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sexta-feira, 10 de julho de 2015

Presidente do Equador ao Papa: “O grande pecado social da América é a injustiça”

Em seu discurso de boas-vindas, Correa falou sobre justiça social e destacou os “extraordinários pastores” que a Igreja deu ao continente

Roma, 06 de Julho de 2015 (ZENIT.org)

"Bem-vindo, Papa Francisco, à nossa América, à sua América, este tesouro da Pátria Grande, chamado Equador, que o recebe com os corações de todos os equatorianos transbordando de alegria e esperança”. Esta foi a saudação inicial do presidente Rafael Correa na chegada do pontífice ao Equador.

Em seu discurso de boas-vindas, o presidente destacou que “o Equador ama a vida”, indicando que a Constituição do país reconhece e garante a vida, incluindo o cuidado e a proteção desde a concepção, reconhece e protege a família como núcleo fundamental da sociedade e se compromete em cuidar da casa comum.

Além da diversidade da flora e fauna, ele destacou a diversidade de culturas. “Nós também temos uma maioria mestiça, 14 nacionalidades indígenas com suas línguas ancestrais, incluindo dois povos isolados, que optaram pelo isolamento voluntário no coração da floresta virgem”. A Constituição define o Equador “como um Estado unitário, mas plurinacional e multicultural”.

Depois de ilustrar o Equador, o presidente Rafael, demonstrando senso de humor, disse: “os argentinos muito orgulhosos dizem que ‘o Papa é argentino'; minha querida amiga Dilma Rousseff, presidente do Brasil, diz 'bem, o Papa é argentino, mas Deus é brasileiro’. É claro que o Papa é argentino, Deus pode ser brasileiro, mas com certeza o paraíso é equatoriano".

Retomando o tom mais formal da visita papal, o presidente comentou que “o grande pecado social da nossa América é a injustiça”. E lançou o questionamento: “Como podemos ser o continente mais cristão do mundo sendo o mais desigual? Quando um dos sinais mais recorrentes do Evangelho é dividir o pão?”.

“A fundamental questão moral na América Latina é precisamente a questão social” – reiterou-. Para o presidente, pela primeira vez na história, a pobreza e a miséria no continente “não são consequência da falta de recursos, e sim de sistemas políticos, sociais e econômicos perversos”.

Depois de citar a questão da justiça social, elogiando a recente encíclica 'Laudato Si', Correa citou a tragédia da migração. “A solução, como tantas vezes o senhor sugeriu, não são mais fronteiras; é a solidariedade”. “Criar condições para que a prosperidade e a paz desencorajem as pessoas a migrar”, afirmou o presidente.

Por fim, o presidente Rafael agradeceu ao Santo Padre por conhece-lo e por poder recebe-lo em seu país e citou a passagem do Evangelho ‘onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração’, para dizer que o seu tesouro não é o poder, mas o serviço.

O presidente ainda recordou que a Conferência Episcopal Latino-Americana, reunida em Medellín, disse que o episcopado "não pode ficar indiferente às tremendas injustiças sociais existentes na América Latina”, onde a maioria do povo se encontra em “uma dolorosa pobreza e, em muitos casos, em uma miséria desumana”.

“Um clamor brota de milhões de homens pedindo a seus pastores uma libertação que não lhes chega de nenhuma parte”, disse ele.

O presidente do Equador concluiu recordando os “pastores extraordinários” da Igreja na América Latina, “como o arcebispo Óscar Arnulfo Romero, mártir da nossa América recentemente beatificado pelo senhor; Leonidas Proaño, bispo dos índios, que lutou pela verdade, pela vida, pela liberdade, pela justiça, pelos valores do reino de Deus, como ele os chamava. Nos deu Helder Camara: ‘Quando dou comida aos pobres, eles me chamam de santo’; quando eu pergunto por que existem pobres, eles me chamam de comunista’. Agora, a Igreja nos dá o senhor, Francisco, o primeiro papa latino-americano, com sua mensagem profética que se alguém quiser silenciar, as pedras clamarão. Bem-vindo à sua casa, Santo Padre”, afirmou.

O Pontífice, por sua vez, agradeceu ao presidente - que por diversas vezes citou seus discursos, bem como sua Encíclica Laudato Si - pela “convergência de pensamento” e garantiu que o Equador pode “contar sempre com o empenho e a colaboração da Igreja”. 



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