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sábado, 19 de setembro de 2015

Sé Catedral de Beja reabre em 2016


D. José do Patrocínio Dias, promotor da “reconstrução” física e moral da Diocese, escolheu esta igreja para instalar a catedral, sob a invocação do Sagrado Coração de Jesus. Entre 1932 e 1937, efetuou-se profunda remodelação no interior e no exterior do imóvel, orientada por um perito de arte, o dr. Diogo de Castro e Brito, dentro do gosto neomaneirista e neobarroco”.

Obras de reabilitação decorrem há oito meses e vão até outubro

Ainda não foi desta que se fez luz sobre a localização da igreja de Santigo Maior. Todos os indícios apontam para que a primitiva igreja de Beja tenha existido no preciso local onde, no final do século XVI, foi levantada a atual Sé Catedral de Beja. Um edifício religioso que está a sofrer profundas obras de beneficiação desde 26 de novembro último. Trabalhos que, tudo indica, terminarão em outubro, 11 meses e um milhão e meio de euros depois. Ao culto, a igreja apenas reabrirá lá para 2016.

Texto Paulo Barriga
Fotos José Ferrolho
 
Nem os sucessivos “retoques de cosmética” que o templo sofreu ao longo do século XX conseguiam já “mascarar” o estado de avançada degradação a que chegou a Catedral de Beja.

Fissuras de grandes dimensões ao nível das abóbadas, remediadas com cunhas de madeira, deixavam antever o pior. José António Falcão, do Departamento do Património Histórico da Diocese de Beja (Dphdb), não tem dúvidas: “bastaria um pequeno abalo para que todo o edifício colapsasse”.

Para evitar males maiores, a associação de desenvolvimento regional Portas do Território, um consórcio entre a Câmara e a Diocese de Beja, fez inscrever no anterior quadro comunitário de apoio um projeto para requalificar a Igreja da Sé.

Uma obra com um orçamento previsional de mais de um milhão e meio de euros, dois terços dos quais cofinanciados pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. A contrapartida nacional recaiu sobre as finanças da Diocese de Beja.

E este é apenas o primeiro passo ao nível da recuperação da Sé de Beja. A empresa responsável pelo projeto, a AOF, que recentemente restaurou o santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, está somente a intervir ao nível das estruturas exteriores, das coberturas e da torre sineira. Uma obra que, não acontecendo qualquer derrapagem, estará concluída em finais de outubro.

Já a recuperação das obras de arte não está incluída neste projeto.

A Diocese de Beja estima que os trabalhos de limpeza da estatuaria e dos altares possam estar concluídos até ao final do ano e que a Sé reabra ao culto no início de 2016.

José António Falcão acredita que está em marcha a “construção de uma catedral para o século XXI”. Numa clara alusão às “soluções operacionais” encontradas pelo arquiteto responsável pelo restauro, Augusto Costa, antigo diretor regional do Porto dos Edifícios e Monumentos Nacionais. De acordo com o projetista, “a presente intervenção visa aliar a grandeza e a imponência do monumento com soluções contemporâneas”.

A este nível, todo o cadeiral e mobiliário litúrgico preexistente será substituído por peças contemporâneas.

O piso da nave central será coberto com lajes de mármore de Trigaches, enquanto nas laterais serão utilizadas tijoleiras de barro artesanal.

A ideia, reconheceu o arquiteto, é criar uma gradação de cores que vai desde os tons escuros ao nível do solo até aos brancos que iluminarão as zonas mais elevadas. Os antigos vitrais coloridos, introduzidos no final dos anos 1930, darão lugar a óculos translúcidos, o que permitirá uma melhor iluminação natural dos espaços interiores.

O atual bispo de Beja aprova as soluções encontradas para a Sé. António Vitalino Dantas relembra que “esta igreja nunca tinha tido um projeto que respeitasse aquilo que ela é. Ao longo dos tempos foram-se fazendo alguns remendos conforme as necessidades e o dinheiro que havia. Agora não, temos um projeto unitário”. De relembrar que, ao longo das últimas décadas, a Diocese de Beja recuperou mais de meia centena de edifícios religiosos.

José António Falcão argumenta que “não fazia sentido esquecer a igreja-mãe da Diocese, este edifício simbólico que representa a própria Igreja no território”.

Por isso mesmo, prossegue Falcão, “fazia todo o sentido que esta recuperação fosse muito cuidada, que fizesse uma boa articulação com aquilo que é a linguagem contemporânea… Esta deve ser uma obra exemplar para que quem, na Diocese de Beja, quiser recuperar outros edifícios tenha aqui uma referência”.

Sobre a intervenção, o vereador Manuel Oliveira assumiu que “esta é uma obra fundamental para a política que a Câmara de Beja tem para o centro histórico da cidade”, relembrando igualmente a empreitada recentemente adjudicada para a consolidação da torre do castelo, assim como as próximas obras na capela da Igreja da Misericórdia e na Igreja dos Prazeres.

Uma das expectativas que se levantavam em torno da intervenção na Catedral de Beja prendia-se com os trabalhos ao nível do subsolo numa “das áreas de maior potencial arqueológico da cidade de Beja que regista ocupações humanas desde há 2 500 anos”, no dizer de Miguel Serra, da empresa Palimpsesto. Era grande a esperança de se poder encontrar algum vestígio da primitiva igreja de Santiago Maior. Mas como o projeto de reabilitação da Sé de Beja contemplava uma “intervenção mínima ao nível do subsolo, foram reduzidos os riscos de afetação do património arqueológico”, refere Miguel Serra. Os trabalhos efetuados nesta área permitiram apenas identificar alguns enterramentos humanos, vestígios que se encontravam “em mau estado de preservação devido aos muitos revolvimentos” que se verificaram ao longo dos tempos.

As obras da Sé Catedral de Beja foram visitáveis na última sexta-feira, 17 de julho, no âmbito da “Jornada de Portas Abertas”, promovida pela associação Portas do Território.
in Diário do Alentejo, nº 1735, 24 de Julho de 2015


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