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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Fato de banho é muito mais giro… e não só



Era eu um bebé e já a minha mãe me vestia fato de banho para ir à praia. E na minha infância não era só eu, mas todas as minhas primas, amigas e colegas do colégio usavam fatos de banho, coloridos e com padrões variados, para ir à praia ou à piscina. Mas à medida que fui crescendo e entrei na adolescência, reparei que quase todas as minhas amigas começavam a usar biquíni. Íamos à praia e já eram muito poucas as que usavam fato de banho: comentava-se, comparava-se, e havia tal “pressão” (éramos miúdas de 13, 14 anos na altura) para usar biquíni, que quem ainda usava fato de banho só o podia fazer por opção própria de não querer entrar na onda.

Claro que eu também me questionei e pensei se queria ou não comprar um biquíni. Conversei com a minha mãe, com amigas que usavam fato de banho e com amigas que usavam biquíni e formei eu própria uma opinião. A primeira conclusão estava à vista: a maior parte das minhas amigas não ficava favorecida com a mudança, notavam-se quilos a mais e imperfeições próprias da fase de crescimento. É claro que isto não acontecia com todas, mas no geral o fato de banho era, sem dúvida alguma, a opção mais elegante.

Um outro motivo, mais racional, foi pensar não pela negativa – o que não posso mostrar – mas pela positiva – o que posso e devo mostrar. Olhando para o corpo humano é fácil perceber que cada parte tem uma função: as pernas e os pés para andar, as mãos e os braços para trabalhar e certas partes mais íntimas para questões fisiológicas e sexuais.

Há também partes essenciais que servem para uma actividade básica do ser humano: a comunicação. Para comunicar precisamos da boca, dos olhos, dos ouvidos e essa é a primeira parte que deve estar à vista. Quando um ser humano é obrigado a tapar estas partes (até as burkas têm uma rede para se poder ver e respirar), isso é um abuso. As mãos, além de serem instrumento de trabalho, são também forma de comunicação, e por isso também devem estar à vista.

Agora, se olharmos para a maioria dos povos, a tradição é a de deixar a descoberto as partes com estas funções referidas e áreas circundantes, mas deixar resguardadas as partes mais íntimas e as zonas mais próximas destas partes. Um decote acentuado, a zona imediatamente por baixo do peito ou por baixo do umbigo remetem automaticamente, é inevitável, para a zona íntima que qualquer mulher quer resguardar. Assim, se eu tapar apenas as partes que não quero mostrar o mais provável é que vá chamar a atenção precisamente para essas partes.

Com a chegada de mais um Verão resolvi trocar ideias com algumas amigas e perguntei a cerca de 20 amigas que usam fato de banho (dos 16 aos 26 anos) o porquê de preferirem o fato de banho ao biquíni. As respostas foram muito interessantes e, pelo menos, dão que pensar. (A maioria destas amigas a quem perguntei são super elegantes, sem problemas de quilos a mais: usam fato de banho porque querem e não porque precisam.)

Há uma coisa com a qual todas concordam: é muito mais elegante. E além disso, muito mais confortável: várias dizem que se sentem mais à vontade consigo mesmas e com os outros. Uma delas diz: “É encantador sem ser revelador. Também é muito mais confortável (comparando com já ter usado biquíni). Uso fato de banho porque me sinto mais à vontade e sei que os outros à minha volta estão também mais à vontade, não vêem só pele.” Outra amiga diz que não quer abrir a sua intimidade a desconhecidos: “se não lhes conto muitas coisas porque são íntimas minhas, porque hei-de mostrar o meu corpo que revela tanto de mim?” Outra ainda (de 16 anos!) diz que tal como não é a mesma coisa estar em topless ou de biquíni, não é a mesma coisa estar de biquíni ou de fato de banho: “acho que é um sinal de respeito pelas pessoas com quem estou na praia ou na piscina”. Há quem justifique a sua preferência com três palavras apenas: “elegância, mistério, feminino”. E também há quem se alongue mais, começando na brincadeira… “Biquíni = soutien/cuecas. Não me imagino a sair à rua em soutien e cuecas! Fato de banho é muito mais elegante porque dá a ilusão de termos pernas maiores, diminui a curva na cintura fazendo com que a medida de peito e de anca sejam a mesma, ou seja, TOP MODELS!” mas revelando logo as suas verdadeiras razões… “o corpo é a manifestação exterior e do nosso interior (alma). (…) Devemos evitar qualquer peça que impeça que os outros nos vejam como pessoas e apenas como corpo. O que acontece é que o biquíni salienta, aliás pior, põe mesmo em relevo as duas partes que mais nos identificam como mulheres. E os homens e as mulheres têm maneiras muito distintas de pensar... É óbvio que não podemos impedir que as pessoas pensem o que quer que seja, mas podemos prevenir! O fato de banho, ao tapar a barriga, ajuda a combater imaginação e o desejo de alguns homens... porque grande parte do problema é esse: o que deixa a desejar. Como já dizia Santa Teresa, 'a imaginação é a louca da casa'!!!” Finalmente, a Maria que, com 18 anos acabados de fazer (giríssima e com 1,80 m de altura), acaba de ser convidada para ser modelo, diz-me “Eu uso fato de banho porque acho que fica mais elegante e porque expõe menos do meu corpo. E, para além disso, de biquíni sinto-me de roupa interior”.

Como é óbvio, tenho também muitas amigas que preferem usar biquíni: fazem-no com más intenções ou com malícia? Tenho a certeza que não e respeito perfeitamente a opção delas (não deixo de gostar ou admirá-las um milímetro a menos por causa disso). Não queria era deixar de expor estas ideias, nas quais se calhar nunca pensaram. Há consequências às quais nós, raparigas, não somos sensíveis (principalmente no que diz respeito aos rapazes) e que provavelmente nunca considerámos. Deixo aqui um vídeo do Jason Evert, que dá ideia de algumas dessas consequências: youtube.com/watch?v=WtzIcz7MOkc.

Para terminar, um último pensamento: tenho a certeza que todas as raparigas e mulheres, ou pelo menos a maioria, deseja ser vista e conhecida por aquilo que é: a sua personalidade, a sua inteligência, etc. A maneira como nos vestimos (cores, combinações) também dizem algo de nós e é normal que as pessoas olhem para a nossa roupa e juntem essas impressões à ideia que têm da nossa pessoa. Mas se a roupa que estou a usar se resume a três pequenos triângulos, é óbvio que as pessoas vão precisamente olhar para esses triângulos… e aí será difícil que reparem na nossa inteligência, simpatia ou personalidade.

Leonor Cruz Fernandes 

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