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domingo, 27 de agosto de 2017

Azul e cor-de-rosa

A Porto Editora teve a ideia de lançar um livro lúdico, de jogos e problemas, para crianças dos quatro aos seis anos. E, convencida que meninos e meninas não têm as mesmas motivações, fez duas versões do mesmo trabalho: uma supostamente mais motivadora dos interesses dos meninos e outra supostamente mais motivadora dos interesses das meninas. (E digo «supostamente» porque não sei se, do ponto de vista técnico, motivacional, o trabalho está bem ou mal concebido. Só sei e só falo do objectivo: construir um livro de problemas lúdicos, um para meninas e outro para meninos). Foi uma imprudência. Evidente e previsível nos tempos que vão correndo. E como se uma imprudência não bastasse, juntaram-lhe uma outra: o livro das meninas é cor-de-rosa e o dos meninos, azul – as cores convencionais (anacrónicas, burguesas, conservadoras, provincianas e mesmo «pires») das meninas e dos meninos. Todo o «establishement» bem pensante do Estado a que chegámos, caiu em cima da Porto Editora: que não há tarefas motivadoras do sexo (ou do «género», como eles dizem) masculino ou feminino; muito menos tarefas mais adequadas a um ou outro: que não há diferenças entre masculino e feminino; que o livro é um retrocesso no processo educativo que desde há anos se vem, laboriosa e subtilmente, instalando na pedagogia oficial, educando para a anulação da diferença; etc, etc, etc. Uma das «autoridades pedagógicas» ouvidas preconizou mesmo a retirada pura e simples do mercado dos referidos livros. E – pasme-se! – foi isso mesmo que acabou por acontecer! Eu compreendo – discordo mas compreendo – que haja em Portugal um «lobby gay», anonimamente instalado nas mais altas instâncias da política e do pensamento, que pretenda toda uma acção educativa – institucional ou não, formal ou informal – tendente a instilar nas mentes juvenis que é tudo igual, que é «careta» ideia de um sexo masculino e outro feminino, que os dois se fundem num só sexo. Ou melhor: num só género – o género «gay». Reconheço-lhes o direito de assim pensarem e de lutarem pelas suas ideias. Desde que nos reconheçam a nós, os que assim não pensamos, o direito de lutar pelas nossas com os argumentos culturais, racionais e científicos que nos assistem. O que não podemos aceitar (nem consentir) é que o Poder político se intrometa no assunto pretendendo dirimir um conflito de ideias que apenas com ideias deve ser dirimido e nunca com decisões do Poder constituído. Ora, num primeiro momento, a Porto Editora respondeu bem aos ataques dizendo que as crianças gostam, os pais compram, o livro vende-se bem… Mas, logo a seguir, as televisões disseram que o Governo «pediu» à Editora que retirasse o livro do mercado e esta, com um tão amplo mercado na área escolar… cedeu. O Governo «pediu». Mas quem do Governo? E com que direito se fazem, em Democracia, «pedidos» com cheiro a chantagem? A P.I.D.E. apreendia livros de que não gostava. Estaline mandava os autores para o «goulag».

Agora, seráfica, cândida e hipocritamente, «pede-se» que sejam retirados…

Nota: por decisão do autor, este texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico.

M. MOURA PACHECO Professor universitário aposentado
27.08.17 / DOMINGO / DIÁRIO DO MINHO 19



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