Páginas

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O anti-«Brokeback Mountain»: uma novela valente e quebradora sobre a atracção pelo mesmo sexo

«O coração de leão», de Dena Hunt 

Jake Gyllenhaal e Heath Ledger, protagonistas da polémica Brokeback Mountain.

Actualizado 12 de Outubro de 2014

Carmelo López-Arias / ReL

Brokeback Mountain, dirigida em 2005 por um mestre da delicadeza e a sugestão como Ang Lee (Sentido e sensibilidade, A vida de Pi) e ganhadora de três Oscar, introduzia diversos parâmetros politicamente correctos sobre a homossexualidade, e ainda que admitisse interpretações complexas, converteu-se na bandeira da comunidade gay.

A relação entre Jake Gyllenhaal e Heath Ledger (falecido três anos depois), com a reivindicação de ter lugar entre dois "vaqueiros" para romper o estereótipo vinculado a essa figura cinematográfica, apresentava-se em contraposição aos seus matrimónios respectivos, que (não se erra de spoiler por dizê-lo, pois assim se depreendia já da sua promoção) terminam destruídos. O autêntico e valioso, obtém-se em conclusão – ainda que o filme admite outras interpretações baseadas nos princípios do dever e a responsabilidade -, era o laço afectivo a que os protagonistas nunca se entregaram de todo.

Uma novela com o planeamento contrário
Publicou-se em inglês uma novela que em certa medida responde a esta visão. Também Brokeback Mountain foi livro antes que película, e também ambos tem por autor uma mulher: Annie Proulx naquele caso, Dena Hunt no caso de The Lion´s heart [O coração de leão].

A trama de The Lion´s heart guarda pontos de semelhança com Brokeback Mountain. Paul é o director de uma galeria de arte que se sente a gosto com os seus sentimentos homossexuais, mas vagamente insatisfeito com as suas relações de uma única noite. Max é o marido de outra galerista, com quem tem dois filhos. Quando se conhecem, a Paul atraem-lhe de Max a sua madurez e a sua estabilidade, e a intuição bem arraigada sobre o valor do matrimónio e a família. Com talento e habilidade, analisa Karee Santos em Aleteia, sem cair no tórrido nem no inaceitável, Dena Hunt narra a relação que se estabelece entre ambos, e como todas essas qualidades que Paul apreciava em Max, e a sua visão do amor, da paternidade e da sociedade, vão degradando-se até uma torturante confusão insuportável para ambos. "Enamorar-se de um homem não significa reescrever toda a história", argumenta Paul. Mas para Max, sim.

Diferentemente da película de Ang Lee, a atracção pelo mesmo sexo convertida em estilo de vida não se apresenta em The Lion´s heart como o éden quimérico de que os protagonistas não deveriam sair, mas sim como o factor que destrói o éden real e palpável de Max.

A aproximação católica à atracção pelo mesmo sexo
A proposta de Hunt vai na linha da que apresentam películas-testemunho recentes como O desejo das colinas eternas e O terceiro caminho, que apresentámos em ReL com a sua metragem íntegra (clique nas ligações respectivas para vê-las): transmitir, desde a perspectiva de casos reais de pessoas concretas, que o que uma pessoa faz não é o que uma pessoa é, e que o amor por alguém exige em primeiro lugar desejar o bem desse alguém, mais que a própria satisfação. É o amor de Paul por Max, que destrói a vida e as convicções de ambos (porque Paul é um católico em combate com os seus sentimentos de culpa pela sua forma de actuar)?

A obra parte da perspectiva católica de diferenciar entre os sentimentos homossexuais e as pessoas que os experimentam, merecedoras de amor e compreensão, e a valorização moral dos actos homossexuais, "intrinsecamente desordenados" (Catecismo da Igreja Católica, 2357-2359).
Dena Hunt, autora de
The Lion´s heart
"Dena Hunt reflecte alguns dos conflitos aos quais se enfrentam as pessoas com atracção pelo mesmo sexo, em particular a vergonha, a confusão e a miséria que podem acompanhar esses sentimentos, e mostra como esse sofrimento pode afectar família e os amigos. Compreender a homossexualidade exige abundante paciência, prudência e boa vontade, porque não se trata principalmente de um assunto de controvérsia cultural, mas sim melhor de uma complexa realidade pessoal", valoriza na novela o padre Paul Check, director executivo de Courage, a organização católica de acompanhamento a pessoas com sentimentos homossexuais.

"Não é uma novela para corações débeis nem para corações endurecidos", afirma Joseph Pearce, biógrafo de grandes escritores como G.K. Chesterton, J.R.R. Tolkien ou Roy Campbell: "Bate com uma pulsação que porá de joelhos os corações realmente autênticos".

A novela foi publicada por Full Quiver Publishing, uma pequena editora canadiana consagrada a promover mediante obras de ficção a chamada "teologia do corpo" de João Paulo II. Quanto a Dena Hunt, ensinava inglês na Universidade de Nova Orleães até que se converteu ao catolicismo em 1984 e transferiu a sua residência para a Georgia, onde continuou dando aulas até à sua jubilação.

Junto com as películas citadas ou as obras de Richard Cohen ou, noutra perspectiva, de Philippe Ariño, o que demonstra The Lion´s heart é que está conformado todo um arsenal de resposta cultural e antropológica às ditatoriais imposições do lobby LGTB e o sectarismo dos ideólogos de género. Em jogo está tudo o que perdem Paul e Max, e inclusive os protagonistas de Brokeback Mountain.


in


Sem comentários:

Enviar um comentário