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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Prefeitos franceses defendem o presépio em espaço público

Vários prefeitos transalpinos reagiram de forma eloquente a uma circular que pedia que fossem retirados os presépios do espaço público


Para cada acção há uma reacção igual e contrária. É a terceira lei da dinâmica que o demonstra, mas também o que está acontecendo na França neste período de espera do Natal.

A acção é aquela realizada pela Associação Nacional dos prefeitos, que, com uma carta circular, denominada Vademecum sobre a laicidade, convidou os prefeitos franceses a evitar os presépios dentro dos municípios.
 
A reacção da maioria dos prefeitos não demorou muito. Um coro de vozes levantou-se para pedir a Francois Baroin, ex-Ministro de centro direita das Finanças e hoje presidente da Associação, a “revisão do documento” a fim de proteger a tradição cristã. 

Três prefeitos de diversos municípios da região Provence-Alpes-Côte d'Azur (Cogolin, Frejus e Luc-en-Provence) pegaram papel e caneta e assinaram um texto no qual anunciaram as próprias demissões das Associações. “Protestamos contra o abandono de todas as nossas tradições e das nossas raízes culturais – escrevem os administradores locais – Não desejamos mais fazer parte de uma associação que, sob o pretexto de defender a laicidade, pisa a cultura e tradições do nosso país”.

Por sua parte, a Associação tentou defender-se afirmando que não se trata de uma injunção, mas sim de uma recomendação destinada a fazer cumprir a lei de 1905 sobre a separação entre religião e Estado. Isto não leva em conta, no entanto, uma sentença do Tribunal Administrativo de Montpellier no verão passado, o qual determinou que o presépio tem sim “especialmente e necessariamente um significado religioso”, mas a proibição prevista pela lei em questão não se aplica a todos os objectos com um significado religioso, mas apenas àqueles que "exibiam a alegação de opiniões religiosas"

Considerando, portanto, que a representação do nascimento de Jesus não revela "a manifestação de uma preferência para as pessoas da fé cristã", o presépio não deve ser tocado. Pelo contrário, é uma expressão da religiosidade popular cuja tutela constitui um gesto de atenção, além de que das raízes espirituais, da herança cultural do país.

Pensam assim os deputados Hervé Mariton e Philippe Gosselin, promotores de uma petição que pede a retirada do vade-mécum. Mas, pensam assim também os 106 mil cidadãos que assinaram o texto. Entre eles, também estava Xavier Bertrand, ex-ministro do trabalho e actual prefeito de Saint-Quentin, que anunciou que não irá aplicar as exigências da guia, porque "nós franceses não devemos pedir desculpas pelo que somos, pelos nossos trabalhos”. Recordando que a França, além de ser laica é também cristã, Bertrand advertiu: "Se também nós começarmos a vacilar nos nossos valores e nas nossas tradições, este País está condenado”.

Na mesma linha Julien Aubert, deputado de centro-direita, com menos de 40 anos, pede que a França mantenha a sua bagagem cultural milenar. Aubert apresentou duas propostas de lei “para pôr fim à deriva actual" do "politicamente correto", integrando a lei de 1905 sobre a separação Igreja-Estado com uma derrogação em favor da conservação "das nossas raízes judaico-cristãs, das nossas tradições, do nosso folclore e das nossas práticas culturais tradicionais".

Dado o clima que reina na França, as duas leis dificilmente serão aprovadas, pelo menos, não em tempo breve. Uma aplicação delas, de fato, já está acontecendo. Em todo o País, vários são os prefeitos que estão se rebelando ao enésimo ataque à tradição cristã instalando presépios imensos nos espaços públicos das suas administrações. O símbolo desta resistência dos prefeitos ao vazio cultural é o rosto brilhante de Valérie Boyer, prefeita de um bairro de Marselha.

Jaqueta de couro, cabelos negros soltos pelas costas, Boyer explica assim a sua decisão de organizar um concurso e uma exposição de presépios na sua circunscrição: "Para mim, o Natal não significa ir ao supermercado para comprar brinquedos feitos na China”. A mensagem é clara: a reacção será sempre mais forte do que a acção que pretende esmagar a identidade cristã da França.


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