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terça-feira, 23 de setembro de 2014

Bispo de Yola: sem ajuda concreta, os cristãos nigerianos serão exterminados

Apelo de dom Stefano Dami Mamza, da diocese da Nigéria que acolhe mais de 5 mil refugiados perseguidos pelo Boko Haram


Roma, 22 de Setembro de 2014 (Zenit.org) Robert Cheaib


Há um genocídio silencioso na Nigéria desde 2009, relacionado directamente com o grupo terrorista islâmico Boko Haram. O nome do grupo, literalmente, significa "A educação ocidental é proibida" ou "é pecado"). O nome oficial, porém, é Jama‘at ahl as-sunna lidda‘awati wal-jihad (“Pessoas comprometidas com os ensinamentos do profeta para o proselitismo e para a jihad”). A brutal facção extremista foi fundada em 2002 em Maiduguri, norte da Nigéria, pelo clérigo islamista Mohammed Yusuf.

As estatísticas estimam que as vítimas fatais dos atentados terroristas do Boko Haram ultrapassem 20 mil. Muitos dos atentados foram cometidos ​​durante reuniões cristãs de oração. Só no primeiro semestre deste ano, 2.053 civis morreram em cerca de 95 ataques, de acordo com a análise detalhada de notícias veiculadas pela media, bem como com estudos de campo apresentados pela Allafrica.com.

O medo das atrocidades dos terroristas levou as pessoas a fugirem das suas próprias aldeias. O padre Michael Walsh, missionário da Ordem de Santo Agostinho (OSA) que trabalha na Nigéria há 18 anos, explica que é impensável que as pessoas comuns consigam enfrentar o Boko Haram. O grupo terrorista tem anos de treinamento e usa armamento sofisticado. Até o exército nigeriano pode ser considerado insuficientemente armado para combater os terroristas.

ZENIT conversou com dom Stephen Dami Mamza, bispo da diocese de Yola, e pediu que ele nos explicasse a gravidade da ameaça contra as comunidades cristãs. A resposta do bispo foi inequívoca: os cristãos estão hoje diante do perigo de ser completamente exterminados.

* * *

ZENIT: Há um silêncio ensurdecedor quanto ao que está acontecendo na Nigéria, devido, provavelmente, a guerras mais "rentáveis" em todo o mundo. O senhor pode nos explicar o que está acontecendo?
Dom Stephen: A situação no nordeste de Nigéria é muito crítica, sobretudo ao sul de Borno e ao norte de Adamawa. Essas regiões, na maioria, são povoadas por cristãos, mas foram invadidas pelos membros do Boko Haram, incluindo o meu povoado natal, Bazza, que foi conquistado por eles faz umas duas semanas. Quem teve a sorte de escapar correu para as montanhas. Quem não conseguiu foi assassinado pelos islamistas. Outros foram obrigados a se converter. As pessoas que ficaram presas nas montanhas estão sem alimentos, sem água potável, e muitos estão morrendo de fome. A maioria dos que escaparam chegou a Yola. São refugiados internos. Todas as paróquias de Yola estão cheias de pessoas desabrigadas. Na minha catedral, contamos com mais de cinco mil desabrigados registados. Eles precisam de ajuda para as necessidades básicas da vida.

ZENIT: Que perigos ameaçam as comunidades cristãs da Nigéria?
Dom Stephen: As comunidades cristãs do noroeste correm o perigo de ser exterminadas.

ZENIT: Como é que não existe uma resistência real nacional e oficial contra o Boko Haram?
Dom Stephen: Não parece existir nenhuma assistência da comunidade internacional. Parece que as nossas forças armadas não estão levando a sério o controle da insurgência, já que estão fugindo de medo do Boko Haram.

ZENIT: O Boko Haram tem relação ou recebe financiamento do grupo Estado Islâmico? Em outras palavras, como é que eles estão se tornando tão fortes?
Dom Stephen: Eu, pessoalmente, não sei quem financia o Boko Haram, mas parece que ele se baseia em grupos locais e internacionais, além de [contar com o apoio de] indivíduos.

ZENIT: Qual é o seu apelo ao mundo nesta situação? Como as pessoas e as nações podem ajudar?
Dom Stephen: O meu apelo nesta situação é para o mundo inteiro, para que nos ajudem antes que sejamos completamente exterminados. O nosso exército precisa de apoio para controlar a situação. Precisamos de materiais de ajuda para os refugiados internos. As pessoas estão morrendo de fome, de doenças, e não têm nenhum abrigo.

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