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terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Meditação oriental e oração cristã

Nos nossos tempos, em consequência do contacto cada vez mais frequente com outras religiões, com os seus diversos estilos e métodos de oração, muitos fiéis começaram a interrogar-se sobre o valor que pode representar para os cristãos outras formas não cristãs de meditação.

Esta dúvida refere-se sobretudo aos métodos usados nas religiões orientais, alguns inspirados no Induísmo e no Budismo, como o «Zen» ou a «Meditação transcendental», ou o «Yoga». Tratam-se, portanto, de métodos de meditação do Extremo Oriente não cristão, que hoje são usados frequentemente também por parte de alguns cristãos por motivos terapêuticos.

Num mundo agitado, stressante e ruidoso, onde a inquietude espiritual duma vida submetida ao ritmo agitado da sociedade tecnologicamente avançada, é cada vez maior o número de cristãos a procurar em tais métodos um caminho de distensão interior, de equilíbrio psíquico, de recolhimento espiritual e dum profundo contacto com o mistério divino.

Perante este fenómeno, convém dispor de critérios seguros, de carácter doutrinal e pastoral, que permitam conduzir e educar no sentido de oração nas suas variegadas manifestações, mas permanecendo na luz da verdade revelada em Jesus, segundo a genuína tradição da Igreja.

A oração cristã é sempre determinada pela estrutura da fé cristã, na qual resplandece a verdade de Deus Pai Criador e a do homem como criatura. Por isso mesmo, a oração assume a forma dum diálogo pessoal, íntimo e profundo, entre o homem e Deus.

Nesta comunhão que se funda sobre o Baptismo e sobre a Eucaristia, fonte e cume da vida da Igreja, encontra-se implícita uma atitude de conversão, um êxodo do eu para o Tu, de Deus. Com muita clareza, os autores do Novo Testamento falam sempre da revelação de Deus em Cristo, no âmbito duma visão iluminada pelo Espírito Santo.

A oração cristã é também e sempre ao mesmo tempo autenticamente pessoal e comunitária. Por esta razão, recusa técnicas impessoais ou centradas sobre o eu, as quais tendem a produzir automatismos, nos quais o orante fica prisioneiro dum espiritualismo intimista, incapaz duma livre abertura para o Deus transcendente, passando depois a sentir-se ele mesmo um igual a Deus, na medida em que nestas meditações de origem oriental há o predomínio do panteísmo, onde tudo é Deus e no qual o ser humano se considera seu igual, procurando assim a iluminação divina.

S. Paulo já nos advertia de que o «Mistério de Deus é Cristo no qual se acham escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento» (Col. 2, 3) e continua —: «Digo isto para que ninguém vos engane com argumentos capciosos» (ibidem, v. 4).

É antiga a tentação do homem se querer igualar a Deus, minimizando o Criador e exaltando a criatura, neste caso fundir a meditação cristã com a não cristã, adorar a Deus em Jesus Cristo, que nos transcende não é o mesmo que mergulhar no vazio da mente em busca dum nada, procurando estados psíquicos alegadamente superiores ou ambicionando tornar-se num iluminado, como foi Buda, entre outros.

Santo Agostinho diz sobre este tema: “Se queres encontrar a Deus abandona o mundo exterior e entra em ti mesmo. Todavia, não fiques em ti mesmo, mas vai mais além, porque tu não és Deus: Ele é mais profundo e maior do que tu. «Procuro a sua substância na minha alma e não a encontro; meditei, todavia, sobre a pesquisa de Deus e, inclinado para Ele, procurei conhecer, através das coisas criadas, `a realidade invisível de Deus’. «Fechar-se em si mesmos»: eis o verdadeiro perigo. Com efeito, Deus está em nós e connosco, mas transcende-nos no seu mistério.

Estas propostas ou outras análogas de harmonização entre a meditação cristã e as técnicas orientais, deverão ser continuamente examinadas mediante um cuidadoso discernimento de conteúdos e de método, para evitar a queda num pernicioso sincretismo ao jeito das novas correntes culturais muito divulgadas entre nós, num misto de fusão entre filosofias e tendências orientais de cariz politeísta, se não mesmo pagão em alguns casos, em que o seu aproveitamento ou exploração redundou numa amálgama exotérica de tratamentos e de negócios, sem qualquer credibilidade científica ou religiosa.

Maria Susana Mexia



2 comentários:

  1. Uma análise muito pertinente da grande confusão dos nossos dias sobre "espiritualidade". Há dias lia, infelizmente já não me lembro da fonte, as palavras de um mestre hindú que afirmava não haver yoga cristão. Também dá que pensar que há quem olhe para a sociedade oriental com desejo de imitação e despreza a riqueza da cultura ocidental. Se olharmos para as profundas assimetrias sociais é no mínimo desconcertante!

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  2. É mesmo remar contra a maré...mas felizmente ainda há quem tenha o bom senso e o saber para nos esclarecer das confusões e artimanhas com que nos quer enganar esse poder global que para aí anda há umas décadas a minar a são doutrina.
    Cristianismo é Cristianismo, rezar é falar com Deus, nosso Pai que está nos Céus, por isso nos deixou o Pai Nosso - oração predilecta de Jesus Cristo, Seu Filho muito amado e nosso salvador. Com todo o respeito pelas outras religiões, não posso admitir que se confundam, misturem e se comparem, pq isso é o que nos querem fazer, para relativizar e minimizar a Fé dos Cristãos. Buda foi um Iluminado, mas Jesus Cristo é Filho de Deus, festejámos o seu nascimento pelo Natal, nada de confusões...e termino com o " não nos deixeis cair em tentação e livrai-nos Senhor de todo o mal, do maligno, (destas seduções impostas pelo politicamente correcto).

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