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terça-feira, 23 de junho de 2015

A visita

Numa pequena vila do interior, era hábito do padre sair aos domingos com um jovem sobrinho para visitar paroquianos e de algum modo chamar à Igreja os que andavam afastados. Numa tarde de Inverno, bem fria e chuvosa, o rapaz não quis deixar de cumprir o costume, apesar do ancião lhe dizer que estavam dispensados devido à intempérie. Nesta volta, depois de bater insistentemente à porta de uma casinha quase à saída da terra, apareceu na soleira uma velhinha que devido à insistência do jovem os convidou a entrar. Acenderam a lareira para secar as roupas encharcadas, fizeram um café e conversaram longamente. Foi na verdade uma tarde agradável para todos. No domingo seguinte a velha senhora estava nos bancos da frente na igreja, para viver a Eucaristia que há muito abandonara. No fim pediu ao padre que lhe permitisse testemunhar que dada a sua solidão estava disposta a acabar com a vida quando o insistente bater à porta a levaram a abrir. A conversa alegre daquele jovem que não se importara com a molha, mas sim com ela, pobre velhinha, levaram-na a inverter a sua posição, pelo que vinha agradecer a Deus ter-lhe enviado aquele anjo.

Esta história tem-me feito pensar nas palavras do Papa Francisco que diz que a Igreja deve curar as feridas e aquecer o coração dos fiéis. Diz ainda que a vida de cada pessoa embora possa ser um desastre, ainda que esteja desfeita pelos vícios, pode sempre dar lugar a Deus. Todos nós podemos e devemos fazer encontra-Lo em cada vida humana.

 Ainda que a vida de cada um seja um terreno cheio de espinhos, há sempre espaço onde pode crescer a boa semente desde que haja misericórdia e se tenha fé. Se quisermos e pedirmos é Deus que actua, nós seremos apenas os instrumentos, qual mísero pincel nas mãos do artista, ou desafinado violino nas mãos de um grande músico. 

A Igreja é o povo de Deus que caminha na história com alegrias e dores. Não deve reduzir-se a uma pequena construção só para alguns. Não se deve reduzir o sentido de Igreja universal a um ninho protector da mediocridade, disse ainda o Papa. Deus é maior que o pecado e é o Pai que nunca abandona os seus filhos que quiserem a Sua ajuda e em liberdade a peçam.







Maria Teresa Conceição,
professora aposentada.


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