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quarta-feira, 30 de julho de 2014

«Valores e cultura na nossa sociedade”


De uma forma ou de outra todos somos alertados para alguns problemas que, apesar de não serem novos, nos levaram, mais uma vez, à sua reflexão.

Ao falar de cultura ficou-me a dúvida: Será que ela depende da sociedade em que se insere ou é a sociedade que faz a sua própria cultura? Mesmo num país, com a dimensão de Portugal, existem várias opiniões. Enquanto, para uns, a cultura se insere nas suas tradições, para outros, insere-se na modernidade e nos saberes enciclopédicos.

Quanto aos valores, a confusão é ainda maior, chegando ao paradoxo. Todos sabemos que o Bem e a Justiça são valores ancestrais e, neste nosso século XXI, continuam a ser pronunciados no dia-a-dia, como fundamentais e imprescindíveis. No entanto, impõe-se a pergunta: Que valores? Que Justiça? Que Bem?

O Bem da liberdade que não sabemos ou não queremos usar?

A liberdade que nos tira dignidade e fere a do “outro”?

O homem é inteligente e racional e dessa razão e da vontade surge o “livre arbítrio”, ou seja, o homem tem o poder de decidir. A pergunta impõe-se: Como é que o homem gere esse poder de decisão? Como controla e usa o poder da liberdade? Poderá fazer tudo para que se julga apto?

É vulgar, um grupo de familiares ou amigos discutirem determinado assunto, em que cada um deles manifesta o seu ponto de vista com a concretização e correcção que a sua ideologia determina. Uns, porque leram mais, outros porque têm a ciência a seu favor, todos consideram que o seu modo de avaliar o problema é o mais correcto e, no final, cada um fica na sua. O egoísta continua egoísta; o virtuoso sai a perder e o cientista continua a alardear o poder da ciência. Que critério usar para definir os valores, embora saibamos que a ciência pode matar, que o egoísta pode ferir a justiça e que, na maior parte das vezes, a virtude se opõe ao prazer e ao bem-estar?

Todos nascemos do mesmo modo, como soldados colocados no campo de batalha, em que cada um procura subir na hierarquia terrena, mesmo que, para isso, seja preciso matar, atropelar, perverter o sentido da justiça, porque falta o tal critério que deveria vir do “Comando Supremo”. Mas como conseguir esse estatuto e obediência a um “Deus”que coloque o critério do que deve ser feito e não do que pode ser feito?

O Papa Bento XVI diz que sem liberdade religiosa “seria impossível a afirmação de uma paz autêntica e duradoura para toda a família humana”.

Também assim pensamos os nossos medos só serão minorados depois de encontrado o critério de todos termos o nosso “Deus”, o nosso “General”. Não importa o nome que lhe damos, o que é importante é que “ELE” nos ajude a discernir qual o melhor critério para decidir do que deve ser feito e não do que se pode fazer. Pode mesmo ser um dos nossos antepassados que nos ensine o critério a usar para que a virtude vença o prazer e o egoísmo dos que só pensam no seu poder e esquecem que os outros também fazem parte da Sociedade em que nos inserimos.

O meu estatuto de Pessoa, só existe frente ao “Outro”.


Otilina Silva - Escritora


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