Páginas

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Um fim de tarde excelente

Deram-me conhecimento de um evento subordinado ao tema “Como Potenciar um Perfil de Liderança” promovido pelo Instituto “Virtuous Leadership” que teria lugar no dia 26 de Outubro de 2018, no Auditório da Caixa Económica do Montepio Geral. Achei o tema interessante. Já que o aprender não ocupa lugar, logo esta formação constituiria certamente um enriquecimento pessoal.

Convidei uma amiga para me acompanhar que aceitou de bom grado em virtude do interesse que tinha no tema a abordar. No dia da conferência, encontrámo-nos um pouco mais cedo com o objetivo de dar uma volta pela zona. Entrámos na Igreja de S. Nicolau. Recordei que há muitos anos atrás quando vinha visitar a minha avó, naquela zona, era usual participar com a minha avó na missa nesta Igreja. Vieram-me ao pensamento estas estadias na sua enorme casa. Tudo me parecia muito grande na cidade de Lisboa. Ficava fascinada com os elétricos, o movimento, as montras, os cheiros… Recordo que a avó me levava a lanchar na pastelaria Suíça. A avó olhava para mim recomendando que não me sujasse, que não colocasse os cotovelas em cima da mesa, que não cruzasse as pernas. Um dia fomos tomar chá a casa de uma amiga. Tinha netos. Fomos para o jardim da casa brincar. Resolvi andar num carro de criança. Infelizmente o vestido ficou sujo com óleo. Uma vergonha. Estas vindas a Lisboa ficavam sempre cheias de memórias. Depois havia uns tios já com alguma idade, muito austeros, indo às vezes almoçar a sua casa. Era um cerimonial. Tinham umas caras muito sérias. Eram almoços infindáveis, com prato de peixe e de carne. Pouco se falava. Um silêncio quebrado pelo barulho dos talheres e da empregada a servir. Sabia que o tio era um comerciante abastado. Até tinha uma loja de brinquedos! Ousei durante o almoço pedir-lhe que me trouxesse uma boneca. A avó mudou de cor. Pediu desculpa. Percebi que tinha cometido uma gaffe. O tio olhou-me por detrás dos seus óculos com um olhar algo severo que, se fosse possível, saía da mesa. Afinal era só uma boneca! Claro que nunca tive a boneca. As tias já com alguma idade levaram-me para uma sala, talvez condoídas, tendo resolvido emprestar-me algumas bonecas suas para brincar com uma recomendação. Que não as estragasse. Eram muito bonitas, de louça, os olhos abriam e fechavam. E eram assim as vindas de férias a Lisboa repletas de episódios, de regras e de normas. Apesar de tudo gostava. Ainda conservo em meu poder o primeiro missal que a avó ofereceu. Só há algum tempo me apercebi que era em língua francesa. Devia ser da sua mãe que era de origem francesa. Como os tempos mudam em todos os aspetos. A cidade está diferente. A educação também. Fui partilhando com a minha amiga estas memórias.

Entretanto, chegámos ao local da conferência de que ouso fazer um pequeno resumo que, de modo algum, reflete a riqueza da comunicação. O orador, Alexander Harvard, abordou questões sobre o desenvolvimento da personalidade pretendendo promover uma liderança virtuosa. Dou ênfase a uma frase do conferencista, mencionando François Michelin que referiu: “É preciso partir a pedra, para descobrir o diamante que está dentro”. Obter a grandeza, conduzindo à luz a grandeza dos outros, com uma visão elevada do ser humano, trazendo à superfície o seu talento. Certamente, todos nós teremos presente alguém que deu sentido à nossa vida, fazendo desabrochar o nosso potencial tendo como pano de fundo as quatro virtudes cardeais as quais constituem a base da nossa vida: a justiça, a fortaleza, a prudência e a temperança. O orador referiu ainda a magnanimidade e a humildade enquanto virtudes de grandeza e de serviço. Aristóteles escreveu: “Um homem magnânimo, é um homem que se considera digno de grandes coisas”. Saber sonhar, pensando em coisas boas e grandes, tentando tornar esses sonhos em ações concretas. Para isso importa, em primeiro lugar, conquistarmo-nos a nós próprios, termos uma visão concreta das nossas capacidades e defeitos, ou seja, o desafio de nos focarmos no nosso ponto negativo para o ultrapassar, o que exige uma vontade forte, um intelecto brilhante e um coração enorme, colocando sempre as pessoas em primeiro lugar. Uma pessoa magnânima tem sentido da sua dignidade pessoal. Não se importa com o que os outros dizem de si próprio. Constitui o prolongamento da contemplação da vida interior, saindo de si próprio. Alexander Harvard, que já editou alguns livros sobre os temas abordados, realçou ainda que cada um de nós tem de procurar conhecer o seu temperamento. Esse desafio trará grandeza à nossa vida. Importa, pois, sonhar connosco próprios de modo a contribuirmos para uma sociedade mais justa humana e solidária.

Fiquei feliz com a riqueza do tema da conferência. A formação é muito importante. O saber não ocupa lugar e enriquece-nos. Foi uma tarde excelente e em boa companhia. Deus permita que cada um coloque em prática os conhecimentos adquiridos.

Maria Helena Paes



Sem comentários:

Enviar um comentário