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terça-feira, 15 de maio de 2018

Os Caminhos Tergiversados e Entrecruzados

Quantas vezes andamos à volta de um assunto que não se resolve, que parece, em simultâneo, entrecruzar-se com outros. Encontra-se pendente no nosso inconsciente. Não que não o saibamos, mas unicamente faltam-nos os mecanismos e uma vontade firme para o resolver e ultrapassar. E assim vai-se adiando, até que um dia temos forçosamente de o enfrentar sob pena de continuar a impedir-nos de prosseguir o nosso caminho rumo a um futuro que todos almejamos que nos traga paz e felicidade. Ou seja, como uma amiga alguma vez referiu, temos de ser reforçados, quando por qualquer motivo, que nos é alheio, não possuímos, conforme gostaríamos o dom da fortaleza para esse caso específico. A dificuldade, muitas vezes, está em sermos capazes de dar esse passo em frente, ou seja, de pedirmos essa ajuda ou aconselhamento de que carecemos de momento, que sentimos que nos impede de encontrar a almejada paz.

Recentemente, tive a oportunidade de assistir a uma conferência sobre a vida de um Santo ministrada por um historiador. Como foi extremamente gratificante assistir ao seu percurso, ou seja, ao seu processo de crescimento espiritual, às suas dúvidas, ao desenvolvimento de uma instituição da Igreja Católica, cuja missão consiste em difundir a mensagem de que o trabalho e as circunstâncias habituais podem ser ocasião para um encontro com Deus, para o serviço aos outros e para melhorar a sociedade. A sua persistência e vontade inabalável, constituem um exemplo, de quem acredita que está a fazer a vontade de Deus, comparando-se a um pobre passarinho de voo curto. Uma águia arrebatou-o; e entre as suas garras poderosas, o passarinho sobe, sobe muito alto, por cima das montanhas da terra e dos picos de neve, por cima das nuvens brancas, azuis e rosas, mais acima ainda, até olhar de frente ao sol… E então a águia soltando o passarinho, diz-lhe: “Anda, voa”! (Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei). Em poucas palavras foi descrita a vida de um grande santo (S. Josemaria) cujo itinerário de crescimento interior é por um lado fonte de amor e via crucis de sofrimento, para uma progressiva identificação com Cristo. A sua santidade é patente e ergue-se, de modo impressionante, à nossa vista. Como refere o versículo dos Gálatas 2,20 “assim, já não sou eu que vivo mas é Cristo que vive em mim”.

E os milagres acontecem… De repente, quando menos esperamos, faz-se um clique e por qualquer razão, tudo se torna mais claro. Como foi possível não termos visto antes o que Deus tinha reservado para nós, desde a plenitude dos tempos. Quantas vezes, teremos pronunciado a frase “Ut videam”, (Senhor, que veja), ou seja, o que Deus quer para mim? Que me faça compreender, qual o meu caminho na vida. Sempre com a esperança de perceber que o que nos inquietava não era então por nós entendido. Quando percebemos a mensagem, somos invadidos por uma alegria enorme. Como estava tudo tão claro agora. Chegou o momento, de rirmo-nos de nós próprios, da nossa infantilidade. Disse Santa Teresa Benedita da Cruz: “Quanto mais escuridão se faz ao nosso redor, mais devemos abrir o nosso coração à luz que vem do alto”.

A par da fé, somos agora possuidores de uma esperança e de um otimismo sobrenatural, para colocar todos os meios necessários ao nosso alcance no sentido de fazer com que se cumpra a vontade de Deus. Contamos com a oração de inúmeras pessoas que nos ajudam, ou seja, a Comunhão dos Santos. Como uma amiga costuma referir: “O passado está no passado, pisado”! Eu acrescentaria: “Nesta estrada longa e sinuosa, coberta de flores, de pedras e de agraços, caminhando sempre sobre o tapete da incerteza, há uma porta bem estreita, por onde se torna difícil passar. O melhor é estarmos preparados com os sacramentos que Deus colocou à nossa disposição como canais da graça do mesmo Deus.

Acontece ainda que possuímos uma grande intercessora no Céu, a Virgem Maria, qual candeia de azeite reluzente que ilumina e guia os seus filhos, durante este nosso peregrinar na terra. Como gostaria, minha mãe do Céu, de ser mais um botão de rosa perfumado, depositado a teus pés, louvando-te, querendo seguir o teu exemplo, que refere: ”Maria, guardava tudo no seu coração”. Gostava ainda de ser como uma vela que arde, que se desgasta no serviço aos outros. Como se fosse uma “burrinha” que carrega os fardos, os sacrifícios, os desgostos, os muitos pesos da vida, com alegria, ligeireza, bom humor, em prol do bem-estar dos nossos irmãos, sempre com os olhos colocados na eternidade.

E há muitos e bons exemplos por esse mundo fora de pessoas que se entregam completamente a fazer o bem. Tenho por madrinha do Sacramento do Crisma, uma Irmã Franciscana, a quem muito devo. Graças aos seus ensinamentos, à sua doçura, à sua amizade, de alguém cuja vida foi totalmente consagrada a Deus, aprendi a ter uma enorme admiração, por quem se decide abraçar a fé, dedicando-se aos outros através de inúmeras obras sociais de bem-fazer, bem como dedicadas à oração. Que olhar tão transparente, tão afetuoso, vendo unicamente o bem no próximo. Sentia mesmo que gostava que a fosse visitar, dizendo carinhosamente quando me via: “Quando se gosta de alguém, gosta-se mesmo”! Nunca me senti tão bem-vinda e acolhida!

Este episódio trouxe ao pensamento uma outra situação vivenciada em que me encontrava em risco de perder a vida, há muitos anos atrás. Precisava com urgência de várias transfusões de sangue. Só que o meu tipo de sangue é raro, o que dificultava a situação. Mas apareceu um doador, que com grande altruísmo, me facultou o sangue necessário. Nunca vi a pessoa em questão, nem sei quem é. Soube unicamente mais tarde que o doador tinha sido um sacerdote franciscano. E mais não soube até aos dias de hoje. Mas fica aqui expresso o meu agradecimento. Há tantos modos de ajudar alguém sem pedir nada em troca!

Concluo com uma bonita frase de Santa Madre Teresa de Calcutá: “Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz”.



Maria Helena Paes








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