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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Os Diferentes Natais da Nossa Vida


A vida flui atravessando bons e menos bons momentos. Uns anos melhores, outros piores. E assim acontece também com os Natais da nossa vida. Alguns anos, com muita alegria, muita emoção, muito amor, espírito natalício e sobrenatural, onde tudo parece contribuir para uma excelente consoada em família. Tudo encaixa de um modo magnífico, todos estão alegres e de algum modo, contribuem com algum pormenor, de modo a que esse momento único em família, seja recordado com muito amor para sempre. As pequenas contrariedades e discórdias da vida são colocadas de lado. É altura de tréguas e de paz, fazendo jus ao que o anjo proclamou: “Paz na Terra aos homens de boa vontade”. E todos nós recordamos os diferentes Natais da nossa vida, vivenciados em diferentes momentos e ciclos de vida.

Ontem fui almoçar com a minha neta. A certa altura, com os seus seis anos, começou a mostrar, desenhando num papel, o que já tinha aprendido este ano na escola. Felicitei-a pelos seus enormes progressos. Lembrei-me de a questionar sobre o que pensava do Natal que se aproxima a passos largos, tendo-me respondido com muito entusiasmo e a uma grande velocidade, da seguinte forma, contente com a pergunta: “O Natal é sobre Jesus. Porque a estrela indicou o caminho aos três Reis Magos, que deram presentes a Jesus, que recebeu os presentes, e assim aconteceu o Natal para sempre. Jesus morreu para nós termos as nossas escolas, as nossas casas e a nossa bondade. E Jesus ajuda as pessoas, mesmo que tenham feito mal, Jesus está sempre lá. E o Jesus ajuda para sempre. Está presente a proteger-nos quando é preciso. Sempre que rezamos, Jesus fala connosco. O Jesus fica connosco para sempre até morrermos. Jesus é nosso amigo para sempre”. Feliz, disse-me para guardar o artigo, já agora, para sempre. Que bom é ser criança, tendo uma perspetiva tão positiva do mundo. Ainda bem que tem fé. Apesar de mencionar os presentes dos Reis Magos, enfatizou frequentemente que Jesus se encontra presente através da oração, perdoando sempre. Numa linguagem adequada à sua idade, referiu com simplicidade, verdades importantes.

A minha amiga Manuela de longa data com os seus 98 anos ouvia-a encantada. O Alfa e o Ómega, pensei interiormente. Como seria que os dois polos extremos se iriam entrecruzar nesta minha questão? Sorriu feliz. Gosta muito da minha neta, que também nutre por ela o mesmo sentimento, chamando-a “vovó Nela”. Ela referiu: “Penso o mesmo que o ano passado. Hoje em dia é muito comercial. Mas também uma ocasião para juntar as famílias”. E mais não disse, não porque não tivesse capacidade, mas porque a minha neta a abraçava. As duas queriam ir-se embora, gozar o resto da tarde. Depois, seria a altura de regressar à Residência, que era agora a sua casa, como ela referia, já devidamente integrada. Confidenciou-me que ao lanche teria castanhas assadas, uma vez que era o dia de S. Martinho.

E a vida continua… Recordo um Natal vivenciado na Áustria. Depois de uma ‘partida’ do destino, senti que nesse ano me deveria ausentar com os meus filhos na época de Natal, aproveitando as suas férias. Às vezes é preciso conceder alguma distância aos acontecimentos, de modo a podermos, de algum modo, respirar e avaliarmos as situações sem nos precipitarmos. E assim foi. Ainda bem que o fiz, pois estava tudo tão bonito, nessa época natalícia, que nos aquecia o coração. Jesus parecia, de algum modo, querer proteger-nos, tendo colocado uma família grega (mãe, filha e neta) ao nosso lado, que pelas mesmas circunstâncias, tinham igualmente decidido passar o Natal fora. As crianças juntaram-se com alegria, com afeto. Nós, as três mulheres, conversámos solidariamente, longamente, muito reconhecidas a Deus por nos ter juntado, nesta consoada algo invulgar. Tínhamo-nos conhecido num “tour”, feito pela cidade. De imediato, houve uma aproximação e uma empatia comum, graças ao contributo das crianças. Por coincidência, encontrávamo-nos alojadas em hotéis situados, um ao lado do outro, facilitando o reencontro. Deus é grande e como disse a minha neta, protege-nos sempre. Aquela família tão doce e carinhosa que parecia recordar anjos na terra, acompanharam-nos durante o resto da estadia, tornando-se, naqueles momentos, na nossa “família alargada”, transformando um momento menos bom na vida de cada uma, num momento feliz, alegre e afetuoso. Foi excelente de parte a parte.

O que quis de algum modo transmitir com o relato deste episódio, é que também existem pessoas por esse mundo fora, em diferentes contextos e cenários que, de algum modo, por muitos e diferentes motivos, sejam eles profissionais, de migração, de guerra, de doença, de solidão, refugiados, muitas vezes em condições sub-humanas, que são forçadas a passar o Natal separadas da família, ou mesmo, os que não têm família, a quem Deus, dá as forças, as graças necessárias para ultrapassarem esses momentos mais difíceis. Jesus está sempre connosco, como referiu a minha neta.

O amor a Deus e ao próximo, temos de ser nós a desenvolvê-lo. Não se pode fazer através do download de um qualquer programa da internet. Estar com Jesus não constitui de todo uma perda de tempo. Há sempre tempo para tudo, se houver ordem na nossa vida. Não queremos que, não por falta de misericórdia divina, mas sim de tempo para pedir a misericórdia a um Deus que tudo perdoa, não alcancemos um dia o Céu. Às vezes somos confrontados com uma insatisfação que nos rói por dentro pedindo para fazermos mais. Um minuto que seja desperdiçado em prol do bem-estar da família e dos outros torna-se num sentimento de vazio, de um horário mal aproveitado. S. Josemaria dizia: “Um cristão não pode ser preguiçoso”.

Aproxima-se a passos largos o Natal. Quando damos tudo, recebemos tudo. Cada ser humano é tão diferente e único! Cada um seguirá o seu próprio caminho. “Segura na mão de Deus, pois ela te sustentará. Não temas, segue adiante, Jesus prometeu que jamais te deixará”. Cada um, interiormente, é que saberá como poder contribuir para tornar o próximo mais feliz. Mas também pode ser o próprio que precisa de ajuda e de afeto. Todos somos humanos, e é na partilha no dar e receber que se encontra a virtude. Quando nos sentimos fortes podemos sempre dar a nossa mão e ajudar o próximo. Todos têm a sua sabedoria, o seu conhecimento e experiência da vida que pode ser útil ao outro e que também se torna recíproco, ou seja, enquanto estou a dar, também estou a receber mil vezes mais por sentir que estou a fazer o bem. 

Jesus nasce pobre, ensinando-nos que a felicidade não se encontra na abundância de bens. Veio ao mundo sem ostentação, ensinando-nos a ser humildes para que possamos corresponder ao seu amor com o nosso amor. A presença do Menino Jesus constitui o amor no meio dos homens. E muitas vezes é de Amor que o ser humano anda necessitado, mesmo aqueles que não O procuram. Olhemos para a Virgem Maria, repleta de alegria, por saber que tinha começado para a humanidade uma nova época. A de Jesus, seu Filho. Rogai por todos nós, Santa Mãe de Deus, Rainha da Família.

Maria Helena Paes







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