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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A importância de chamar-se

Não, amigo leitor, não é importante chamar-se Ernesto, como Oscar Wilde intitulou a sua conhecida e divertida peça teatral. Pretendo, isso sim, chamar a atenção para a importância de se ser o que se deve ser.
 
A filha da empregada da minha mãe, que é cabo-verdiana, foi batizada com o nome de Milénia por ter nascido no ano 2000. Assim, além de ficar identificada ao dizer o seu nome, fica também conhecida por se saber, imediatamente, a sua idade. Uma só palavra consegue dar a conhecer duas realidades da pessoa: quem ela é e quantos anos tem. Fiquei a saber, assim, que os povos africanos dão grande significado ao nome.
 
Quando Santo André leva o seu irmão a Jesus, este diz-lhe: “Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro”. Sabemos que Pedro significa pedra, rocha, fundamento e que Jesus se referia à vocação que lhe tinha destinado.
 
Há alguns anos, entrevistei uma religiosa de nome Ana Rosa do Espírito Santo. Disse-me que só ficou a conhecer o seu nome no momento dos votos perpétuos e que, ao ouvi-lo pela primeira vez, exclamou um Ah! de espanto. Ela e as suas companheiras tinham escrito à superiora dando-lhe a conhecer os seus nomes preferidos, por terem devoção a alguma santa. Porém daquele nome, a minha amiga nada sabia. O seu primeiro cuidado foi tentar conhecer o que significava e não descansou enquanto não soube de que se tratava de uma religiosa cujo processo de canonização ainda decorria. Não mais deixou de se interessar pelo caso e de fomentar a devoção à dita religiosa. Queria imitá-la e dá-la a conhecer. Era uma das formas de viver bem a sua vocação. Dizia que, a partir daquele dia em que fizera os votos perpétuos, desejara deixar de ser “ela” para ser aquela que Jesus queria. O facto de continuar a usar hábito também refletia, no seu íntimo, esta sua vontade de ser como Deus queria, só d’Ele, sua esposa, bem identificada por dentro e por fora.
 
Esta sua explicação levou-me a pensar no costume, que já vai sendo abandonado, das mulheres portuguesas passarem a usar o nome do marido quando casam. Uma canção popular põe na boca do marido a frase:” Ó malhão, malhão/ Ó Margaridinha/ Eras do teu pai/ mas agora és minha!” É talvez o receio a ser “escrava”, a ser possuída, que leva algumas mulheres a manter o apelido de solteiras, ideia esta fomentada por movimentos de “libertação da mulher”. A reação não se fez esperar. Muitas mulheres casadas tornaram-se mais conscientes da importância do seu nome. Por meio do matrimónio, assumem a vocação de mães de família, isto é, de contribuir para uma nova geração oferecendo filhos, primeiro ao marido, depois à família (netos, sobrinhos, primos...) e ao país (novos cidadãos). Ao assumir o apelido da família do marido, compromete-se a cumprir com esta nobre missão, com o seu apoio e colaboração. Além disso, no nosso país, temos o costume de escolher um nome próprio para os filhos, seguido, em primeiro lugar, do apelido materno e, depois, do apelido paterno. Exatamente como ficou o nome da mãe: primeiro o seu nome completo seguido do apelido do marido.
 
S. José foi um homem exemplar que assumiu uma vocação inesperada de pai adotivo do filho de Deus. Foi José quem deu lhe deu o nome, Jesus, que o Anjo lhe indicara num sonho. Foi o homem de confiança de Deus.
 
Também os Papas mudam de nome ao serem eleitos. Neste caso, são eles que escolhem o seu próprio nome, geralmente o de um santo cujo exemplo desejam seguir. Este facto é bem evidente no Papa Francisco que evidencia sensibilidade para com aqueles que necessitam de toda a espécie de misericórdia, essa misericórdia que veio trazer ao mundo o Deus Menino.


Isabel Vasco Costa



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