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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O Céu na Terra


Foi a frase que uma amiga proferiu e que muito me sensibilizou. Pensei que seria um excelente título para um artigo. De qualquer modo trouxe-me ao pensamento que o Natal se aproxima e com a sua chegada parece que tudo acaba por ser mais colorido, pelas decorações natalícias e, principalmente, por uma maior solidariedade, pela reaproximação das famílias que se juntam na consoada e, depois, à volta do presépio celebrando o nascimento de Jesus. Quando existe amor, fazem-se coisas espantosas que parecem impossíveis, em particular neste ano recheado de acontecimentos mais complicados: refiro-me aos diferentes incêndios que ocorreram em Portugal. Difícil é dizer a quem sofreu tantas perdas, como manter a fé e a esperança. Ou seja, quanto se carece nesses momentos de um abraço amigo, de afeto, de apoio, ao ficar nos primeiros tempos à mercê da caridade!

E o tempo impiedoso continua a decorrer. Pede-se que chova. Todos rezámos por essa intenção num país com uma seca extrema. E as primeiras chuvas chegaram, como se fossem os santos no céu, a chorarem, talvez por terem partido precocemente e também confrontados com o sofrimento existente na Terra. Enviam-nos a chuva, pedindo que não os esqueçam.

Há alguns dias ouvi uma amiga referir que as virtudes humanas constituem como que o esqueleto que suporta o corpo. A virtude, palavra com origem no latim, significa força. Torna-se, pois, necessário lutar até ao fim, pegar nas rédeas, com os diferentes dotes que Deus nos deu para ultrapassar os momentos mais difíceis, já que as dificuldades nos podem ajudar a crescer. Mas também é necessário manter a serenidade, no sentido de evitar o caos, priorizando as medidas que se tornam necessárias levar em frente, tendo presente a frase que S. Josemaria referiu:” Faz o que deves e está no que fazes”. Chegou a altura de colocarmos metas altas, arregaçar as mangas, com uma disposição firme de fazer o bem, com atos concretos, com um tom positivo e otimista, recordando: “Omnia in bonum”. (Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus). Temos acompanhado alguns milagres que vão acontecendo todos os dias. A força que muitas destas pessoas foram buscar ao seu coração para levarem a vida em frente apesar de todos os constrangimentos que vivenciaram. Do nada, com muita vontade e pequenos apoios, começam de novo a erguer-se dando testemunhos maravilhosos de uma enorme solidariedade, espírito de ajuda e desejo de ultrapassar todas as vicissitudes sofridas. Dizia um empresário que três dias depois do incêndio estava já a laborar. Tinha alugado um armazém e procurava, em muito menor escala, manter a atividade, com a esperança de que, a curto prazo, já conseguisse reunir condições para que os outros trabalhadores pudessem regressar e assim cumprir os contratos pré-estabelecidos. Um verdadeiro exemplo de luta e de vontade de vencer.

O Papa Francisco referiu que a família humana tem o dever de ajudar cada pessoa a livrar-se da pobreza e da fome. Perante o ecrã da televisão, em silêncio, com muito respeito por todos estes nossos irmãos, sinto-me muito pequena, face a estes depoimentos, que de algum modo, atestam uma enorme fé, uma vontade de vencer a partir do zero, com muita dignidade e espírito empreendedor. 

E, um dia, Deus premiará os esforços dos que foram atingidos. A dor, o desgosto, esses poderão permanecer, mas vão ficando amortecidos com o decorrer do tempo, também graças apoios obtidos, neste caminhar, enquanto peregrinos, sob o tapete da incerteza, que o viver a vida acarreta. Sobretudo, importa que não sintam a solidão, que tenham sempre alguém que lhes dê afeto, um abraço amigo, que os apoie e reconforte. 

Ainda assim, o tempo continuará a decorrer. O tempo de Natal aproxima-se. Como desejar a estas pessoas, a todos os que sofrem: “Feliz Natal”? Só recordando a Cruz e tudo o que Jesus passou nesta terra. Perante qualquer situação da nossa vida, para além de considerarmos a realidade das circunstâncias, não esqueçamos que as devemos olhar igualmente com o olhar da fé. Saber que Jesus nunca nos abandonará, se nós não o abandonarmos, é para nós um forte motivo de esperança. E aqueles que se encontram a nosso lado também não nos deixarão desamparados nos momentos mais difíceis. Nós temos o dever de apoiar aqueles que de algum modo Jesus nos confiou, que passam por um mau momento. “Dirige-te a Nossa Senhora e diz-lhe: Mãe, minha Vida, minha Esperança, conduz-me pela tua mão, peço-te que me ajudes como prova do carinho que tens por mim, deixo-te todas as minhas preocupações no teu regaço, que eu já não posso mais”. E a propósito da vinda do Natal, Bento XVI referiu um dia: “…Deus pronunciou a sua Palavra eterna de modo humano; o seu Verbo “fez-se carne”. Esta é a boa nova, este é o anúncio que atravessa os séculos. Deus sai ao encontro dos homens e dá-se a conhecer, revela o seu plano de salvação para todos os homens enviando o seu Filho amado. Apareceu uma estrela no meio da escuridão e anunciou ao mundo em trevas que a Luz estava para chegar, Jesus, o desabrochar sobre a terra da mais bela flor que alguma vez desabrochou no jardim da humanidade: o nascimento da criatura mais inocente, mais perfeita, o Filho de Deus, ou seja, o Céu na Terra.

Termino este artigo, enfatizando a necessidade de procurarmos envidar todos os esforços possíveis no sentido de mitigar a dor sentida através da concessão de muito afeto, amizade, carinho, companhia, para que nos seus corações, não venha a faltar o calor humano dos que dele carecem, bem como os bens materiais que possam necessitar. Que seja um bom Natal, apesar de tudo, em prol do bem. Atrevo-me a dizer que certamente não faltará, que muita gente se irá dinamizar, neste Portugal sempre solidário e acolhedor. Tenho a certeza que a Sagrada Família os protegerá, abençoará e os anjos não deixarão de os acompanhar.

Maria Helena Paes







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