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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Pena de morte: “Trabalhemos por uma sociedade mais humana. Vingança nunca é solução”, diz o cardeal primaz da Alemanha

Dom Reinhard Marx, presidente do episcopado alemão, falou ontem no Congresso Internacional de Ministros da Justiça, na Itália


WIKIMEDIA COMMONS

“Acolho com favor a iniciativa e a tenacidade com que a Comunidade de Santo Egídio assumiu esta batalha de civilização. É mais um passo na defesa da vida, por uma visão integral da vida”, declarou o cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e presidente da Conferência Episcopal Alemã, além de membro do C9, durante o IX Congresso Internacional de Ministros da Justiça, realizado ontem na Câmara dos Deputados da Itália com o título “Um mundo sem pena de morte”.

Em seu discurso, o cardeal explicou o progresso feito pela Igreja neste assunto, através do Catecismo da Igreja Católica e graças, em especial, aos últimos três papas. Ele relatou também sua alegria por ter recebido, meses atrás, o convite para a conferência: a pena de morte é um assunto “crítico” que exige esforço de mudança, especialmente nos Estados Unidos, afirmou.

Para o cardeal, é providencial que a Comunidade de Santo Egídio continue a promover a abolição da pena de morte durante este Ano Santo, “porque a misericórdia é o rosto de um homem injustamente condenado à morte”. Isto leva a um público ainda maior: não apenas o governo e os parlamentos, mas também as pessoas comuns.

A abordagem da Comunidade nesta batalha pela abolição é “profundamente católica ou universal”, porque “atrai todas as partes interessadas, melhora as operações de cada país, evita o viés ideológico, intervém nos casos individuais de pessoas condenadas à morte e, ao mesmo tempo, fornece instrumentos legais aos países que os solicitam”.

“Estou profundamente convencido de que não há justiça sem vida”, comentou o arcebispo de Munique, acolhendo o compromisso de canalizar essa luta no diálogo inter-religioso. Em seu discurso, voltaram as palavras do papa Francisco no ângelus de domingo passado, cujo vídeo foi exibido no início da conferência.

Da janela do Palácio Apostólico, o papa lançou um apelo “à consciência dos governantes para que se chegue a um consenso internacional voltado a abolir a pena de morte”. Francisco fez a proposta de um “gesto corajoso e exemplar: que nenhuma sentença seja executada neste Ano Santo da Misericórdia”.

A atitude do papa no último domingo “nem sempre foi, infelizmente, a abordagem da Igreja. Temos que admitir isto”, disse o cardeal Marx, lembrando em seguida os grandes desenvolvimentos desta questão durante o pontificado de João Paulo II, que, em todos os sentidos e em todas as circunstâncias, chamou à defesa da vida desde a concepção até a morte natural. Bento XVI e Francisco seguiram “de todo o coração” o exemplo de seu antecessor, com novos desenvolvimentos e algumas decisões corajosas para combater a pena de morte.

“Não estamos apenas trabalhando por uma sociedade mais justa, e sim por uma sociedade mais humana”, reafirmou o cardeal. “Neste Ano Santo da Misericórdia, devemos ser capazes de nos comprometer com a abolição da pena de morte e combatê-la na cena política”, onde “muitas vezes ouvimos políticos que clamam: ‘Vingança, vingança’”!

Mas a vingança “nunca é a solução para nenhum problema político ou social”, afirmou dom Reinhard Marx. Devemos, portanto, tornar-nos “protagonistas da misericórdia”, como solicitado pelo papa Francisco, que sempre se expressou de modo “claro” e “insistente” contra a pena de morte.

Baste recordar as suas palavras no Congresso dos Estados Unidos, durante a viagem de Setembro passado, em que o papa recordou a “responsabilidade de proteger e defender a vida humana em todas as fases do seu desenvolvimento”. Disse o papa naquela ocasião: “Esta convicção me levou, desde o início do meu ministério, a apoiar em vários níveis a abolição global da pena de morte. Estou convencido de que esta é a maneira melhor, uma vez que toda vida é sagrada; toda pessoa humana tem uma dignidade inalienável e a sociedade só pode se beneficiar com a reabilitação daqueles que são condenados por crimes”.

“Para o Estado de direito, o papa Francisco diz que a pena de morte é um fracasso”, concluiu o presidente dos bispos alemães, “já que ela obriga o Estado a matar em nome da justiça em vez de trabalhar por uma sociedade de misericórdia e de defesa da vida humana”.


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