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terça-feira, 4 de abril de 2017

Traição ao alto

Já ouvi muita gente boa, com ar circunspecto, dizer que a prostituição é a profissão mais antiga do mundo. Como é pífia a pantomima de homens que tentam mostrar a erudição que não têm. Na juventude, com ares pretensiosos de sábio que não passava de uma fraude, que escutava besteiras e as reproduzia prontamente, por certo contribuí para a difusão desta bobagem. Ainda hoje não sei em que se baseariam os antropólogos para tal afirmação. Se forem resquícios arqueológicos mais recentes, como o lupanar de Pompéia, cujas paredes preservam pinturas tão grotescas quanto obscenas, fica a questão sobre a precedência. Quem veio primeiro? O pedreiro ou a prostituta? Ora, estas perguntas não passam de blague na história humana de milhões de anos. Além disto, é comum acreditar que as profissões de agricultor e caçador estejam entre as primeiras. A prostituição, enquanto “profissão”, exige um arranjo social posterior.

Tenha lá a idade que tiver, o que me incomoda é os governos assumirem a prostituição como uma profissão. E sempre arrumam um jeito de taxar a atividade. Não sei como é hoje, mas no passado uma casa de tolerância não podia ser explorada por um homem. Era crime de lenocínio. Compareciam, então, nas repartições fiscais, mulheres que se diziam proprietárias, quando era de conhecimento público que um mau caráter qualquer era, no mais das vezes, o verdadeiro dono. Como legalizar uma atividade como esta num país de matriz cristã? Não deveria ser possível. Por mais que pragmáticos e programáticos gritem que é apenas uma questão de saúde pública, saúde é mais do que vírus, protozoários, bactérias e fungos. Também é mens sana.

Avançando nos anos fui percebendo a sordidez da prostituição, que é antes de tudo uma traição a si mesmo na medida em que fomos feitos para o amor e não para o uso maquinal. Como mais ou menos escreveu C.S.Lewis, uma relação sem amor é um espetáculo com uma Vênus infernal. Presentes inclusive nos países comunistas, como nos saguões dos hotéis em Moscou, as prostitutas não deixam de ser um libelo contra a máxima marxista. Não precisamos nem recorrer a princípios cristãos para alvejar esta heresia no mundo comunista. Basta lembrar que os manuais do marxismo condenam a exploração do homem pelo homem. A prostituição, portanto, em um país que siga a cartilha marxista, tem um peso maiúsculo de incoerência.

Receio, porém, que esta discussão já nasça morta. Afinal de contas o materialismo dialético reduz carne, ossos e tudo o mais à insignificância. Nega qualquer transcendência no universo e, portanto, já começa expulsando do palco os atores fundamentais da boa existência humana, como a fraternidade, o amor e a caridade. Aliás, misturando um pouco as bolas, não confunde a cachola o discurso de um ateu falando de justiça social? Afinal, sem inspirações espirituais o mundo não deveria viver sob a lei da selva, onde o maior engole o menor? Ou o mais rápido liquida o mais lento? Se tudo não passa de matéria, que conversa mole é esta de solidariedade do comunismo? Por que buscar a igualdade? Ademais, se tudo é apenas material, como o comunismo tem a petulância de condenar o mais selvagem dos capitalismos?

Para os que são renitentes em defender a prostituição e sua legalização, para os que aplaudem a prostituição corporativa, sugiro que por breves instantes pensem no que enfrenta uma prostituta. Dos sujos aos bêbados, dos violentos aos perversos. Impiedosos todos. Sugiro que então imaginem, pelo menos uma vez, que uma prostituta não é um bicho qualquer, como provavelmente a consideram, mas uma criatura gerada à semelhança de Deus. Depois voltem a enfiar a cabeça no buraco, se preferirem, como boas avestruzes. Não creio que o façam.

Cá no meu canto, fico com o Catecismo da Igreja Católica: “A prostituição é um atentado contra a dignidade da pessoa que se prostitui, reduzida ao prazer venéreo que dela se tira. Quem paga, peca gravemente contra si mesmo: quebra a castidade a que o obriga o seu Baptismo e mancha o seu corpo, que é templo do Espírito Santo (102). A prostituição constitui um flagelo social. Envolve habitualmente mulheres, mas também homens, crianças ou adolescentes (nestes dois últimos casos, o pecado duplica com o escândalo)”. Sábia, a Igreja concede que “É sempre gravemente pecaminoso entregar-se à prostituição; mas a miséria, a chantagem e a pressão social podem atenuar a imputabilidade do pecado”. É uma prática milenar, mas os homens devem abandonar práticas tão antigas quanto monstruosas.
 
J. B. Teixeira



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