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sábado, 22 de novembro de 2014

Papa adverte: "O problema não é dinheiro, mas as pessoas"

Na sua mensagem de vídeo para o Festival da Doutrina Social da Igreja em Verona, o Santo Padre convidou a ter iniciativa para criar desenvolvimento


Roma, 21 de Novembro de 2014 (Zenit.org) Rocio Lancho García


O Papa Francisco alertou sobre o risco da indiferença, que pode tornar-nos cegos, surdos e mudos. Fê-lo em uma mensagem de vídeo para a IV edição do Festival da Doutrina Social da Igreja, que se celebra em Verona do 20 ao 23 de Novembro e que reflecte sobre o tema “Muito além dos lugares dentro do tempo”.

Sobre este tema do Festival, o Papa faz algumas reflexões no vídeo. Em primeiro lugar destaca que a situação de crise social e económica na qual nos encontramos pode “assustar, desorientar, ou fazer-nos pensar que a situação é tão difícil que não podemos fazer nada sobre isso”. Por isso, “a grande tentação é parar para curar as próprias feridas e encontrar uma desculpa para não escutar o grito dos pobres e o sofrimento daqueles que perderam a dignidade de trazer para casa o pão porque ficaram sem trabalho". Dessa forma, indica que os que só buscam curar as suas feridas, terminam maquilhando-se. Por esta razão, Francisco adverte que “o risco é que a indiferença nos faça cegos, surdos e mudos, presentes só em nós mesmos, diante do espelho, e que tudo o que acontece nos seja estranho”. Tinha alguém assim, se chamava Narciso, e este exemplo não serve, disse o Papa.

Em sua mensagem, o Papa recordou que "somos chamados a ir mais longe e abordar as necessidades reais". Por isso, "é urgente abandonar os lugares comuns, que são seguros e garantidos, para liberar as muitas energias escondidas e não conhecidas que estão presentes e trabalham muito concretamente”. Ir além, diz o Papa, quer dizer “ampliar e não restringir, criar espaço e não limitar-se ao seu controle”. E para ir além é preciso tomar iniciativa.

Por outro lado, Francisco assegura que “também hoje, na esfera económica, é urgente tomar essa iniciativa, porque o sistema tende a homologar e todo dinheiro se torna o dono. O sistema te leva para esta globalização que não é boa, que homologa tudo”. E quem é dono desta homologação?, se pergunta. E responde: “O dinheiro”. Tomar a iniciativa nestas áreas – explica o Santo Padre – é ter a coragem de não deixar-se prender pelo dinheiro e pelos resultados a curto prazo, que te transformam em escravo.

Destacando que hoje se diz que muitas coisas não podem ser feitas “porque falta dinheiro”, mas sempre há dinheiro para fazer outras coisas, “comprar armas”, “fazer a guerra”, “operações financeiras sem escrúpulos”; o Papa adverte que “o verdadeiro problema não é o dinheiro, mas as pessoas”.

Neste sentido, explica que “o dinheiro por si só não cria desenvolvimento, para criar desenvolvimento são necessárias pessoas que tenham a coragem de tomar a iniciativa”.

E tomar a iniciativa – destaca em seu discurso o Santo Padre – significa desenvolver uma empresa capaz de inovação não só tecnológica; deve-se renovar também as relações de trabalho experimentando novas formas de participação e responsabilidade dos trabalhadores, inventando novas formas de aceder ao mundo do trabalho, criando uma relação solidária entre a empresa e o território.

Neste ponto, o Papa dá o exemplo do pai de uma criança com síndrome de Down que inventou uma cooperativa constituída por rapazes com síndrome de Down, “estudou um trabalho apto para isso, fez um acordo com uma empresa para a venda dos seus produtos...”. Isso é um exemplo de ir além, “mover-se significa criar novos processos”.

Ter a iniciativa – confirma – significa também considerar o amor como a verdadeira força para a mudança. Facilitar a expressão e o crescimento dos talentos é o que estamos chamados a fazer e para fazer isso é preciso abrir espaços, explica o Papa. Por isso, “liberar os talentos é o começo da mudança”. E falando de talentos, o Santo Padre observa que o tema toca principalmente os jovens. “Se queremos ir além, temos que investir decididamente neles e dar-lhes muita confiança”.

Finalmente, para concluir a mensagem do vídeo, o Papa diz que "ir além dos lugares não é o resultado da casualidade individual, mas de compartilhar um único fim: a história é um caminho rumo à realização. Se nos movemos como um povo, se vamos juntos para a frente, nossa existência colocará em evidência este significado e esta plenitude”.

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