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terça-feira, 15 de maio de 2018

A eutanásia seria justificada?

No próximo dia 29 teremos a votação da lei da eutanásia.  A propósito, recordei um livro -“O Homem em busca de um sentido”- escrito 1945 por um médico conceituado-Viktor Frankl- sobrevivente de 4 campos de extermínio nazi. É um fortíssimo tratado sobre o sentido da vida.  Com a autoridade que a experiência confere, o Dr. Frankl leva-nos à raiz do sofrimento, da morte e da vida. Para quem hoje se questiona sobre a eutanásia, o alerta deixado neste livro é devastador. “Se um paciente não fosse claramente mais do que uma máquina que não pode ser reparada, a eutanásia seria justificada”. E continua “um doente incurável pode perder a utilidade mas retém, ainda assim, a dignidade de um ser humano. Se uma pessoa não for sabedora desta diferença e mantiver que o valor de um indivíduo resulta somente da sua atual utilidade, então, podem acreditar, apenas a incongruência pessoal a levará a não defender um regime de eutanásia semelhante ao de Hitler, ou seja, um programa de mortes «piedosas» de todos quantos perderam a utilidade social, seja por causa da idade avançada, de doenças incuráveis, de deterioração mental, ou de qualquer outra incapacidade.”

Passaram sete décadas, encontramo-nos em circunstâncias diferentes, e “um programa de mortes «piedosas»” está em vias de se tornar lei. E que semelhanças! “Havia um padrão de comportamento [dos prisioneiros] ao qual se referiam como «desistite». O sentido da vida tinha-se desvanecido. Uma regra estrita do campo proibia quaisquer esforços para salvar um homem que tentasse o suicídio”. Hoje, a lei em votação ainda não proíbe o esforço para ajudar a viver, mas, na prática, dificulta-o já que a força da lei aplaude a “ajuda a morrer”, mostra que é aceitável matar, ou mais docemente, eutanasiar um paciente incurável já que não é “claramente mais do que uma máquina que não pode ser reparada”.

Para o Dr. Frankl, “sofrer sem necessidade é masoquista. Se o sofrimento for evitável, é necessário remover a sua causa, seja ela psicológica, biológica ou política. Mas, o sentido da vida é possível até mesmo a despeito do sofrimento”. Hoje, ninguém ignora a eficácia dos cuidados paliativos. A opção pela eutanásia justifica-se? não! mas escasseiam as “pessoas decentes” capazes de encarar o ser humano “não como alguém em busca do bem-estar, mas antes à procura de uma razão para ficar feliz.” e que estejam dispostas a lutar por valores, e cuidar cada um.

Ler “O Homem em busca de um sentido” devolve-nos a esperança: “existem pessoas decentes. É certo que estas constituem uma minoria. E, contudo, encaro esse facto como um desafio a engrossar a minoria. Pois o mundo está em muito mau estado, mas tudo se tornará ainda pior se cada um de nós não der o seu melhor. Por isso, estejamos atentos - e atentos num duplo sentido: desde Auschwitz sabemos do que o Homem é capaz. E desde Hiroshima sabemos o que está em jogo.”

Já lhe chamaram uma “verdadeira onda de morte”. Uma sociedade que perde a noção do valor do ser humano será inevitavelmente guiada pelos únicos valores de ideologias meramente materialistas – chamem-se elas de esquerda ou direita - e “tudo se tornará ainda pior se cada um de nós não der o seu melhor”.

Rosa Ventura





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