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quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Copos e vestidos

Nesta primeira semana de janeiro, chamaram-nos a atenção dois acontecimentos marcantes nos tempos que correm: os copos de plástico abandonados pelas ruas e os vestidos negros usados na distribuição dos “Globos de Ouro”.

Os copos estão a tornar-se perigosos, além de serem desagradáveis à vista, como o é toda a espécie de lixo. Eles são a manifestação da falta de civismo de uma população que não se preocupa com o bem-estar dos outros. Os grupos ecologistas alertam-nos porque o vento arrasta os copos para os rios e oceanos. Aí, vão-se partindo em pequenos pedaços e são ingeridos por peixes que, por sua vez, servem de alimento a outros animais e a nós, pessoas. Existe um risco ecológico para o nosso planeta, mas o problema é bem mais profundo. Estamos acostumados a falar de ecologia referindo-nos apenas ao ambiente: o ar que respiramos, a meteorologia, a poluição, a sobrevivência de espécies animais, etc., mas esquecemo-nos da “ecologia humana”, isto é, de defender o “habitat” natural do Homem, ou seja, a família, essa escola de atenção aos outros, de disciplina razoável, de estímulo à inteligência, de sentido de responsabilidade, à consciencialização da dignidade própria que leva à execução de tarefas que começam por ser familiares e se vão tornando comunitárias, patrióticas, sociais...

Neste momento, ao abordarmos o tema das tarefas sociais, surge o exemplo dos vestidos pretos  como manifestação de repúdio pelo assédio a que as mulheres estão sujeitas em alguns ambientes de trabalho. Porém, se a cor negra dos vestidos pedia comportamentos respeitosos dos homens para com as mulheres, o “corte” (excessivos “cortes”) em alguns vestidos não manifestava qualquer respeito para com os homens. O respeito mútuo, isto é, a compreensão efetiva e afetiva para com as pessoas, é uma das necessidades primordiais para um saudável “habitat humano”. Este “habitat” está longe de ser apenas instintivo; num “habitat” humano a inteligência e a vontade devem estar sempre presentes. Estas qualidades - a inteligência e a vontade - aprendem-se, desenvolvem-se e treinam-se em família de modo saudável e natural. O convívio entre gerações (várias idades), entre irmãos (meninos e meninas), entre diversos modos de pensar (tios, primos, amigos), entre vários ambientes - citadinos, rurais, estrangeiros (se há emigrantes na família que convidam para férias) facilita o desenvolvimento de uma afetividade sã. A noção de disciplina - horários para estudo, para refeições...; a consciência da necessidade de  comportamentos familiares adequados – não pôr os pés em cima dos móveis, deixar as coisas arrumadas e limpas, pedir licença, agradecer, pedir desculpa, falar com delicadeza de palavras e modos... contribuem para o renascimento de uma cidadania agradável e responsável.

Notamos que copos e vestidos têm, também eles, este traço comum: devem ser usados com o sentido de atenção aos outros que devemos aprender no “habitat familiar” para melhor servir todo o “habitat natural” dos seres viventes: plantas, animais, pessoas. E, acima de tudo, para servir Aquele que tudo criou.

Isabel Vasco Costa



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