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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

As Quatro Estações do Ano

Há alguns dias recordei que tinha possuído um conjunto de gravuras que representavam as quatro estações do ano. Eram lindíssimas. Encontrei-as por casualidade num antiquário. Não resisti e comprei-as. Mais tarde, mandei-as emoldurar, tendo durante alguns anos embelezado a sala de estar. Mas tudo tem a sua época. Anos mais tarde foram substituídas por um quadro que, entretanto, me fora oferecido. E o tempo passou… Um dia alguém chegou ao pé de mim mostrando-me uma fotografia com as referidas gravuras. Continuavam bonitas e apelativas a embelezar outro espaço, outra casa. Pensei nas voltas que o mundo dá. Também as estações do ano se sucedem quer queiramos ou não, bem como os acontecimentos que preenchem a nossa vida: nada é eterno, neste caminhar terreno. Encontramo-nos no Outono. Gosto, nesta estação, de caminhar bem agasalhada de pisar as folhas secas de belíssimos tons dourados. Algumas parecem mesmo estrelas, recordando a aproximação do Natal. Até a alimentação muda: é tempo de saborear o doce de abóbora, a marmelada, a geleia, as sopas mais nutritivas, os pratos no forno, as castanhas assadas, de modo a compensar o frio que se faz sentir, e também algum saudosismo. Os Natais são todos diferentes. Quando era criança, a família era numerosa, éramos mesmo muitos à mesa. Olhava com admiração para a minha mãe a orientar a empregada no sentido de fazer os belíssimos doces tradicionais da época. O peru também era recheado em casa. Nós, as crianças, íamos buscar musgo. Entretínhamo-nos a fazer o presépio. Procurávamos sempre acrescentar qualquer peça para que o tornasse, cada vez mais bonito, acrescentando novas figuras e inovando. Depois fazíamos a árvore de Natal.

Há alguns dias, comentava com uma familiar como os tempos evoluem. E com o decorrer do tempo os hábitos também. Tempos houve em que o Natal era passado em casa dos pais, com a presença dos meus irmãos, avós, tios e primos. Foram tempos excelentes de que guardo essas memórias. Quando casei, passaram a ser passados na quinta, também com uma família muito numerosa. A maior parte destas pessoas já não está entre nós; e assim, enquanto irmã mais velha, o Natal passou a ser em minha casa, também com uma família alargada. Outras vezes, seria passado fora, por motivos profissionais, em contexto de violência. Devido a este facto passou a ser rotativo, alternando com uma irmã, que também já não está entre nós. O filho tomaria o seu lugar. Na realidade, a vida constitui-se atravessando toda uma série de situações às quais, forçosamente, temos de nos adaptar. Tudo tem o seu tempo. Os Natais, por força das circunstâncias, tornam-se diferentes, mas igualmente bons, ajustados às novas realidades familiares, com espírito natalício, tendo sempre em vista a celebração do nascimento de Jesus e a união familiar. Procurando nunca faltar na véspera o bacalhau, no dia de Natal, o peru, os doces tradicionais da época. Por força das circunstâncias, já não são feitos por uma empregada antiga, com uma mãe a orientar, mas uma parte adquirida num lugar de referência, no sentido de nos facilitar a vida bem como a falta de disponibilidade, e todos a colaborar de uma forma ou outra.

Como gosto de pisar as folhas secas do outono! Parece que descarrego o que de menos bom aconteceu na minha vida. Não posso, de todo, mudar o rumo dos acontecimentos, mas sim, integrá-los e aceitá-los o melhor possível. Quem partiu já não volta, mas permanece uma doce recordação no nosso coração. Importa tornar a vida o mais doce e agradável possível a quem está e a quem nasceu entretanto, de modo a que, um dia, também eles possam recordar e veicular com alguma saudade, a nossa passagem terrena, referindo, aos futuros descendentes as nossas memórias, as nossas tradições e hábitos. São os diferentes ciclos de vida. E o Natal aproxima-se a passos largos. A época do Advento já começou. Pela infinita misericórdia de Deus visitar-nos-á o Sol que nasce do alto, para iluminar os que vivem nas trevas… para guiar os nossos passos no caminho da paz… Aconteceu que a Maria, encontrando-se num estábulo, chegou a hora do parto. Maria envolveu Jesus, com um enorme amor de mãe, uma enorme veneração e ternura, nuns panos e colocou-o no presépio. O maior acontecimento da humanidade teve lugar na mais perfeita simplicidade. Jesus, enquanto menino recém-nascido não fala, mas representa a Palavra Eterna do Pai. Nasce pobre, sem ostentação e ensina-nos que a felicidade não se encontra na abundância de bens. Incentiva-nos a sermos humildes, não nos encontrarmos dependentes do aplauso dos homens, mas sim a que possamos corresponder ao Seu amor, para que a nossa liberdade se renda, não só ante a grandeza do Seu poder, mas também perante a maravilha da sua humildade.

E onde quer que passemos o Natal este ano, teremos a companhia celestial de muitas estrelinhas a brilharem no Céu, como sinal da presença do transcendente que vela por nós, bem como doces memórias para nos aquecerem o coração, para nos reconfortarem e para podermos partilhar com os mais novos as histórias da família, à volta de um presépio, aguardando a chegada do Menino Jesus, na companhia de José e de Maria. O Salvador, uma vez mais, desce ao mundo!

E as estações do ano continuarão a fluir, se Deus quiser. Cada uma com a sua especificidade, com as suas recordações, mas certamente, nenhuma tão bonita como esta, com tanta luz, cor e alegria. Chegou o tempo de usufruirmos da época natalícia, se possível em família. QueSanta Maria, Mãe de Jesus, Rainha da Família, proteja todas as famílias do mundo neste Natal e sempre.

Maria Helena Paes



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