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domingo, 3 de dezembro de 2017

“Veracidade”, um valor incomensurável!

Olhando, com olhos de ver, para o ambiente circundante, deparamos com a existência de condutas retilíneas, homens de trabalho, muito hábeis: malabaristas, carpinteiros, artesãos, desportistas, músicos, etc. Têm todos em comum o serem capazes de realizar facilmente e com perfeição ações que, para nós, seriam impossíveis ou, pelo menos, difíceis.

Ao lado destes, surgem, por vezes, condutas complexas, opacas, mais ou menos duvidosas que, caminhando pela vida em zig – zag, vão projetando sombras e falta de transparência…

Sabemos que a chave do crescimento interior do homem, em geral, se baseia numa peculiaridade do seu espírito: todos os atos voluntários deixam marca; o homem aprende a agir à medida que atua. Isto aprecia-se muito claramente a nível elementar, na capacidade de adquirir técnicas, destrezas e hábitos…

Tanto o bem como o mal agir, criam costumes e inclinações no espírito, hábitos de atuar. Aos bons chamamos virtudes, e aos maus, vícios.

Os hábitos bons – as virtudes – conseguem que se vá estabelecendo o predomínio da inteligência e da vontade na vida do espírito. Os vícios, ao contrário, dispersam as forças do homem e, praticamente, as anulam.

Mas com esforço, repetindo atos que custam um pouco, iremos conseguindo o domínio necessário sobre nós mesmos. Os hábitos positivos vão estendendo a ordem da razão e o domínio da vontade a todo o âmbito do agir.

Assim, a veracidade, por exemplo, consiste na prática e no amor à verdade. Designa a verdade nas palavras, a conformidade destas e de todos os gestos equivalentes, com o pensamento, com a convicção interior.

A veracidade inclina a manifestar fielmente a verdade interiormente conhecida e a exteriorizar com palavras e obras a própria convicção sobre uma coisa.

Tem uma dupla inspiração, religiosa e social, e foi sempre inculcada a todos os homens de maneira universal (Lev 19.11); (Prov. 6 17-19…). E a mentira é estigmatizada conforme ( Gén 12, 10-20; 20.1-18) e outros similares, que constituem, simultaneamente, uma manifestação e testemunho de uma consciência oscilante diante das exigências da veracidade e as complexidades da sua aplicação na vida diária.

O N. T. apresenta-nos Jesus Cristo como a plena realização da verdade divina, a própria Verdade, o reto Caminho!

A veracidade, pura e simples, sem necessidade de recorrer a juramento, deve caraterizar a palavra do cristão, do discípulo deste Mestre: “ seja a vossa palavra: sim, sim; não, não; tudo o que ultrapassa isto, procede do mal” (Mt 5.37).

Tal comportamento, que exclui toda a mentira, define o “ homem novo “ criado à semelhança de Deus, assim como a solidariedade que convém aos membros de um mesmo corpo: “ renunciando à mentira fale verdade cada um com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros “ (Efes. 4.25).

Os filósofos gregos consideram o problema da veracidade na integralidade dos seus elementos. Por um lado, afirmam o caráter imperativo da verdade nas relações humanas, particularmente no plano da justiça, sobretudo quando apresenta certas vantagens no plano social.

Aristóteles, distingue a veracidade com mais nitidez, afirmando que o homem “verídico” profere a verdade, não apenas para evitar algum prejuízo a outrem, ou pelo respeito aos seus direitos mas, sobretudo, por amor à verdade, em virtude da honestidade, da beleza moral que se une sempre a esta virtude. 

Em (Sum. Th. 109) aparecem desenvolvidos e definidos os dados aristotélicos:  a veracidade, como a virtude que leva a dizer sempre a verdade e a manifestarmo-nos exteriormente com palavras e atos tal como somos. Considera a veracidade como parte potencial da justiça, isto é, encerra elementos comuns com a justiça, como o seu caráter de obrigatoriedade nas relações com os outros.

A Veracidade nos meios de comunicação social 
O desempenho de qualquer tarefa humana, supõe uma atitude de verdade, mas os meios de comunicação social, têm o dever primordial de serem testemunhos da verdade, especialmente os jornalistas.

O Magistério da Igreja tem-se ocupado repetidas vezes da moral do jornalista, concretamente, através de um documento do Concílio Vaticano II, “inter mirifica” em que se lê: “O reto exercício do direito de informação exige que esta seja sempre verdadeira e, salvos a justiça e a caridade, íntegra. A falta de veracidade que se manifesta na mentira ou na hipocrisia, revela uma discórdia interior, uma fratura da própria personalidade humana.

Ao contrário, o mais belo elogio que se pode fazer de alguém: - “nele ou nela, não há duplicidade; é verdadeiro, íntegro, de uma só peça”!

Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino Secundário



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