Páginas

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Müller: “Igreja não faz política, mas exorta os políticos a não imporem falsas ideologias”

No congresso em comemoração pelos 10 anos da Deus Caritas Est, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé se diz seguro de que “a caridade encontrará a sua justa colocação na reforma da Cúria”

  Igreja e Religião

Catholic Church England And Wales

Enquanto o Parlamento italiano vive horas incandescentes na véspera da votação do projecto Cirinnà e, na media e nas redes sociais, só cresce o debate sobre as declarações do Papa Francisco durante a última conferência de imprensa no avião, o discurso dessa manhã do cardeal Gerhard Ludwig Müller está perfeitamente de acordo com as palavras do Santo Padre, durante a viagem de retorno do México, contemplando-as e harmonizando-as.

Falando no Congresso Internacional ‘A caridade nunca acabará’, promovido pelo Pontifício Conselho Cor Unum, por ocasião do décimo aniversário da encíclica Caritas in Veritate, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé lançou luz sobre a adequada relação entre Igreja e política.

Para a ocasião, conforme relatado pela agência SIR, o prelado reiterou aquela que é a posição milenar da Igreja: “Não é possível um matrimónio entre dois homens”. Ao mesmo tempo, ressaltou, afirmar esta verdade não implica “entrar nas coisas políticas”, mas sim “pedir aos políticos para respeitarem a natureza sobre a qual eles não são os mestres, os senhores, recordando-lhes de “servirem a comunidade e não impor uma falsa ideologia”.

O propósito da Igreja, “na ausência de um mandato político directo”, não é “tomar o lugar do Estado”, que “tem a tarefa de criar uma ordem social justa”.

Ao mesmo tempo, disse Müller, é tarefa dos “cristãos como indivíduos” e da “Igreja como comunidade” – nunca do Estado – “fazer a caridade sensível através do amor ao próximo, através da descoberta da dignidade incondicional do homem”.

Portanto, a Igreja favorece uma “caridade organizada” que não se limita à “assistência social” (esta sim, de obrigação do Estado e de outras organizações laicas) e é “expressão irrenunciável” da natureza da própria Igreja.

A caridade, no entanto, advertiu o prelado alemão, não deve ser instrumentalizada, tornando-a um “instrumento de proselitismo”, nem pode ser submetida a “pressões ideológicas”, portanto, “o cristão sábio sabe quando calar”.

Falando sobre a situação dos migrantes na Alemanha, Müller destacou o risco de que a ajuda proporcionada seja “só material” onde “a pessoa humana é uma unidade e não é possível separar as necessidades materiais daquelas espirituais”.

Não é preciso, então, “ter medo de dar respostas de fé àqueles migrantes muçulmanos que fazem perguntas quando nos dizem: ‘os cristãos nos ajudam, os nossos irmãos muçulmanos não nos ajudam’”.

Neste contexto, o cardeal mencionou o episódio, que lhe contou um bispo, de uma cópia do Youcat roubado por um jovem muçulmano em Malta que, depois da leitura, tinha afirmado: “isso é a verdade”.

Por mérito à Deus Caritas Est, Müller destacou que o leitmotiv da primeira encíclica do Papa Bento XVI está no amor de Deus e do próximo como o “coração da fé cristã no poder criativo, redentor e operativo de Deus Pai, Filho e Espírito santo”. Além disso, destacou o cardeal, “o ódio e o amor são duas alternativas dentre as quais se realizará o destino do mundo e de cada homem individual”.

Portanto, há uma “continuação directa” entre a mensagem de “abertura incondicional ao perdão” que caracteriza o pontificado do Papa Francisco e a primeira encíclica do seu antecessor.

Uma vez que as estruturas da Igreja devem responder a “critérios teológicos”, antes mesmo que “organizacionais” ou “puramente administrativos”, Müller disse que estava “certo” de que “a caridade encontrará o seu lugar na nova ordem e na denominação dos departamentos dentro do projecto de reforma da Cúria actualmente em acto”.


in


Sem comentários:

Enviar um comentário