Páginas

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O Menino Órfão


Tinha oito anos e não era muito grande para a sua idade, cabelos castanhos e uns grandes olhos escuros. Vivia num orfanato desde que a mãe falecera pois o pai tinha partido quando tinha apenas três anos. Apesar da pobreza em que viviam, tinha saudades da sua casa e uma falta imensa da sua mãe, das suas carícias, da sua ternura…Era o primeiro Natal que iria passar no orfanato e apesar da sua tristeza oferecera-se logo para ir apanhar o musgo para o presépio, quando o director pediu voluntários para o fazer. Ele sempre tinha feito o presépio na sua casa ajudado pela mãe. Não tinham muitas imagens mas as fundamentais – o Menino, Nossa Senhora, S José, a vaca, o burrinho e até dois pastores com uma ovelhinha. Como se tratava de um pastor e duma pastora, a mãe costumava dizer que a representava e ao marido, a entregarem a Deus que nascia tudo o que tinham, a sua fortuna, que era aquela ovelha. A mãe ensinara-o a rezar, ou seja falar com Jesus, com a Sua Mãe, que é também nossa Mãe, com S José ou com os santos da nossa devoção. De verdade ele passava os dias a pedir ao Céu que lhe desse uma família como a que já tivera.

Tinha-se metido no bosque e na sua distracção nem deu conta que a tarde se sumia e começava a anoitecer. Cheio de medo sentiu que se tinha perdido e desatou a correr na direcção que lhe parecia ter levado até ali. Andou, andou, e já noite escura, exausto cheio de frio e de fome sentou-se numa pedra e desatou a chorar. Ele não imaginava era que no Céu tinha uma santa que o protegia – a sua própria mãe. 

O senhor Francisco tinha ido buscar lenha e pareceu-lhe ouvir uns gemidos ou alguém a chorar. Voltou a casa a buscar uma lanterna, foi em direcção do bosque, para lá do muro da propriedade e qual não é o seu espanto quando viu aquele vulto pequenito, todo enroladinho, a soluçar. Pegou-lhe pela mão e levou-o para casa; a sua mulher que se chamava Maria deu-lhe logo um banho quente e uma sopa forte para a criança não adoecer com o frio que tinha apanhado. Ouviram do miúdo o que tinha acontecido embora já o imaginasse pois o senhor Francisco era guarda da propriedade que pertencia ao orfanato e ali não havia mais crianças, pois para seu grande desgosto não tinham filhos. Ele até se perguntava se não seria aquele menino o presente de Natal que tanto pediam a Nossa Senhora.

 Não foi difícil conseguirem a guarda do miúdo, que iriam adoptar, pois eram muito boas pessoas e tinham possibilidade de o sustentar; o garoto que se chamava João teve a felicidade de ter ganho uma família que também muito desejava. Este primeiro Natal, depois de ter ficado sem a sua mãe, seria muito mais feliz para o João e era no seu novo lar, que afinal iria fazer o presépio.

Maria Teresa Conceição
professora aposentada



Sem comentários:

Enviar um comentário