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quinta-feira, 5 de julho de 2018

O Encanto e a Doçura das Rugas

Há alguns dias em amena conversa com uma criança que me questionava em que consistiam as “linhas” no rosto de um idoso. Fiquei a meditar um pouco na resposta a dar. Veio-me ao pensamento referir-lhe que significavam os sinais dos anos a passar, ou seja, cada “linha” evidenciava uma história de vida, refletia um momento vivenciado: as alegrias, as tristezas, os sacrifícios, o trabalho, as preocupações e muito amor dado e recebido. Então, respondeu-me alegremente que uma pessoa idosa com muitas “linhas” possui muitas histórias para contar. É verdade, respondi-lhe. Podes sempre aproveitar os conhecimentos, as experiências, as histórias de vida, de alguém com mais idade, que já passou por muitas situações diferentes, ao longo da sua vida. Têm uma história de vida muito rica, que podem transmitir aos mais jovens, enquanto experiência vivida, através dos tempos, que engloba várias gerações. Por exemplo, as bisavós, os avós, os pais, os filhos, os netos… Dependendo da idade, face a uma esperança média de vida cada vez maior, podem ter acompanhado cinco gerações. Assistiram a vários nascimentos, batismos, casamentos, outros sacramentos, aniversários, viajaram…, ou seja, são os fiéis depositários das histórias de vida de uma família, com o encanto e a doçura das rugas, verdadeiramente acarinhados pelos seus membros. A criança perante esta explicação exclamou: “O que importa é ser bonito interiormente, ter um coração grande, com muito amor para dar e receber também. Eu gosto das ‘linhas’ dos mais velhos”.

E as rugas constituem ocasião para a narrativa deste artigo já que se aproxima a passos largos a 9ª Sessão de trabalho do “Open-ended Working Group on Ageing”, grupo que tem como objetivo fortalecer a proteção dos direitos humanos das pessoas idosas. Este grupo foi estabelecido pela Assembleia-geral das Nações Unidas, resolução 65/182 de Dezembro de 2010. O Grupo de trabalho analisa o quadro internacional existente dos direitos humanos das pessoas idosas e identifica possíveis lacunas bem como o melhor modo de as corrigir, inclusivamente, considerando como adequada a criação de instrumentos e medidas complementares. Esta Sessão, que terá lugar na sede das ONU em Nova Iorque, entre os dias 23 e 26 de Julho de 2018, em que serão discutidas medidas no sentido de fortalecer a promoção e a proteção dos direitos humanos e a dignidade das pessoas idosas: as melhores práticas, as lições que se aprenderam, possíveis contributos para a criação de um documento legal multilateral bem como a identificação de áreas e de questões onde uma maior proteção se torna necessária. Serão identificados três temas chave: Autonomia e Independência, Cuidados Paliativos e de Longa Duração.

Dos diferentes oradores, destaco a perita independente sobre os Direitos Humanos das Pessoas Idosas, Rosa Kornfelt-Matte, nomeada pelas Nações Unidas. Relativamente aos temas a abordar, a Help Age Internacional em documento redigido por Bridget Sleap aborda os seguintes tópicos, relativamente ao tema Autonomia e Independência: a falta de autonomia na velhice; a negação da autonomia às pessoas idosas; a perda de autonomia na velhice, o que significa a autonomia nas pessoas idosas; a autonomia e a independência versus os direitos humanos bem como as seguintes recomendações: o direito à autonomia e à independência; o direito a um reconhecimento igual perante a lei.

Relativamente aos Cuidados de Longa Duração abordará: os Cuidados e Apoios disponíveis para as pessoas idosas, entre os quais, as barreiras encontradas ao aceder aos cuidados e aos apoios, escolha e controle sobre os cuidados e apoios; cuidados de longo prazo nos direitos humanos; cuidados e apoios para se viver de forma independente bem como as recomendações sobre o direito aos cuidados e aos apoios para se viver de forma independente até que seja possível.

Sobre os Cuidados Paliativos refere-se aos cuidados paliativos disponíveis para pessoas idosas; barreiras encontradas no acesso às instituições que prestam os cuidados paliativos; cuidados paliativos nos direitos humanos; recomendações sobre o direito aos cuidados paliativos.

Espero ter despertado o interesse do leitor para esta nobre causa que interessa a todos nós, já que um dia também, se Deus quiser, seremos idosos, e gostaríamos que os mais novos sentissem “O Encanto e a Doçura das Rugas”.

Maria Helena Paes



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