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sábado, 26 de julho de 2014

Mons. Shomali: a situação em Gaza "está literalmente se deteriorando"

O bispo auxiliar de Jerusalém lança um apelo urgente à ONU e aos governos


Roma, 25 de Julho de 2014 (Zenit.org) Deborah Castellano Lubov


O bispo auxiliar do Patriarcado Latino de Jerusalém e vigário patriarcal para a Palestina, mons. William Shomali, disse que a situação em Gaza está "literalmente se deteriorando" e pediu um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.

Entrevistado telefonicamente por Zenit, mons. Shomali explicou a situação tanto do ponto de vista palestino quanto israelita. O vigário para a Palestina falou dos desafios que afrontam os cristãos e, em particular, as dificuldades encontradas pelo pároco de Gaza, pe. Jorge Hernández, e pela Igreja da Sagrada Família.

Mons. Shomali fala também sobre a situação dos jovens na Faixa – especialmente sobre o fenómeno do desemprego – e dos hospitais de Gaza. O prelado propõe algumas medidas para a paz e o desenvolvimento a serem adoptadas pelo governo e pelas Nações Unidas.

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ZENIT: Mons. Shomali, você poderia descrever a situação actual em Gaza, além da guerra de propaganda de ambos os lados?
Mons. Shomali: A situação literalmente está se deteriorando e existe uma verdadeira crise humanitária em Gaza. Vidas inocentes foram ceifadas. Até agora mais de 3.500 palestinianos foram feridos, 650 mortos. Muitos deles são crianças e mulheres. Duas mil casas foram afectadas, algumas delas com civis palestinianos dentro. Os hospitais estão superlotados e faltam medicamentos e suprimentos médicos. As consequências do conflito sobre as crianças são e serão dramáticas. Em todo o caso, não podemos quantificar o sofrimento das pessoas com números e cifras.

Devemos acrescentar que do lado israelita, houve perdas dolorosas. Mais de 28 soldados foram mortos e um está desaparecido. Milhares de famílias israelitas vivem com medo por causa dos foguetes lançados pelo Hamas. O bloqueio temporário dos voos de Alitalia, Air France e Lufthansa em Tel Aviv está causando perdas económicas para Israel.

ZENIT: Qual é a situação da comunidade cristã?
Mons. Shomali: A comunidade cristã em Gaza não chega a 1.500 membros. Entre eles, 200 são católicos. Os outros são na sua maioria ortodoxos e alguns anglicanos. Levamos adiante três escolas católicas e um hospital anglicano. A influência cristã em Gaza ultrapassa a sua realidade numérica.

Por agora não temos informações precisas sobre a destruição e perdas sofridas pela comunidade cristã. Estamos em contacto diário com o corajoso pároco, Pe. Jorge Hernández. Sabemos por ele que domingo passado os fieis não foram à Missa. Tinham medo. Muita gente está privada das necessidades básicas, tais como o sono nocturno. A escola católica em Gaza, que faz parte da paróquia, tem recebido muitos desabrigados que fugiram do bombardeio do bairro de Al Shujaieh e Al Zaitouneh. Existem cerca de 600 pessoas que vivem e dormem na escola, desprovidas do necessário. Eles precisam de comida e de água. Graças à Caritas de Jerusalém, foi possível enviar-lhes uma ajuda urgente.

As Irmãs argentinas deixaram Gaza. A situação era muito perigosa para eles. Mas as Missionárias da Caridade ficaram e continuam cuidando de 30 pessoas com deficiência.

ZENIT: Quais são as necessidades da comunidade cristã?
Mons. Shomali: Muitos dos jovens da comunidade estão sem trabalho, mais de 40%. Quem trabalha ainda precisa de ajuda, porque não ganha o suficiente para sobreviver. Os cristãos de Gaza precisam de mais liberdade sob o regime do Hamas. Sentem-se cidadãos de segunda classe. Quem pode ir embora fica tentado em fazê-lo. Não é fácil viver ali nestas condições particulares. As nossas três escolas católicas de Gaza atraem muitos estudantes, mas economicamente não são auto-suficientes. A maioria dos professores e dos alunos são muçulmanos. Muitos deles são pobres e precisam de bolsas de estudo.

ZENIT: O que podem fazer Igreja, governo e organizações humanitárias?
Mons. Shomali: No próximo domingo, haverá uma colecta e um dia de oração pela paz em todas as nossas igrejas na Terra Santa e Jordânia. Começamos a levantar fundos para enviá-los aos pobres. Mas o volume de destruição é grande e existe a necessidade de subsídios dos governos para a reconstrução das infra-estruturas.

O que é mais urgente é um cessar-fogo imediato entre Israel e o Hamas. O meu apelo a todos aqueles que têm poder de decisão é para um cessar-fogo imediato, porque as pessoas não podem viver constantemente sob os morteiros e bombas.

ZENIT: Qualquer outra coisa que você gostaria de acrescentar? Algum outro apelo?
Mons. Shomali: Apelamos à ONU para que intervenha e pare com este círculo vicioso de violência e derramamento de sangue, para tirar completamente o assédio de Gaza e impulsionar com urgência o processo de paz que deveria ser baseado no direito internacional. (Trad.T.S.)

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