Páginas

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O que o Papa faz nos exercícios espirituais?

Na primeira meditação, ouvem o exemplo de Elias nas periferias e nas fronteiras geográficas e existenciais


Roma, 23 de Fevereiro de 2015 (Zenit.org)


Ouvir e orar. Estas serão as duas actividades principais que estarão na agenda do santo padre Francisco durante esta semana. Nos próximos dias não haverá discursos do Papa, nem catequese, homilias ou vídeo-mensagens. Não receberá chefes de Estado, nem fieis e peregrinos vindos a Roma para cumprimenta-lo. Até a próxima sexta-feira o Papa permanecerá em silêncio e dedicará o seu tempo somente para Deus.

E é que Francisco e a Cúria Romana se afastaram do trabalho diário e das tarefas diárias da Santa Sé para retirar-se no começo deste tempo quaresmal. Desta forma, desde o domingo, 22, até a sexta-feira, 27, estarão hospedados na casa Divino Mestre na localidade italiana de Ariccia. Como qualquer cristão, no silêncio, característico dos exercícios espirituais, dedicarão estes cinco dias à oração e à escuta das diversas pregações. Nessa ocasião o pregado será o padre Bruno Secondin e o tema "Servidores e profetas do Deus vivo".

Antes de deixar Roma, no Angelus do domingo de manhã, o Santo Padre confiou a Maria os exercícios espirituais e pediu orações para que "neste deserto, entre aspas, que são os exercícios, possamos ouvir a voz de Jesus e também corrigir tantos defeitos que todos nós temos, e também lidar com as tentação que nos atacam todos os dias”.

E qual será o horário do Santo Padre nestes dias?

Na tarde de domingo começou às 18h com a adoração eucarística e oração das Vésperas. Em seguida, o pregador fez uma introdução ao assunto que os guiará durante os exercícios. Esta primeira palestra foi um convite para "sair do próprio povo”.

De segunda a quinta-feira, assim será o horário:
7h30 Laudes
9h30 Meditação
Missa
16h Meditação
Adoração Eucarística
Vésperas
Na sexta-feira celebrarão a Eucaristia às 7h30 e terminará às 9h30 para voltar ao Vaticano.

REFLEXÃO 1
A recomendação para entrar na “escola da misericórdia”, como Elias e seu exemplo, leva a uma “vida de periferia”. Conforme publicado hoje, segunda-feira, no L’Osservatore Romano, este tem sido o centro da primeira meditação da manhã: "Vá para o Oriente, esconda-se: volte para as raízes”.

O pregador propôs algumas questões como o exame de consciência pessoal. Também recomendou "apoiar-se na Palavra de Deus" e tentar encontrar essa "grande riqueza" fazendo discípulos, deixando-se transformar e não se distraindo. E dessa forma viver a experiência do retiro como “uma sinfonia”, uma “verdadeira e real imersão total”, para ser “habitados e absorvidos por esta proposta”.

Continuando a releitura de Elias, o pregador destacou "a geografia": ele "luta em muitas frentes" e se move em direcção aos centros de poder, mas especialmente para “as periferias e as fronteiras geográficas e existenciais” colocando-nos também diante “dos problemas mais interiores”. Sem esquecer, acrescentou, “a fragilidade e a vulnerabilidade” de Elias.

Mas para compreender plenamente a missão do profeta é necessário enquadrá-lo em seu contexto histórico. Assim, deve-se considerar o seu ser originário de “uma região periférica, com uma religiosidade tradicional e menor bem-estar”. Por isso, explicou o pregador, a sua “raiva”, a sua forte reacção, escondem a constatação da “depravação religiosa e social” criadas pelos novos cenários introduzidos em Israel nos sistemas de comércio, de defesa militar, mas também no campo da agricultura. E nesta situação, o Deus vivente termina sendo considerado bom somente por “povos atrasados”. Eis aqui a dura realidade de Elias. E Deus faz ouvir a sua voz, mandando Elias ir embora. A realidade, recordou o padre Secondin, é que "Elias não substitui a Deus, mas deve ser conduzido pela palavra" deve "ouvir, obedecer" e "deixar que Deus seja o seu Deus".

O objectivo é "fazer do amor de Deus o centro da própria existência”, sem tentar “precipitar as coisas” apontando para o resultado imediato: conta ainda a confiança em Deus que, por outro lado, já pensou no homem com amor. Deus pede para Elias desprender-se do próprio projecto, aprender a obedecer deixando Ele fazer. E Deus “fala pouco e em voz baixa”, por isso, para escutar, é necessário deixar de lado as fofocas.

Para concluir a pregação, o padre Bruno propôs algumas perguntas, sugeridas justamente da atitude de Elias: perdi a paciência em algum momento? Falei claro ou por trás, resmungando e alimentando as fofocas? Abraço uma sobriedade saudável e serena, feita de recursos simples? Ou me deixo levar pela tentação do desperdício na vida que tenho, nas coisas que me circundam, na forma de vestir? Mantenho a alegria e o frescor do primeiro amor ou tudo já desapareceu? Conheço a vida da periferia ou gosto de estar no centro na atenção e das honras? Confio na providência ou sou fanático da programação e do resultado? E, finalmente, entre estas idolatrias, o pregador alertou sobre uma religião "desajeitada" e sincretista que pretende juntar um pouco de tudo.

Sem comentários:

Enviar um comentário