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domingo, 15 de julho de 2018

Um Mês Dedicado a Uma Criança

A vida tem destas coisas. Quando menos esperamos somos confrontados com uma situação inesperada que nos impele a acompanhar uma criança, neste caso por motivos familiares de saúde menos agradáveis. Por ironia do destino o mês em causa era precisamente o mês dedicado às crianças. Num primeiro momento confesso que me senti algo preocupada. Há muito tempo que não acompanhava com caráter de continuidade uma criança. Mas seria certamente uma descoberta para ambas, isto porque era uma menina. Comecei por procurar informar-me sobre atividades próprias para a sua idade, no sentido de a ocupar e distrair. Questionei igualmente o que gostaria de fazer. Ir ao cinema era um dos objetivos detetados. Também uma ida à Feira do Livro. Andar de elétrico. Brincar em diferentes jardins, ir a museus, para além das atividades escolares finais, festa de fim de ano, entre outros. A primeira prova foi a Feira do Livro. Fantástico mesmo. Esteve encantada e muito entretida com diferentes atividades ocupacionais, teatro, jogos, até algodão doce, que me fez recordar os meus tempos de infância… O difícil mesmo foi retirá-la da feira. Nem sequer um lanche a convencia. Finalmente, sorridente, com um saco cheio de livros, deixámos a Feira do Livro. Acabaria vencida pelo cansaço. O certo é que estou habituada a andar, e aspirava mesmo que a criança se sentisse feliz. Talvez para compensar um pouco o mau tempo que vivenciava. Como é bom ver uma criança sorridente, a descobrir o que o mundo tem para lhe oferecer… Os dias seguintes seriam ainda de aulas, logo a minha tarefa ficava mais facilitada. Unicamente levá-la e ir buscá-la. Havia que programar o fim-de-semana seguinte. Felizmente no sábado tinha o seu espetáculo final promovido pela Escola de Dança do Conservatório Nacional, onde frequentava o ballet. No Auditório Camões iria participar na peça “O Rapaz do Nariz Comprido” que nos ocuparia todo o dia. De manhã com os ensaios. À tarde participava em dois espetáculos. Admirei o enorme trabalho desenvolvido com as crianças com muito profissionalismo visível a diferentes níveis. Gostei da encenação, do guarda-roupa, do vídeo apresentado. Uma ternura ver a alegria e um certo nervosismo com que atuavam as crianças, cientes da importância do papel que desempenhavam e procurando cumpri-lo rigorosamente. E, se alguma falha havia, esta até dava graça à atuação. Como estava graciosa a criança que eu acompanhava vestida de tomate! Agora compreendia porque andava sempre a dar piruetas e a dançar. Já de noite e bem cansadas, regressámos a casa depois de um dia de muita responsabilidade mas em que tudo, graças a Deus, correu pelo melhor. O dia seguinte seria bem mais leve, passado num jardim, a colher várias espécies de flores coloridas, na brincadeira e na partilha, depois de um almoço em família. E os dias sucederam-se repletos de atividades… Conclui que era mesmo muito bom poder acompanhar uma criança, usufruir da sua doce companhia, uma descoberta fantástica. Possuímos muito, mas mesmo muito, para dar e também para receber!

Também senti muito apoio e solidariedade de outras pessoas que tendo conhecimento do problema de saúde de um familiar seu, procuravam também dar o seu contributo, quer seja através da oração, de uma palavra amiga, ou de um gesto simbólico que muito agradecia. Exemplo disso e que não quero deixar de enaltecer, foi no dia em que tinha uma atividade já programada há algum tempo e à qual que não podia faltar de todo, sendo que nesse dia a criança fazia anos, a família e os amigos apareceram de surpresa, com um bolo, com flores, com prendas… E assim, num ato revestido de alguma solenidade, quebrou-se o protocolo, humanizou-se a sessão, acenderam-se as velas e cantaram-se os parabéns. Foi uma autêntica festa, em que se tornaria o centro das atenções, tendo ficado para segundo plano a cerimónia e o protocolo. A seu tempo, far-se-ia outra sessão. Mas este momento era único, especial e solidário, ou seja, contribuir para que num momento mais difícil da vida de uma criança, ela pudesse continuar a sorrir e a sonhar com um futuro promissor, repleto de humanidade, sentindo-se apoiada e acarinhada por todos.

Santa Maria, esperança nossa, Rainha da Família, roga por todas as crianças do mundo e suas famílias acolhendo-as sob o teu manto.

Maria Helena Paes





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