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segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A Antecipação do Paraíso

Há algum tempo tive conhecimento de que iria ser celebrada uma Santa Missa Pontifical por Sua Eminência Reverendíssima o Cardeal Raymond Leo Burke, na Real Basílica de Nossa Senhora e de Santo António em Mafra no dia 4 de Novembro de 2017, promovida pela Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra. Pensei que constituiria certamente um momento de extrema importância, tanto mais que a divulgação referia que seria a primeira celebração a seis órgãos e coro desde o ano 1806, acompanhados pelo coro gregoriano do Instituto Gregoriano de Lisboa.

Na realidade já tinha em mente o título de um futuro artigo: “A Antecipação do Paraíso”. Contudo, ainda não tinha pensado a abordagem que iria fazer. Quem sabe, se estaria a aguardar por esta celebração? O melhor mesmo era “Duc in Altum”. E assim fiz, em boa-hora devo acrescentar, já que constitui sempre um enorme prazer regressar à Vila de Mafra. Desta vez com uma missão específica, ou seja, encontrar motivação para dar continuidade ao título do artigo. A ideia central era sentir a Santa Missa, como uma antevisão do paraíso.

Fiquei agradavelmente surpreendida ao entrar na Real Basílica de Mafra que se encontrava repleta, e fiquei particularmente grata porque à entrada me entregaram um missalete que permitia acompanhar a Santa Missa em latim, pois Sua Eminência não falava português. Por uns momentos, recordei a grandiosidade e a beleza de diversas missas em que tinha tido oportunidade de participar na Basílica de S. Pedro no Vaticano, celebradas pelo Papa João Paulo II. Também recebia sempre um missalete que permitia não só acompanhar a Missa mas também ficar com uma recordação da cerimónia. Muito bem, a Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra estava de parabéns por mais esta iniciativa. Prodigiosamente, consegui encontrar um lugar mesmo à frente! A Basílica estava linda, ornamentada com flores amarelas e brancas e paramentos com mais de 300 anos. No lado direito do altar, a imagem de Nossa Senhora, parecia querer recordar que era Nossa Mãe, que se encontrava de braços abertos para a todos acolher e depositar as nossas preocupações no seu regaço.

Enquanto aguardava, resolvi folhear o missalete que reproduzia um texto da autoria de João Vaz (um dos organistas) que, passo a citar, “A singular presença de seis órgãos na Basílica de Mafra teve evidentes repercussões na estrutura musical da liturgia. O cantochão, cantado pelos monges durante os ofícios e missas de todo o ano litúrgico, era acompanhado pelos órgãos, variando o número de um a seis consoante a importância da festividade. As invasões napoleónicas e subsequentes tumultos políticos e sociais levaram à inoperacionalidade do conjunto organístico de Mafra… Concluído o restauro em 2010, esta é a primeira função litúrgica que conta com a participação dos seis órgãos que – tal como se fazia há 200 anos – acompanharão o canto gregoriano entoado pelo coro e pela assembleia. Constituiria, na realidade, um momento único e histórico”. 

A Santa Missa ia começar. Enquanto se executava o Cântico de Entrada, o cortejo litúrgico, com os seus belos paramentos, encaminhou-se para o altar. A harmoniosa música sacra dos seus seis órgãos, acompanhada pelas vozes do coro, num local tão belo e nobre, transportaram-me até ao ‘paraíso’. Os órgãos tocavam novamente numa cerimónia litúrgica solenizada, para comemorar os 300 anos do lançamento da primeira pedra do Real Edifício de Mafra. O Cardeal Burke, patrono da Ordem Soberana e Militar de Malta, ajudou-nos, ao longo da longa missa, a refletir que Jesus é o centro das nossas vidas, assim como é o centro do impressionante complexo do Real Edifício de Mafra, onde se encontra a Real Basílica. O celebrante ofereceu a Santa Missa pela Igreja de Portugal, para que possa ser um raio de luz a irradiar para todo o Mundo… e disse na homilia que Cristo sentado em glória desce sobre os altares para se fazer sacramentalmente presente. Jesus derramou a partir do seu coração perfurado os sete dons do Espírito Santo. Referiu ainda que este dia auspicioso da celebração, coincidia com o dia de São Carlos Borromeu que se destacou como modelo de pastor, exemplar pela caridade, doutrina, zelo apostólico e sobretudo pela oração.

No decorrer da celebração da Santa Missa revelou-se, de uma forma prodigiosa, uma verdadeira sensação de antecipação do Céu. O cheiro do incenso, a luz das velas, o coro, o som solene da música, todo o ambiente e a beleza da igreja, um sentimento muito profundo da presença de Deus no altar e no coração de cada um dos presentes, enquanto sacrário onde tinha sido depositada a hóstia santa, tudo parecia conduzir-nos à paz da vida eterna: “Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que O amam” (S. Paulo). 

Na realidade o título que tinha idealizado correspondeu, na íntegra, ao sentimento que se viveu durante a magnífica cerimónia.

Concluo, agradecendo a todos os que de algum modo contribuíram para levar esta iniciativa a bom termo, certamente com muito amor, empenho e dedicação e alguns apoios, em particular à Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra a quem se deveu a organização da mesma.

Maria Helena Paes




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