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segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

De 5 de março de 1985 a 8 de dezembro de 1989

Estamos em 1921, quatro anos passados sobre as Aparições. Conforme previsão da Senhora, Francisco e Jacinta cedo deixaram este mundo. Resta Lúcia, que devia ter longa vida para espalhar a Mensagem pelo mundo. Está com 14 anos. A diocese de Leiria, que tinha sido extinta em 1882, foi restaurada em 1918 e, em 15 de maio de 1920, D. José Correia Alves, cónego da Sé do Porto, é nomeado bispo da nova diocese.

A princípio renitente em relação à veracidade das Aparições, que considerava coisas de crianças, depois de conversar com Lúcia, ficou convencido de que algo de sobrenatural se tinha passado. Ocupa-se então de Lúcia. Ela não poderia continuar analfabeta e deveria ter uma educação cuidada. Serve-se dos conhecimentos que tem no Porto e, com o consentimento da mãe, encaminha-a para o Instituto van Zeller, dirigido pelas Irmãs Doroteias, mais conhecido como o Asilo da Vilar, pois ficava na rua de Vilar. Aí, incógnita, com o nome de Maria das Dores, fez os estudos do ensino primário, embora não tivesse feito o exame final, pois a sua identidade não devia ser revelada. Aprendeu também trabalhos manuais de costura, bordados, malha  a que se chamava na altura, lavores femininos e em que era muito dotada.  Não estava desterrada nem enclausurada. As férias eram passadas em casa de famílias conhecidas de D. José Correia Alves. 

Era uma moça destemida: fez uma corrida a cavalo, no Bom Jesus de Braga, com uma das meninas da família Pestana de Vasconcelos, com quem passava férias. E na praia, onde, por indicação médica, devia tomar banhos de mar, que tomava vestida com uma bata, salvou uma criança de ir pelo mar abaixo. E, segundo se diz, deu água pela barba às freiras, lá no colégio.

Com 18 anos, decide professar nas Irmãs Doroteias. Não era essa a Ordem que ela queria, pois era uma Ordem secular e ela preferia uma Ordem de clausura, como Santa Teresinha, de quem era grande admiradora. Chegou mesmo a pensar em estudar francês e professar em Lisieux, no mesmo convento de Santa Teresinha. 

Mas estamos em 1925: não seria possível, com toda a dificuldade de transportes e não imaginamos as Irmãs Doroteias a facilitar-lhe a entrada noutra Ordem. Mesmo para professar na Congregação das Irmãs Doroteias, teve de ser em Tuy, na Galiza, pois Portugal está ainda na Primeira República que tinha proibido todas as Ordens Religiosas que não se dedicassem ao ensino ou a obras sociais. Assim, Carmelitas, Clarissas e também os Noviciados de outras ordens não existiam em Portugal.

Inicia-se então para Lúcia a sua preparação para Doroteia, em terras de Espanha: Tui e Pontevedra. E, nesses dois lugares, a Senhora de Fátima continua a aparecer-lhe, e a proporcionar visões místicas, como a visão da Santíssima Trindade, de uma grandeza impressionante, pois vai diretamente ao centro da mensagem: Deus. A revelação de Fátima só ficou completa nesse dia, 13 de junho de 1929, na capela, em Tuy. No final da visão, a Senhora falou, dizendo que era chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os bispos do Mundo, a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio. Foi este o último pedido de Fátima. 

Foi um processo demorado de concretizar, pela sua dificuldade compreensível. Consagrar a Rússia de Estaline à Rainha do Céu era uma tarefa diplomática impossível. Só em 1937 é que D. José Correia da Silva enviou uma carta a Pio XI referindo este pedido. A 13 de maio de 1938, o episcopado português, reunido em Fátima, remeteu um telegrama ao Papa pedindo-lhe que fizesse a consagração de todo o Mundo ao Coração Imaculado de Maria. Nesse mesmo dia, os bispos portugueses renovaram a consagração de Portugal que tinham realizado pela primeira vez a 13 de maio de 1931. 

A   2 de dezembro de 1940, já com a segunda guerra bastante avançada,  a própria Lúcia escreve ao papa, agora Pio XII, pedindo lhe a consagração da Rússia, nos termos exatos em que a Senhora de Fátima a tinha pedido: com uma menção especial pela Rússia, e ordenar que, ao mesmo tempo, todos os bispos do mundo inteiro a façam em união com o Santo Padre. Foi sendo feita por Pio XII e outros papas que lhe seguiram, incluindo João Paulo II, mas sempre de forma incompleta: ou faltava a menção à Rússia ou não era feita em união com todos os bispos. Lúcia ia insistindo que ainda não estava como a Senhora tinha pedido. Segundo se conta, alguns cardeais da Cúria Romana diziam a João Paulo II que ele não tinha que obedecer aos pedidos de uma freira, algures num convento.

O desejo da Senhora de Fátima só ficou completamente cumprido quando, no quadro do Ano Santo da Redenção, da Quaresma de 1983 à Páscoa de 1984, João Paulo II enviou uma carta a todos os bispos do mundo, datada de 8 de dezembro de 1983, pedindo aos prelados que, na festa da Anunciação do ano seguinte,  25 de março de 1984, cada um na sua diocese, fizesse solenemente a consagração. Ele mesmo, nesse dia, na Praça de São Pedro, diante da imagem da Senhora que se venera na Capelinha das Aparições, levada de propósito para Roma, fez a consagração do mundo à Virgem de Fátima. Lúcia confirmou que estavam cumpridos os pedidos do Céu.

A consagração aconteceu em 25 de março de 1984. Vamos ver os acontecimentos nessa década, pouco tempo depois. Em 1987, Reagan e Gorbatchov assinaram o primeiro acordo de desarmamento nuclear. Em maio de 1988,a URSS inicia a retirada do Afeganistão. Em janeiro de 1989, Reagan proclamou: «a Guerra Fria acabou». Em 6 de maio, na Polónia, realiza-se a Mesa Redonda entre o Governo comunista e o Solidariedade, em que se aceita que os sindicatos serão livres e haverá eleições em junho. Em 3 de maio, a Hungria começa a desmantelar a «Cortina de Ferro», cortando o arame farpado eletrificado com a Áustria. A 11 de fevereiro, o Comité Central húngaro aprova o multipartidarismo. A 12 de maio, o presidente George Bush retira unilateralmente 500 ogivas nucleares táticas na Europa e anuncia que a política de contenção do expansionismo soviético está ultrapassada e deve dar lugar à «integração da União Soviética na comunidade das Nações». 

Em outubro, na Hungria, o Partido Comunista dissolve-se e o Parlamento proclama a IV República húngara que substitui a «democracia popular» instaurada em 1949.


Em 9 de novembro, em Berlim, o Muro cai. Em 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, Boris Ieltsin e os líderes da Ucrânia e Bielorrússia declaram extinta a URSS.

Coincidência? Não. Factos.

Cecília Rezende



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