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quinta-feira, 31 de julho de 2014

O sacerdote do século XXI: um homem "criativo" e próximo das pessoas

Durante o encontro com o clero da diocese de Caserta, sábado passado, o Papa Francisco recomenda aos sacerdotes manter um bom relacionamento com o seu bispo


Roma, 30 de Julho de 2014 (Zenit.org) Luca Marcolivio


Com uma boa dose de senso de humor o Papa Francisco exortou no encontro do sábado passado (26), com o clero da Diocese de Caserta, que aconteceu na Capela Palatina dela Reggia.

Após o discurso de boas vindas do bispo de Caserta, monsenhor Giovanni D'Alise, o Santo Padre brincou sobre a extensão da visita em dois dias (domingo e segunda-feira).

"Estou feliz e me sinto um pouco culpado de ter causado tantos problemas no dia da festa do padroeiro", disse ele, observando que preferiu adiar para a segunda-feira o encontro com o pastor Giovanni Traettino, para não coincidir, por razões de oportunidade, com a festa da padroeira Santa Ana.

"E imediatamente pensei: No dia seguinte, estará nos jornais: na festa da padroeira de Caserta o Papa foi com os protestantes. Bonito título, hein?", Brincou o Papa.

Respondendo a uma pergunta do vigário-geral, monsenhor Antonio Pasquarello, sobre alguns conflitos territoriais e burocráticos encontrados na diocese de Caserta, o Santo Padre recordou que é "feio quando os bispos brigam um contra o outro, ou fazem lobby”: dessa maneira “se rompe a unidade da Igreja”.

Lembrou depois os primeiros Concílios, quando muitos bispos "chegavam até mesmo aos socos" e acrescentou: "Eu prefiro que se gritem quatro coisas daquelas bem fortes e que depois se abracem e não que se falem secretamente um contra o outro”.

É justo que os bispos estejam de acordo entre si, explicou o Santo Padre, enquanto “na unidade”, não na uniformidade. Cada um tem o seu carisma, cada um o seu modo de pensar, de ver as coisas: esta variedade, às vezes, é fruto de erros, mas muitas vezes é fruto do mesmo Espírito”.

Perguntado por um pároco sobre a possibilidade de uma “pastoral que sem sufocar a piedade popular, possa relançar a primazia do Evangelho", o Papa citou a Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI, que lembrava como então a piedade popular tenha que ser, em certo sentido, "evangelizada", de modo a evitar o risco de que ela possa “não ter uma expressão de fé forte”.

Falando dos apostolados da juventude, em particular com base em sua experiência na diocese de Buenos Aires, Bergoglio afirmou que nestas iniciativas há "algo de piedade popular".

Mesmo nos "santuários", acrescentou, é possível encontrar "pessoas simples, pecadoras, mas santas” das quais pode ver um “sentido evangélico": por trás das "misérias" narradas em um confessionário por estes fiéis, há sempre "a graça de Deus que os leva a este momento".

Em uma conversa posterior, Francisco destacou o dom da "criatividade" que tem sido de grande ajuda para muitos apóstolos do passado, começando com Pedro e Paulo, e que só é possível alcançar por meio da oração.

A criatividade espiritual tem uma dimensão de "transcendência", tanto no que diz respeito a Deus do que ao próximo. "Não devemos ser uma Igreja fechada em si, que olha para o próprio umbigo, uma Igreja auto-referencial, que olha para si mesma e não é capaz de transcender", reiterou o Santo Padre.

Fazer apostolado significa lidar com o "diálogo", que, no entanto, exige que não se renuncie nunca à própria "identidade", que, porém, não deve ser confundida com o "proselitismo", que é uma "armadilha". A Igreja, de fato, como já havia dito Bento XVI, "não cresce por proselitismo, mas por atracção". E a atracção reside precisamente na "empatia humana, que é guiada pelo Espírito Santo."

O sacerdote do século XXI, então, será principalmente um "homem de criatividade", que, através da oração, "se aproxima das pessoas".

Na última pergunta, o Papa Francisco recomendou que os sacerdotes diocesanos sejam capazes de tecer uma relação alegre, construtiva, franca e segundo os preceitos da obediência com o próprio bispo, para além das possíveis divergências de carácter.

Também nestas dinâmicas, o "maior inimigo" são "as fofocas" que, muitas vezes, de acordo com o Papa são o "resultado de uma vida de celibato vivida como esterilidade, não como fecundidade".

A amargura e a raiva podem marcar também a vida dos sacerdotes, no entanto, deve sempre prevalecer neles a "dupla fidelidade" e a "dupla transcendência" da ligação com Deus e com os homens.

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