. Um ano mais que
passou é um passo mais dado com as mãos vazias ou cheias. ‘A Jesus sempre se
vai e se torna por Maria’. Por sua intercessão, que tenhamos um bom ano 2019 e
que Deus nos acompanhe sempre.
Maria Helena Paes |
Sem comentários:
Enviar um comentário