Francisco rejeita qualquer guerra em nome de Deus
Cidade do Vaticano, 07 dez 2016 (Ecclesia) - O Papa Francisco defendeu
que a religião deve manter o seu espaço na vida pública, numa relação de
“sã laicidade” com o Estado, reforçando a sua rejeição da violência em
nome de Deus.
“Há uma sã laicidade, por exemplo, a laicidade do Estado. Em geral, o
Estado laico é bom, é melhor do que um Estado confessional, porque os
Estados confessionais acabam mal”, referiu, numa entrevista ao semanário
católico belga ‘Tertio’, divulgada hoje.
O pontífice argentino distingue esta laicidade do “laicismo” que “fecha
as portas à transcendência”, uma dimensão que, para o Papa, faz “parte
da essência humana”.
“Uma cultura ou um sistema político que não respeite a abertura à
transcendência da pessoa humana poda, corta a pessoa humana”, precisou.
Francisco sustentou que a ideia de “remeter para a sacristia” qualquer ato de transcendência é “uma assepsia”.
A entrevista aborda depois a preocupação com o diálogo inter-religioso,
com o Papa a reafirmar que “nenhuma religião como tal pode fomentar a
guerra”.
“Não se pode fazer a guerra em nome de Deus ou em nome de uma atitude
religiosa. Não se pode fazer a guerra, em nenhuma religião. Portanto, o
terrorismo, a guerra, não estão relacionados com a religião, usam-se
deformações religiosas para a justificar”, explicou.
No centenário da I Guerra Mundial, Francisco lamenta que o apelo de
“guerra nunca mais” não tenha sido “levado a sério”, porque se vive numa
“terceira guerra mundial” com conflitos na Ucrânia, Médio Oriente,
África ou Iémen.
"Hoje em dia fazem falta líderes. A Europa precisa de líderes, líderes que avancem", refere.
A entrevista tem como pano de fundo a recente celebração do Jubileu da
Misericórdia (dezembro 2015-novembro2016), uma ideia que o Papa confessa
ter tido “de repente”, na sequência da atenção que os seus
predecessores dedicaram ao tema.
Aos padres, pede que “tenham ternura”, num mundo que “padece a doença
da cardiosclerose”, sem vergonha de estar perto da “sangue sofredora de
Jesus”.
Francisco fala
depois do que entende por “Igreja sinodal”, ou seja, onde “Pedro [o
Papa] é Pedro, mas acompanha a Igreja e a faz crescer, escuta-a”, à
imagem do que aconteceu nas assembleias do Sínodo dos Bispos, sobre a
família (2014, 2015).
O Papa conclui com o desejo de que os meios de comunicação sejam “muito
limpos e muito transparentes”, porque são capazes de fazer “um bem
imenso.”
“Sem cair - não se ofendam, por favor, na doença da coprofilia, que é
procurar sempre comunicar o escândalo, comunicar as cosas feias, mesmo
que seja verdade”, alertou.
OC
in
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