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domingo, 22 de julho de 2018

Placuit Deo versus uma nova espiritualidade cultural


A Congregação para a Doutrina da Fé elaborou a Carta Placuit Deo (Aprouve a Deus), em Sessão Plenária no dia 24 de Janeiro de 2018.

O Papa Francisco aprovou-a em 16 de Fevereiro e ordenou a sua publicação, a qual teve lugar em Roma, na Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, no dia 22 de Fevereiro de 2018, Festa da Cátedra de São Pedro.

Esta Carta dirige-se aos Bispos da Igreja Católica e pretende destacar, na linha da grande tradição da fé e com especial referência aos ensinamentos do Papa Francisco, sobre alguns aspectos da salvação cristã que possam ser hoje difíceis de compreender por causa das recentes transformações culturais do mundo contemporâneo, a qual questiona a confissão de fé cristã, e proclama Jesus Cristo como o único Salvador de todo o homem e da humanidade inteira.

O Santo Padre no seu magistério ordinário, referiu-se muitas vezes a duas tendências que representam dois desvios, e que se assemelham em alguns aspectos, a duas antigas heresias: o pelagianismo e o gnosticismo, perigos perenes de equívocos da fé bíblica, que se encontram nalgumas tendências e movimentos, em que o homem, radicalmente autónomo, pretende salvar-se a si mesmo sem reconhecer que ele depende, no mais profundo do seu ser, de Deus e dos outros. A salvação é então confiada às forças do indivíduo ou a estruturas meramente humanas, num processo de auto divinização, um caminho de conhecimento no qual o sujeito se torna consciente do divino que age nele, apresentando uma salvação meramente interior, fechada no subjetivismo, rumo aos mistérios de outras divindades. Pretende-se, assim, libertar a pessoa do corpo e do mundo material, não os reconhecendo como obra do Criador, deixando o ser humano privado de significado, sem identidade humana e divina, manipulável segundo os interesses do homem.

Face a estas tendências ou heresias tão ao jeito duma pseudo-modernidade, a Placuid Deo reafirma que, a salvação consiste na nossa união com Cristo, que, com a sua Encarnação, Vida, Morte e Ressurreição, gerou uma nova ordem de relações com o Pai e entre os homens graças ao dom do seu Espírito, para que possamos unir-nos ao Pai como filhos no Filho, e formar um só corpo no «primogénito de muitos irmãos».

A Boa Nova da salvação tem um nome e um rosto: Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador. «No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo à Santidade».


Jesus não se limitou a mostrar-nos o caminho para Deus, isto é, um caminho que poderemos percorrer por nós mesmos, obedecendo às suas palavras e imitando o seu exemplo. Cristo, para nos conduzir à libertação, tornou-se Ele mesmo o caminho: «Eu sou o caminho».

Cristo é Salvador porque Ele assumiu a nossa humanidade integral e viveu em plenitude a vida humana, em comunhão com o Pai e com os irmãos. A salvação consiste em incorporar-se nesta vida de Cristo, recebendo o seu Espírito. Ele é, ao mesmo tempo, o Salvador e a Salvação, mas o lugar onde recebemos a salvação trazida por Jesus é a Igreja, comunidade daqueles que, tendo sido incorporados à nova ordem de relações por Ele criada, podem receber a plenitude do Espírito de Cristo.

A mediação salvífica da Igreja, assegura-nos que a salvação não consiste na auto-realização do indivíduo isolado e, muito menos, na sua fusão interior com o divino, mas na incorporação numa comunhão de pessoas, que participa na Igreja, recebe os sacramentos, e assim, purificados do pecado original e de todo pecado, são chamados a uma nova vida em comunhão com Cristo.


O Papa Francisco reintroduz este tema, no segundo capítulo da Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, reflectindo sobre o que ele define como ‘duas falsificações da santidade que poderão desviar-nos do caminho: o gnosticismo e o pelagianismo’”. Estas “propostas enganosas” representam um obstáculo ao chamamento universal à santidade, propondo antigos enganos - pelagiano ou gnóstico: ocultam ou anulam a necessidade da graça de Cristo, ou esvaziam a dinâmica real e gratuita de sua acção.


O Papa reitera pelo contrário, que a chamada universal à santidade é dirigida precisamente àqueles que reconhecem que, em cada passo da vida e da fé, a Graça é sempre necessária. «Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da Sua vontade, segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina».


Gustavo de Almeida


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