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quarta-feira, 29 de julho de 2015

Obama fala de direitos homossexuais, mas o Quénia responde com outro ponto de vista

A fria resposta recebida do presidente queniano mostra a pouca compatibilidade entre o pensamento liberal ocidental e o de muitos países emergentes

Roma, 28 de Julho de 2015 (ZENIT.org) Luca Marcolivio

Direitos e oportunidades iguais para todos? O princípio não é assim tão linear, nem pacífico; em muitos casos, pode até provocar “curtos-circuitos” ideológicos.
Foi o que aconteceu na histórica visita de Barack Obama ao Quénia, a terra dos seus antepassados ​​paternos, onde o presidente retomou o slogan do seu segundo mandato: “amor é amor” e os gays também têm o direito de ser tratados de forma justa. A referência foi implícita, mas clara, à decisão do Supremo Tribunal dos EUA de confirmar a constitucionalidade do casamento gay em todo o território do país.


"Eu acredito no princípio de que todas as pessoas são iguais perante a lei, de que todos são dignos da mesma proteção e de que o Estado não deve discriminar as pessoas com base na sua orientação sexual", disse Obama em Nairóbi, durante um discurso em que também tinha falado contra a corrupção e o racismo e em favor da igualdade de oportunidades para as mulheres, que, na sua opinião, são tratadas no Quénia como "cidadãs de segunda classe".


Afirmando já ter sofrido a discriminação racial na própria pele, Obama quer estender a não-discriminação também aos gays. Não por acaso, ele falou explicitamente, em Nairóbi, sobre a propagação da homofobia no continente africano.


Suas palavras, no entanto, não despertaram o entusiasmo do presidente queniano Uhuru Kenyatta. "O fato é que o Quénia e os Estados Unidos têm muitos valores em comum, mas temos de admitir que algumas coisas nós não compartilhamos: a nossa cultura e a nossa sociedade não podem aceitá-las".


Num país em que os atos homossexuais são puníveis com prisão, Kenyatta considera que a questão dos direitos dos homossexuais é um "não-problema", um tema que não está na agenda. Para um transeunte queniano entrevistado pela rede CBS, o pensamento de Obama a este respeito é "coisa de americano": e os quenianos, "de acordo com a cultura africana" e os "valores cristãos", dizem não aos direitos dos homossexuais.


Sem entrar na questão das violações dos direitos humanos que os gays sofrem no Quénia, este caso mostra toda a problemática da extensão universal dos próprios direitos humanos.


Os dilemas são muitos. Primeiro, vale perguntar: é pertinente equiparar a discriminação racial à discriminação por orientações sexuais? E ainda: a “longa marcha” dos direitos é um caminho inexorável ou devem respeitar-se as tradições locais?


O multiculturalismo envolve um conceito de integração construído no Ocidente com categorias que os países do mundo em desenvolvimento nem sempre entendem, já que o único critério adotado nestes anos tem sido o da globalização económica.


A "exportação da democracia" vem implicando uma homologação das culturas, uma verdadeira "colonização ideológica", que, como visto na discordância entre os chefes de Estado do Quênia e dos EUA, gera faíscas.


As políticas liberais atuais têm se arvorado em “paladinas” dos países do Terceiro Mundo, mas sem conhecer a sua verdadeira identidade, ignorando que, além do que nos une, permanece o que nos divide.


É irónico que, mesmo na Europa, as forças políticas progressistas, mais orientadas aos "novos direitos", são sempre as mais favoráveis ​​à política de "portas abertas" para os estrangeiros, sem que estes realmente compartilhem a opinião europeia sobre esses direitos. Pense-se na participação notável de muçulmanos nas várias vigílias e manifestações ocorridas na França em defesa da família natural, fundada no matrimónio entre homem e mulher.


É oportuno perguntar-nos qual concepção vai prevalecer amanhã: a liberal, dos "direitos para todos", ou a "arcaica", representada por um grande número de países emergentes e baseada nos "valores cristãos" esquecidos no Ocidente “desenvolvido”, mas defendidos pelos quenianos visitados por Obama?



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