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quinta-feira, 15 de março de 2018

A Vida Constitui-se Atravessando Toda uma Série de Barreiras

Porque acredito sempre nos outros, na sua bondade, na sua capacidade de amar e de perdoar. Quantas vezes terei saído defraudada, e ainda assim não consigo modificar-me. Alguém, uma vez, terá dito: “não deixe que mudem a sua personalidade”. Bem, os contratempos e as barreiras são para serem ultrapassados. A vida tem destas coisas quando pensamos que temos a vida organizada surgem os imprevistos. Nesta altura, parece que tudo se desmorona à nossa volta. Como S. Tomás Moro disse: “Seja o que for que aconteça neste mundo é porque Deus quer e temos de o aceitar”. Que grande ensinamento, que fé enorme, que aceitação infinita da sua vontade. Como gostaria de possuir esta fortaleza. Contudo, hoje consegui ultrapassar uma barreira que me perseguia há algum tempo. Tive de ir buscar força ao mais redondito do meu ser. Pensei inclusivamente que nos encontrávamos na Quaresma, e que seria um esforço que muito agradaria a Jesus. Valeu mesmo muito a pena quando consegui concretizar o meu objetivo que, diga-se de passagem, não era tão difícil assim. Ocorreu-me que miríades de anjos se tinham regozijado, e que me acompanhavam com os seus cânticos. E sobretudo consegui obter uma enorme paz interior e exterior.

Quando possuímos o dom de nos ligarmos ao próximo, não ficamos isolados na nossa dor e individualismo. Aprendemos a procurar a ajuda que carecemos, a nossa personalidade sai fortalecida, ligando-nos aos outros, a novas oportunidades que poderão nunca existir se nos isolarmos. Ou seja, os contactos constituem a chave do crescimento para ultrapassarmos os constrangimentos que possam eventualmente existir. Como Helen Keller comentou: “Sozinhos pouco podemos fazer, juntos fazemos muito”.

Frequentemente veem ao nosso pensamento situações despertadas por um motivo qualquer. Passo a explicar. Hoje de manhã procurava um alfinete para segurar um lenço. Deparei-me com uma rosa feita de veludo. Em homenagem ao casal inglês que ma ofereceu usei-a hoje. Tem uma história… Uma luta enorme em defesa dos mais desfavorecidos, a criação de laços e redes a nível internacional sempre com o pensamento de que todos juntos possuímos mais força. Cada ano, reuníamo-nos num país diferente, para debatermos os avanços e recuos e aferir as novas realidades, metodologias e necessidades. Eram reuniões longas e envolventes, e exigiam esforço a diferentes níveis. Importa referir que o marido do casal inglês era muito doente, movimentando-se unicamente em cadeira de rodas, mas punha muito amor em tudo o que fazia, sendo sempre acompanhado pela mulher. Como surge a oferta da rosa vermelha em veludo? Um dia, pediram-me para organizar uma dessas reuniões em Lisboa, o que fiz com o maior gosto. Deu muito trabalho, mas a recompensa ainda foi maior, já que correu tudo muito bem. No final, antes de partirem, ofereceram-me a rosa vermelha. Voltei a ver este casal na reunião seguinte, em Espanha. Depois, recebi a notícia do falecimento do marido. Passou a vida a fazer o bem, a lutar em prol dos outros. Que descanse agora em paz. Contribuiu e muito para o bem da sociedade. Sinto algum grau de nostalgia da sua presença, com pena de não ter aprofundado mais a sua história, as suas motivações. Ficou a imagem de alguém com um ar muito humano e mobilizador, com um olhar profundo que parecia ler-nos a alma, adivinhar os nossos pensamentos, sempre com espírito de entreajuda. Ainda bem que existem pessoas bondosas, que se entregam a nobres causas, deixando dentro de nós um rasto bom e duradouro, visando o bem e recriando a esperança no futuro da humanidade. As boas obras veem de Deus, residem nos corações. Deixou igualmente o exemplo de que, quando várias pessoas se aglutinam em prol de uma causa nobre, através do desenvolvimento de sinergias, há continuidade nos seus projetos, se bem que se depare às vezes com enormes desafios e obstáculos. Recordo uma frase que alguém me disse, há muitos anos atrás, precisamente quando tentava iniciar um projeto: ”Nós estamos contigo. Quando te sentires cansada nós apoiamos-te, terás sempre um ombro amigo”.

Na sua Mensagem para a presente Quaresma o Papa Francisco requer a verdade da nossa relação com Deus, que nos acalenta a relação com todos… É particularmente mobilizadora esta frase: “Cada esmola é uma ocasião de tomar parte na Providência de Deus para com os seus filhos”. Retenhamo-la com atenção pois, ficando sós, apenas somaríamos queixas. Se partirmos de Deus, seremos com Ele a resposta ao mundo. E ficaremos admirados… Experimentaremos o poder de Deus que não desiste do mundo… “Se hoje Ele se serve de mim para ajudar um irmão, como não deixará amanhã de prover também às minhas necessidades, Ele que nunca se deixa vencer em generosidade?”

Termino como comecei: A vida constitui-se atravessando toda uma série de barreiras e de desafios que giram em torno da fé, do amor e da esperança em levar os nossos objetivos a bom porto com a ajuda de Maria Santíssima, que nunca se ouviu dizer, que algum daqueles que recorreram à sua proteção e reclamado o seu apoio, tivesse sido por Ela abandonado.

Maria Helena Paes



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