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segunda-feira, 18 de julho de 2016

No fim, o princípio II

Quase 40 semanas. O A continua, contente e alegre, a nadar na minha barriga. Não está com grande vontade de vir apanhar chuva, pelo que arranjei maneira de vir aqui mais uma vez falar-vos da segunda Exortação Apostólica do Papa Francisco. Faço-o exatamente na tarde do dia em que passam 99 anos da primeira aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos, em Fátima.
 
Como é óbvio, com esta inspiração, esta guia, esta luz, esta Mãe, não há nada a temer e, certamente que, apesar de todas as minhas limitações, alguma coisa se vai aproveitar deste texto, até porque as palavras do Papa são, por demais, maravilhosas.
 
Sempre que penso no meu casamento, no meu marido, que olho para tudo o que temos vivido juntos, penso na certeza de que o casamento é um caminho vocacional, uma vocação, um chamamento muito específico e que, se estivermos conscientes disso, perceberemos as graças que Deus nos envia a cada momento. E esta certeza faz toda a diferença.
 
O IV capítulo do texto do Papa inicia-se com uma passagem muito bonita, que muitos conhecem, mas que vale a pena recordar.
 
“O amor é paciente, /o amor é prestável;/não é invejoso,/ não é arrogante nem orgulhoso,/ nada faz de inconveniente,/ não procura o seu próprio interesse,/ não se irrita,/ nem guarda ressentimento,/ não se alegra com a injustiça,/ mas rejubila com a verdade./ Tudo desculpa,/ tudo crê,/ tudo espera,/ tudo suporta.” (1 Cor 13, 4-7)
 
Aqui consta toda a farmacopeia necessária para os problemas que surgem no caminho do amor, seja com o marido, com os filhos ou perante outra pessoa qualquer. Recordo um texto que li uma vez relativamente à orientação familiar, em que se questionava porque é que um pai e uma mãe nunca se cansam de educar os seus filhos, mesmo que passem uma vida a repetir as mesmas indicações, mas facilmente se cansam do seu cônjuge, quando ele ou ela não atua conforme o desejado.
 
Todas estas ideias estão bem patentes em “A Alegria do Amor”. O Papa Francisco aborda cada aspeto da citação acima apresentada, como que nos orientando, pela mão, na descoberta de todos estes recantos que, cheios de pó e egoísmo, podem nos tirar a paz. É preciso cortesia, no trato, no falar e, muitas vezes, no calar. É preciso dar de graça. É preciso “rezar com a própria história, aceitar-se a si mesmo, saber conviver com as próprias limitações e inclusive perdoar-se, para poder ter esta mesma atitude com os outros.” (pág.72) É preciso não esquecer que “o outro não é apenas aquilo que me incomoda; é muito mais do que isso.” (pág. 75).
 
Santo Agostinho dizia que “ quanto mais grave foi o perigo no combate, tanto maior é o gozo no triunfo.” O Papa sempre nos lembra que estas propostas são exigentes, custam, doem e não se conseguem num ápice. A maior parte das virtudes não são disposições imediatas, mas sim, hábitos bons, que demoram a conquistar e que implicam muitos retrocessos. Mas o casamento é uma combinação de todos esses esforços. Como diz o Papa, “ A alegria matrimonial, que se pode viver mesmo no meio do sofrimento, implica aceitar que o matrimónio é uma combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e prazeres, sempre no caminho da amizade que impele os esposos a cuidarem um do outro.” (págs. 83 e 84).
 
O risco é grande. A aposta é ousada. Um compromisso para todo o sempre, em total exclusividade, tem sempre uma componente de risco, de aventura radical. Todavia, de facto, quando dizemos aquele Sim, estamos a dizer ao outro que vamos estar com ele, mesmo que haja dificuldades, mesmo que deixe de ser atrativo, mesmo que nada do que sonharam se materialize exatamente como sonharam. Sonharão juntos outros sonhos.


Rita Gonçalves
Licenciada em LLM Estudos Portugueses e Franceses
Mãe


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