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sábado, 20 de setembro de 2014

Cardeal Marx: a Igreja mostra que é possível viver juntos numa Europa plural

Em entrevista, o purpurado convida os leigos a participarem da arena política e propõe a doutrina social como base para uma convivência humana em justiça, paz, liberdade e solidariedade


Madrid, 19 de Setembro de 2014 (Zenit.org) Ivan de Vargas


O cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (COMECE), se pronunciou nesta sexta-feira durante a II Jornada Social Católica pela Europa, que acontece até o próximo domingo em Madrid.

A Europa social, como elemento constituinte de uma ordem baseada na paz, é para o arcebispo “uma das maiores conquistas da história da humanidade”, conforme ele explicou em sua apresentação “Uma Europa Social?”.

O purpurado alemão recordou que a Igreja participa das preocupações e das necessidades das pessoas e que “a doutrina social da Igreja ajuda a assentar bases sólidas para uma convivência humana em justiça, paz, liberdade e solidariedade”. Ele destacou que “a eficácia da doutrina social da Igreja também depende, em particular, de os cristãos se comprometerem na actividade política e social”. O presidente da COMECE observou que “a rede do laicato católico na arena política em toda a Europa é uma realidade que nós, como Igreja, temos que apoiar mais”.

Nesta breve entrevista exclusiva concedida a ZENIT, o cardeal Reinhard Marx aborda os desafios da Igreja na Europa e, diante de uma sociedade plural, propõe construir uma comunidade caracterizada pela unidade na diversidade.

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ZENIT: Quais são os desafios que a Igreja tem que enfrentar para passar de uma Europa da economia para uma Europa dos valores, para uma Europa mais social?
Cardeal Reinhard Marx: A Europa se identifica com a União Europeia, um projeto em que existem outros aspectos além do meramente económico. Às vezes, temos a impressão, como nos anos passados, de que é só um projecto económico. Mas, na sua origem, ele tinha como finalidade construir a paz na Europa. Na próxima etapa, eu creio que se discutirá como construir esta União de maneira que o aspecto social, de coesão, também conte. Nós vivemos o momento da crise económica em que muita gente sofreu. Neste sentido, a Igreja vai demandar agora que a Europa crie mais sensibilidade social entre os países.

ZENIT: O mundo pós-moderno redefiniu o conceito de pessoa e a forma de nos relacionarmos. Como satisfazer o desejo de transcendência?
Cardeal Reinhard Marx: Eu acho que isto não é assim na Europa, porque ela é plural. Aqui existem muitas posições, maneiras diferentes de encarar a vida diária. As pessoas, os jovens, podem decidir em liberdade. Isto é bom, mas também nos leva ao desafio de saber agir livremente e com responsabilidade. Liberdade e responsabilidade. A Igreja tem que viver e propor um modelo em que o homem só encontra o seu sentido quando se relaciona com o outro. Trata-se do conceito de pessoa e não de um individualismo que encerra o homem em si mesmo. Olhando para as pessoas, para os jovens de hoje, me encontrando com eles, eu não acho que todos sejam egoístas. Não é verdade. Este conceito pode estar presente especialmente nos meios de comunicação e na opinião pública, mas eu sou optimista. Normalmente, os jovens querem construir a sua vida se relacionando com os outros, em comunidade, em comunhão com os outros, e não de maneira egoísta.

ZENIT: O papa Francisco recordou em muitas ocasiões que é necessária essa cultura do encontro que o senhor menciona, mas também falou da cultura do descarte. Como transmitir aos jovens a proposta do Santo Padre?
Cardeal Reinhard Marx: Eu acho que a Igreja pode convidar todo o mundo a desenvolver e viver o verdadeiro senso de comunidade, de comunhão. A Igreja conta com pessoas de todas as línguas, de todas as culturas. Em nossas comunidades nós já vivemos este sinal. Na linguagem eclesial, nós nos referimos ao sacramento da unidade entre os homens. A nossa contribuição à sociedade moderna consiste em mostrar que, numa comunidade em que existem diversas culturas e línguas, é possível viver juntos; que o encontro entre as pessoas é uma riqueza. A Igreja considera que, para o futuro da sociedade moderna, isto é fundamental. As nossas sociedades serão cada vez mais plurais. Portanto, o crucial é criar uma sociedade capaz de ficar unida na diversidade. A Igreja evidencia que isto é possível.

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