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sábado, 25 de abril de 2015

As vítimas do genocídio arménio foram declaradas mártires

Entrevista com o primaz arménio, Kissag Mouradian: Não se menciona nem número, nem pessoas, mas simplesmente se cita os fieis martirizados durante a Primeira Guerra Mundial, durante o genocídio


Roma, 24 de Abril de 2015 (Zenit.org) Sergio Mora


Ontem, quinta-feira 23, em uma liturgia realizada na cidade de Yerevan, na sede patriarcal do Catholicosato de Echmiadzin, presidida por Karekin II, a Igreja Arménia elevou a mártires as vítimas do massacre de mais de um milhão de arménios na Turquia. Há poucos dias, o arcebispo Kissag Mouradian, primaz da Igreja Apostólica Arménia, na Argentina, esteve em Roma para participar da missa em comemoração do genocídio celebrada pelo Papa Francisco. ZENIT teve a oportunidade de entrevista-lo e apresentamos aos nossos leitores as respostas.

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ZENIT: Por que vieram para esta missa do Papa Francisco?
Arcebispo Mouradian: Viemos a Roma para participar nesta Santa Missa por ocasião do centenário e porque temos um sentimento pelo Papa Francisco. Comemoramos que as vítimas do genocídio, a partir do 23 de Abril de 2015, serão declaradas mártires, ou seja, beatificadas. Não somente as vítimas do genocídio, mas também todas aquelas pessoas que pagaram com o martírio de sangue.

ZENIT: Por qual razão foram massacrados?
- Arcebispo Mouradian: Eles não só foram massacrados por serem arménios, mas também por serem cristãos. Mas claro que em 1,5 milhões de pessoas nem todas eram, mas todos eram cristãos arménios. Os massacres foram organizados com um duplo significado, tanto religioso, porque cristãos, quanto porque arménios. A intenção dos turcos, como disse o premier turco da época, Talat Pasha, era ‘deixar só um arménio para colocá-lo em um museu’. Até 1915, o Império Turco que tinha perdido bastante território do que era o Império Otomano, não queria perder o lado arménio e escolheu aniquilá-los.

ZENIT: A Turquia não quer reconhecer que foi um genocídio, porque teme que reivindiquem o seu território?
- Arcebispo Mouradian: Uma vez aceitaram que os expulsaram das suas casas e mataram os seus filhos, o passo seguinte é esse. E a Turquia não quer chegar a esse segundo passo.

ZENIT: Vi fotos de pessoas até mesmo crucificadas...
- Arcebispo Mouradian: Sim, houve muita crueldade, tudo o que se possa imaginar.

ZENIT: Qual é a fórmula de beatificação?
- Arcebispo Mouradian: Não se menciona nem número, nem pessoas, mas simplesmente cita os fieis martirizados durante a Primeira Guerra Mundial, durante o genocídio.
ZENIT: Onde estão os arménios hoje?
- Arcebispo Mouradian: Hoje existem 3 milhões na Arménia. Depois do genocídio se espalharam pelos países árabes, Síria, Líbano, Egipto, Jordânia, Chipre, ou seja, os países próximos, depois que chegaram aos países mais distantes, especialmente na França, uma parte nos EUA e outra na América do Sul, incluindo Uruguai, Argentina e Brasil.

ZENIT: ¿Arménia hoje, o seu território e seu povo, onde estão?
- Arcebispo Mouradian: Arménia, nosso país, tem um 30 por cento de seu antigo território, que se tornou parte da União Soviética, e tornou-se independente em 1991, após a queda da Cortina de Ferro.

ZENIT: A Igreja arménia não depende de Roma, certo?
- Arcebispo Mouradian: Os armênios temos nosso rito, nossas cerimónias, somos autocéfalos com duas sedes, a de Echmiadzin de todos os Arménios e a outra na Cilícia, perto de Beirute. E dois patriarcados, um em Jerusalém e outro em Constantinopla..

ZENIT: Qual é o seu papel actual na Igreja Armênia?
- Arcebispo Mouradian: sou primaz da Argentina, o que corresponde à Santa Sé de Etchmiadzin de todos os Arménios. Até o ano 83 a América Latina era só uma diocese hoje são três: Argentina, Brasil e Uruguai.

ZENIT: Você conhecia Bergoglio na Argentina?
- Arcebispo Mouradian: Sim, até mesmo acabamos de presenteá-lo com uma Jachka, cruz de pedra típica do nosso país.

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