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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Entre Estados Unidos e Cuba a cultura do encontro do Papa Francisco

Em 1962, os dois estados correram o risco de começar a terceira guerra mundial. Agora, em vez disso, podem ser um exemplo de como é possível superar as diferenças na América Latina e em todo o mundo

Roma, 22 de Dezembro de 2014 (Zenit.org)

Quarta-feira, 17 de Dezembro, surpreendentemente, o presidente norte-americano, Barack Obama, e o presidente cubano, Raul Castro, anunciaram um acordo histórico, em dois discursos veiculados simultaneamente após a libertação do técnico norte-americano Alan Gross, detido por cinco anos em Cuba e a libertação dos três cidadãos cubanos detidos nos EUA.

Obama e Castro disseram que "os Estados Unidos e Cuba concordaram em restabelecer as relações diplomáticas entre eles".

Os dois países que, já em 1962, quase foram motivo para o estopim da terceira guerra mundial, após 53 anos de embargo económico, com contínuos actos de hostilidade de ambos os lados, anunciaram ao mundo a vontade de retomar as relações no sentido de um acordo de paz e, possivelmente, de cooperação.

O aspecto mais surpreendente deste anúncio é que ambos os presidentes agradeceram o Papa Francisco e a diplomacia do Vaticano. E isso é realmente sem precedentes.

Obama disse: "Agradeço Sua Santidade o Papa Francisco pelos seus esforços, para que o mundo apareça como deve ser”.

E Castro voltou-se para a Santa Sé, dizendo: "Agradeço o apoio do Vaticano e do Papa Francisco por ter ajudado a melhorar as relações entre EUA e Cuba".

Mas o que aconteceu? Ninguém estava ciente de como trabalhou a diplomacia vaticana.

Os dois inimigos, Cuba e Estados Unidos, reabriram um diálogo que poderia levar a uma paz completa e a uma cooperação próspera e duradoura.

O Secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, revelou durante uma entrevista à Rádio Vaticano que o reinício das relações diplomáticas entre os EUA e Cuba é o resultado de um trabalho “realizado durante muitos anos” pela Santa Sé o “papel do Papa Francisco foi fundamental”.

Deve ser dito que Cuba sempre manteve relações diplomáticas com a Santa Sé, mesmo quando se tornou comunista.

Como dito pelo Cardeal Parolin, o Papa Francisco, teve o mérito de ter tomado a iniciativa de escrever a Obama e Castro, convidando-os a “superar as dificuldades existentes entre os dois Países e encontrar um ponto de acordo”.

Historicamente os papas sempre pregaram e promoveram a paz. Quanto a Cuba, mesmo que não foi reconhecido publicamente, a intervenção do Papa João XXIII foi decisiva na prevenção de que os Estados Unidos e a União Soviética começassem um conflito armado com mísseis nucleares em 1962.

À tradicional política de paz da Santa Sé, o Papa Francisco acrescentou a ênfase na "cultura do encontro", no diálogo para construir pontes, na partilha do sofrimento das vítimas, no encontra entre as pessoas para superar as diferenças, curando as feridades passadas e colaborando em projectos novos de paz e desenvolvimento.

De acordo com o Secretário de Estado o degelo entre Washington e a Havana é um exemplo de como é possível superar os conflitos na América Latina. Um modelo que "irá inspirar outros líderes para ter a mesma coragem e buscar o caminho do diálogo e do encontro".

Trata-se de uma belíssima boa notícia que alimenta a esperança em todos aqueles que sonham com a paz.

Papa Francisco, disse o secretário de Estado, mostra que "é possível chegar a entender-se; é possível chegar a compreender-se; é possível chegar a colaborar e a encontrar  também os caminhos para as dificuldades que nos separam”.

As reacções foram diferentes. O povo de Cuba foi às ruas para demonstrar entusiasmo para o que está acontecendo. Um número significativo de americanos está se dirigindo a Cuba, contornando as restrições à liberdade de viagens.

Nos Estados Unidos, a comunidade política está dividida, o Partido Democrata reconheceu que as políticas agressivas e de contraste contra Cuba não funcionaram, de facto, favoreceu que ela tenha caído nas mãos dos soviéticos.

Parte do Partido Republicano, em vez disso, criticou a abertura feita por Obama e pediu mais garantias pedindo reformas reais e duradouras para o povo cubano.

Pesquisas feitas entre a população americana se mostraram bastante favoráveis ao acordo.

Até mesmo as Conferências Episcopais dos dois países se mostraram satisfeitas pela decisão histórica.

Conforme relatado pela Agência Fides, mons. Oscar Cantu, bispo norte-americano de Las Cruces e presidente da Comissão Episcopal "Justiça e Paz", foi muito apreciado ao anúncio feito publicamente pelo Presidente Obama e pediu a remoção de todas as restrições de viagens a Cuba, a promoção do comércio, o levantamento das restrições sobre negócios e finanças e, especialmente propôs apoiar o povo cubano na sua busca pela democracia, os direitos humanos e a liberdade religiosa.

A Conferência Episcopal de Cuba agradeceu ao Senhor, na véspera do Natal, pelos "novos horizontes de esperança" que "iluminam a vida do povo cubano".
"Esperamos - escreveram - que a vontade expressa pelos Presidentes dos Estados Unidos e Cuba contribua para o bem estar material e espiritual do nosso povo".

Assim como tinha acontecido com a vigília de oração que parou a guerra desencadeada contra a Síria, assim como aconteceu com o documento conjunto assinado pelos representantes das religiões contra a escravidão, o Papa Francisco conseguiu levar a paz onde as nações Unidas e os embaixadores dos governos fracassaram.

Acima e além das Nações Unidas, o Papa Francisco consegue falar e tocar o coração das pessoas, homens e mulheres, que por anos viveram em conflito uns contra os outros, os ouve-os, os tranquiliza, curar suas feridas, e os convence sobre a possibilidade da paz e do desenvolvimento.

A renovada intenção entre os EUA e Cuba, de ter boas relações diplomáticas, de desenvolver paz e cooperação em um lugar onde se viu o risco de ver explodir a Terceira Guerra Mundial, é a mais bela e boa notícia de 2014. 


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