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sábado, 19 de dezembro de 2015

A vida missionária? Uma vida feliz ...

A experiência de um sacerdote que deu a vida por Cristo, destacando o convite do Papa aos jovens de se tornarem missionários e levarem o amor e a fé ao mundo


Na Audiência Geral do 2 de Dezembro, dedicada à sua viagem à África, o Papa Francisco recordou o encontro com uma irmã italiana em Bangui, de 81 anos, com uma menina que a chamava de ‘avó’. A freira enfermeira e obstetra está na África desde os 24 anos. Francisco se comoveu e disse: "E, como esta freira, há muitas irmãs, padres, religiosos que queimam a vida para anunciar a Jesus Cristo. É bonito ver isso”.

Sempre falando de improviso, acrescentou: “Dirijo-me aos jovens: se você pensa no que quer fazer da sua vida, este é o momento de pedir ao Senhor que te faça sentir a Sua vontade. Mas não exclua, por favor, esta possibilidade de tornar-se missionário, para levar o amor, a humanidade, a fé em outros países. A fé se prega antes com o testemunho e depois com a palavra. Lentamente”. Na Uganda, em memória dos Mártires da Uganda e de Paulo VI, o Papa disse: "Sereis minhas testemunhas" (At 1,8) ... Tereis a força do Espírito Santo”, porque é o Espírito que anima o coração e as mãos dos discípulos missionários”. Toda a visita a Uganda aconteceu no fervor do testemunho animada pelo Espírito Santo.

O apelo do Papa pelas vocações missionárias deve ser continuado. Os missionários italianos entre os não-cristãos e na América Latina (sacerdotes, irmãos, irmãs, leigos voluntários) são ainda mais de 10.000, mas rapidamente diminuem; eu os encontrei nos países mais difíceis, como Somália, Eritreia, Etiópia, Zimbabwe, Líbia, Namíbia, Ruanda, Burundi, Congo, Papua Nova Guiné, Birmânia, Paquistão, etc. Os bispos locais queixam-se da sua diminuição e pedem reforços aos jovens.

Como é a vida missionária? Deixo-lhes a minha experiência pessoal. Quando eu ainda estava no ensino fundamental, Jesus me chamou para segui-lo e eu lhe disse que sim. Confiava em Jesus e hoje, aos 86 anos e depois dos 63 de sacerdócio e missão, posso dizer que tive uma vida serena, com muitos cansaços, perigos, perseguições e sofrimentos, mas uma vida cheia de entusiasmo e de alegria e não paro de agradecer a Jesus que me chamou.

Feliz por quê? Porque o sacerdote é "um outro Cristo", representa a Cristo, do qual todos os povos e todos os homens têm necessidade. A nossa vocação é o máximo de realização que podemos esperar da nossa pequena vida. Eu vivi e continuo a viver com um objectivo forte e claro: estar apaixonado por Jesus e fazê-lo conhecido e amado. Sei que Jesus me ama, me protege, está sempre comigo, não me abandona nunca, me guia, me perdoa, me dá tudo o que preciso e também muito mais... “O Senhor é o meu pastor, diz o salmo 26, nada me faltará... Se caminho por vales escuros, nenhum mal eu temerei, porque está comigo, oh, Senhor”.

Em minhas visitas às missões, eu conheci muitos missionários felizes de gastar a vida para fazer Jesus conhecido e amado. Eis, brevemente, o beato Clemente Vismara (1897-1988), beatificado no dia 26 de Junho de 2011, na Piazza Duomo, em Milão, que é o ícone da missão ad gentes do século passado. Visitei-o na Birmânia em 1983, quando tinha 86 anos e me falava do seu futuro e da sua missão. Contava que tinha decidido fazer-se missionário depois de participar da primeira guerra mundial, onde ganhou também uma medalha de coragem militar: “Vivi três anos nas trincheiras e vi muitos massacres, destruição, ódio e violências gratuitas, até que me convenci: só por Deus vale a pena gastar a vida. E me tornei um missionário”.

Também os jovens de hoje estão em uma situação semelhante: a sociedade italiana está se auto-destruindo e perdeu as suas raízes e a sua identidade cristã. Assim, está sendo assediada por um islão jovem e guerreiro que quer converter-nos a Deus e às leis islâmicas (Sharia) e nos ameaça de perto. Mesmo hoje só por Deus vale a pena gastar a vida. O jovem católico deve pedir ao Senhor Jesus: “O que devo fazer da minha vida?”. E se Jesus te chama, não lhe diga que não. Te prometeu o cêntuplo nesta vida e depois a vida eterna no paraíso. Confie nele.

Escrevi a biografia do Beato Clemente (Fatto per andare lontano, Emi 2013, italiano): é um romance de aventura, não inventado como aqueles de Emilio Salgari e muitos outros, mas todos verdadeiros e autênticos, como confirmado por mais de cem testemunhas da sua vida para o processo canónico de beatificação. Aventuras humanas fascinantes. Muitos leitores do livro me disseram que quem começa a ler, segue adiante até pela própria curiosidade de ver como termina a vida deste sargento maior da primeira guerra mundial, que se “torna caçador de tigres e de almas”, vive e trabalha durante 65 anos entre um povo tribal que está saindo da pré-história, em um ambiente florestal povoado por animais selvagens e por milhões de insectos, morando por seis anos num galpão de lama e palha (quando chovia tinha que abrir o guarda-chuva em seu sofá), muitas noites passadas na floresta aberta (com o fogo aceso para afastar os animais selvagens), acostumado a comer com os moradores locais (arroz com pimentão, peixes, ervas e raízes picadas e cozidas), prisão e ditaduras persecutórias, ladrões de rua e traficantes de ópio (no "Triângulo Dourado", que produz 40% do ópio mundial), febre negra fulminante e hanseníase ... Mas a alegria no coração era grande e Jesus ajudava a superar todas as dificuldades.

Clemente visitava as aldeias pagãs e levava meninos e meninas para serem educados pelas freiras, com ajuda das viúvas expulsas dos vilarejos. Clemente se apaixonava pelos pobres, pelos pequenos, pelos deserdados, pelos que não tinham nada. Levava todos para as missões; fazia-os trabalhar segundo as possibilidade de cada um e lhes dava uma dignidade nova: manter-se com o próprio trabalho. Assim nasceu a Igreja local e Clemente fundou cinco novas paróquias partindo do zero, com dezenas de milhares de cristãos e todas as estruturas necessárias, até um hospital mantido pelas freiras de Maria Bambina...

Morreu aos 91 anos “sem nunca ter envelhecido”, diziam os irmãos; as pessoas chamavam-no de “o sacerdote que sorri sempre” e, no enterro, um mar de pessoas, também budistas e muçulmanos, choravam a sua morte; e no processo diocesano para a beatificação várias pessoas caminharam por dias para virem a Kengtung dar seu próprio testemunho. O lema do beato é “Fazer felizes os infelizes”, que é também o título do livro sobre a sua personalidade e a espiritualidade de Clemente (EMI, 2014). Sua espiritualidade é simples, mas fortíssima, fundamentada em uma verdade nascida pela experiência vivida do Evangelho: “A vida é bela só se for doada”. Toda uma vida gasta “para fazer felizes os infelizes”.

Este livro é dedicado aos jovens, especialmente aqueles que procuram um ideal para gastar bem a vida.

Feliz Natal de Jesus a todos do vosso Piero Gheddo


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