Páginas

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Nossa Senhora da Nazaré

Há alguns dias, na Vila da Ericeira, em conversa amena com uma amiga, no período de gozo de férias, sentadas na areia à beira-mar, recordávamos, a propósito das festas em honra de Nossa Senhora da Nazaré, que terão lugar entre os dias 25 de Agosto a 3 de Setembro, este ano nesta belíssima Vila da Ericeira, as mudanças ocorridas ao longo da história.

Reza a tradição que a imagem de Nossa Senhora da Nazaré terá sido esculpida por São José (carpinteiro) na presença de Maria, Mãe de Jesus, que se encontrava sentada a amamentar o Menino. Logo, a Sagrada Família. Que lindo! Diz-se ainda que a imagem terá sido pintada por São Lucas e trazida da Cidade de Nazaré. Mais tarde foi trazida para o Mosteiro de Cauliniana em Mérida. Com a derrota dos cristãos e o avanço islâmico, a pequena imagem da Virgem Maria, foi trazida para o território que hoje é Portugal, pelo rei godo D. Rodrigo e por Fr. Romano um dos monges aí residentes, que chegaram ao monte de São Bartolomeu, perto da Nazaré, no ano 714. O monarca separou-se do monge, tendo o monarca permanecido no local e o monge para se abrigar, construiu um pequeno nicho entre os rochedos, num monte vizinho, onde colocou as relíquias e o ícone. Com a sua morte e a partida de D. Rodrigo para o norte, a imagem ficou esquecida na pequena lapa construída pelo monge, no atual promontório do Sítio. Reza ainda a história que no século XII, foi descoberta por D. Fuas Roupinho. No dia 8 de Setembro de 1182, dia de nevoeiro, o cavaleiro terá sido atraído por um veado, na direção do promontório. No momento em que estava prestes a lançar-se no precipício, D. Fuas evocou a Virgem com o Menino, recordando a sua imagem ali próxima. Imediatamente o cavalo parou e por milagre o cavaleiro salvou-se tendo mandado edificar uma ermida à Senhora da Nazaré. Mais tarde foi mandado construir um Santuário por El-rei D. Fernando no século XIV, uma vez que a ermida não tinha já capacidade para acolher o elevado número de devotos de Nossa Senhora da Nazaré.

O tempo foi passando e a devoção à Virgem Maria foi, por sua vez, aumentando. Anos mais tarde seria criada a Confraria de Nossa Senhora da Nazaré da Pederneira da Igreja Nova. O compromisso desta Confraria, a pedido dos Irmãos, seria confirmado pelo Patriarca de Lisboa, no dia 17 de Maio de 1741. A sua missão principal era assegurar a organização de uma peregrinação coletiva (o que vulgarmente se passaria a designar de Círio) e a festa do Santuário em louvor de Nossa Senhora da Nazaré, com a pompa, aparato e grandezas possíveis. No final do século XVIII, esta deslocação festiva da Confraria ao santuário da Senhora da Nazaré era já designada por Círio de Prata Grande devido à quantidade de prata oferecida, pela grandeza da romaria e pelo seu aparato. Os ciclos ininterruptos do circuito, tornam-se numa imagem de marca do Círio que contava com 17 freguesias aderentes, em que a responsabilidade da festa (de forma rotativa) era repartida por cada uma delas, sendo que o giro se terá possivelmente iniciado no ano de 1732. Estes marcavam o ritmo de vida de muitas aldeias, que se destacavam das demais, por cada 17 anos, receberem a imagem do Círio. Os cânticos de louvor à Senhora da Nazaré (loas) constituem uma tradição transmitida de geração em geração, expressando sentimentos populares com a mistura de leituras mais eruditas do Círio. Nas loas compostas pela freguesia que recebe a Imagem, predominam quer a alegria, noutras, a tristeza, para além do caráter milagroso da Imagem, a obediência à tradição, o compromisso de cada freguesia receber e honrar a Senhora da Nazaré.

E os anos passaram… Hoje em dia a montagem das festas da Senhora da Nazaré modificou-se um pouco: ou seja, o Círio é o mesmo, a Imagem e o seu tesouro também. O Compromisso ainda existe mas um pouco esquecido. Os anjos continuam a entoar cânticos de louvor. Hoje em dia o Círio de Prata Grande não terá o brilho e opulência de outrora, contudo persiste em ligar entre si as várias gerações de cada uma das localidades, que continuam agregadas ao circuito, e a mostrar-se com um cerimonial que parece reportar-nos a tempos idos. Simultaneamente, reacende nas populações a devoção à Mãe do Céu que as visita.*

Importa, pois, que façamos em conjunto, um esforço, no sentido de conceder à história a devida importância, procurando com a nossa presença, ajudar a manter bem viva esta tradição assim como a devoção à Nossa Senhora da Nazaré. Se possível, vamos comparecer nalguma das cerimónias que decorrem, neste ano, na Vila da Ericeira. 

“A Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do Céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, Ela é consolo e esperança do nosso povo ainda peregrino”. “Nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à Sua proteção… fosse por Ela desamparado”.

*Bibliografia consultada: A Senhora da Berlinda, de Pedro Penteado.

Maria Helena Paes



Sem comentários:

Enviar um comentário