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sábado, 10 de dezembro de 2016

Drones

Durante um concerto de verão, na Ericeira, vi um drone que sobrevoava os músicos, os cantores e a assistência. Voava sensivelmente à mesma altura que as gaivotas que, intrigadas, ora se aproximavam, ora se afastavam daquele estranho objeto com luzinhas a piscar, piando muito e “com voz grossa”, talvez no intuito de afastar o intruso.
 
Não são apenas as gaivotas que estão apreensivas com a chegada dos drones; os legisladores também. É certo que estes objetos voam a uma altitude muito inferior à dos aviões comerciais e militares mas, nas proximidades dos aeroportos, o perigo de acidentes é real. São necessárias leis para definir regras de conduta e segurança aos “pilotos” destes engenhos e dos aviões, prevendo já a invasão de drones que se adivinha próxima, seja para distribuir encomendas, para gravar eventos (como o concerto da Ericeira), para espiar pessoas, empresas ou bases militares, etc. Os jornalistas sentem já a falta de normas, pois são obrigados a ter carteira profissional, a pagar impostos, a pedir licenças... para acudir aos locais dos acontecimentos e exercerem a sua profissão enquanto os amadores usam os seus drones para fazer gravações durante manifestações, competições desportivas... e as colocam no Facebook livres de qualquer responsabilidade.
 
Em França, já existe legislação para aplicar a estas novas realidades, mas a experiência de lidar com os problemas que levantam ainda é escassa e as leis devem tornar-se insuficientes em futuro próximo. Outros países, como a vizinha Espanha, já está a sentir-se pressionada por industriais, jornalistas, empresários de transportes aéreos, etc. no sentido de produzir as próprias leis que, embora imperfeitas, deverão ser levadas ao conhecimento dos legisladores de outras nações para, em franco diálogo, trocarem experiências e, se possível, chegarem a normas comuns, como está a acontecer com a condução automóvel ( em Inglaterra já não se conduz pela esquerda, por exemplo).
 
No entanto, a tecnologia dos drones traz muitas vantagens, materiais e intelectuais. Já tratámos bastante das vantagens materiais neste breve artigo. Guardemos espaço, no texto, e tempo, no nosso dia, para pensar nas consequências de poder assistir ao “filme” da nossa vida projetado em qualquer meio de comunicação audiovisual, em qualquer parte do mundo, em qualquer idioma. A onda de receio está a crescer para o medo e o pavor e a alastrar por todas as partes do mundo.
 
Esta realidade é bem profunda, pois todos temos um medo, agora bem consciencializado, de nos olharmos e vermos tal como somos. Os drones estão a despertar a nossa consciência adormecida, ou tornada insensível depois de praticar muitos atos injustos, perversos, criminosos, corruptos, etc. O rei David necessitou que o profeta Natan lhe fizesse ver a gravidade dos seus pecados (adultério com a mulher de Urias, seu  general, e ordem para o matar) mediante uma parábola; e nós, precisaremos dos drones?
 
Talvez os drones nos ajudem a prestar mais atenção à voz da consciência, essa voz interior, incómoda, mas amiga. Essa voz que tem a coragem de nos dizer a verdade na cara e que tem a delicadeza de nos falar a sós, sem testemunhas indiscretas, prontas a acusar-nos na presença de fanáticos por espetáculos mórbidos e sangrentos. Uma consciência bem formada leva-nos ao tribunal divino, àquele onde se faz a doce justiça do perdão, a justiça de Jesus, o Menino do Presépio que veio ao mundo para nos redimir de toda a culpa. 


Isabel Vasco Costa


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