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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

As crianças e a oração


- Será que as crianças devem ser batizadas? Isso não é retirar-lhes a liberdade de uma escolha futura? -Será que as crianças devem rezar? - É isso adequado? Ou a oração é apenas "beatices"?!

Algumas destas dúvidas e questões assaltam muitos pais contemporâneos. A literatura é extensa em livros de autoajuda e ajuda parental, mas falha algo essencial. A certeza, que são os pais que melhor conhecem e compreendem os seus filhos e sabem o que eles necessitam. 

Contudo, como adultos por vezes o nosso caminho está envolto em dúvidas e mais dúvidas. A dúvida em certa medida é saudável e muitas vezes leva-nos até ao caminho certo, mas não nos conseguimos alicerçar em dúvidas, precisamos de dogmas.

Talvez por isso, quando não acreditamos em Deus … acreditamos em qualquer coisa. E dogmas podem ser muitos. Um da atualidade é: não podemos ter dogmas alguns - isso por si, já é um dogma embora possa ser pouco estruturante.

Foi precisamente esta uma das reflexões numa conversa com o meu filho sobre estes assuntos e o conteúdo de uma das suas aulas de filosofia. Nessa aula, referiu-se que o dogma da religião podia ser impeditivo da filosofia.

Sinto profunda gratidão em perceber que o meu filho adolescente sente os pais como porto seguro para expor as suas ideias, dúvidas ou frustrações. 

Voltemos às questões iniciais. Será que duvidamos que devemos dar alimentos aos nossos filhos, ou temos a ideia de que privá-los dos mesmos lhes pode dar liberdade de escolha? Não. Sabemos perfeitamente que lhes dará: fome, desnutrição e finalmente a morte. Então porque duvidamos que devemos alimentar a sua alma?


Será que acreditamos que somos apenas matéria? Se assim for, é natural que pensemos que não temos que nutrir a alma. Mas, se temos dúvidas, vale a pena refletir nelas e perguntar a quem nos possa esclarecer melhor. E, se até gostaríamos de ter fé, vale a pena pedi-la!

Talvez, na nossa sociedade atual se considere que acreditar na imortalidade da alma ou até mesmo na sua existência é sinal de fraqueza, de infantilidade ou pouca inteligência. Mas, só porque não se vê não quer dizer que não exista. E se colocarmos a nossa razão a questionar e nos deixarmos inquietar com estas questões percebemos que embora a fé não seja racional, ela é bastante razoável.

A busca do Homem da razão da sua própria existência acompanha a História. Negar essa evidência é negar uma necessidade humana básica de procura, crescimento e maturidade.

O que não me parece razoável pensar é que estamos a dar liberdade ao retirar o alimento espiritual a uma criança. Ao negar uma identidade, ao negar um sacramento não estamos a dar liberdade, estamos a limitá-la. Não posso ser verdadeiramente livre se não conheço. Só posso escolher perante o que me é dado a conhecer.

Esta passagem do livro "Ensinar as crianças a rezar" das Edições Carmelo é bastante elucidativa sobre os sentimentos da criança que reza:

"Já falámos da admiração que provocam na criança todas e cada uma das descobertas que vai realizando no seu pequeno mundo. Não sufoquemos essa admiração. Admirar-se é de sábios não de tontos. Por isso servir-lhe-á, não só para rezar, mas também para as outras dimensões da vida. Também devemos exultar com ela de entusiasmo e de louvor."

Numa passagem do Evangelho de Lucas 18, 15-17 num tempo em que as crianças não eram valorizadas socialmente apresentaram umas crianças a Jesus, para que Ele lhes tocasse e “Vendo isso, os discípulos repreenderam-nos. Mas Jesus chamou-os a si, dizendo: «Deixai vir a mim os pequeninos; não os impeçais, pois deles é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele.»

Voltando, à discussão de ideias com o meu filho retive uma frase sua: “Ainda não encontrei uma explicação mais credível para a existência do Homem que a própria existência de Deus."

A fé e o conhecimento da mesma não nos turva, não nos retira a liberdade ou o sentido crítico. Pelo contrário, expande as nossas capacidades. Citando Jaime Nubiola no seu livro "Convite a pensar" (que aconselho vivamente) deixo a reflexão:

" O importante era a convição da minha mãe e talvez resida nela a origem da minha vocação filosófica. Só vale a pena dialogar - como escreveu Rhonheimer- «quando as convições se levam a sério, como expressão da convição subjetiva de que a nossa convição corresponde à verdade». A minha mãe dava-me as suas razões porque estava convencida da verdade da sua posição, mas sobretudo porque queria ensinar-me a pensar por minha conta. Transferir as decisões pessoais para o «todos fazem» equivale a atirar-se da janela, isto é, a deixar de pensar."

Não nos deixemos então atirar pela janela, agarremos a nossa vida como protagonistas pensantes e não como meros espectadores!

Confiemos! E deixemo-nos admirar pelo Bem e pelo Belo. Silenciar, contemplar uma montanha, uma flor, a beleza da criação e escutar bem no nosso interior.

Que o Menino Jesus nasça em cada coração neste Natal!

Helena Atalaia



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