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domingo, 25 de maio de 2014

O Papa na missa em Belém: defender as crianças sempre

Muitas crianças vivem em condições desumanas e exploradas, refugiadas ou afogadas no Mediterrâneo. E nos envergonhamos diante de Deus que se fez homem


Roma, 25 de Maio de 2014 (Zenit.org)


O Papa Francisco chegou à Praça da Natividade às 11h (horário local), em meio a uma entusiasta aclamação. Enquanto o Santo Padre se encaminhava para o altar, o coro entoou vários cantos, alguns natalícios, para recordar o lugar do nascimento de Jesus. Os cantos durante a missa foram em árabe e latim.

O Santo Padre começou a missa incensando uma imagem da Virgem Maria.

O esperavam milhares de pessoas, embora com a ausência de fieis da Faixa de Gaza e da Galileia que não conseguiram a permissão de Israel para irem à Belém. Nas leituras, em árabe, claramente esteve a profecia de Isaías sobre o nascimento de Jesus e o evangelho foi sobre o nascimento de Jesus.

Texto da homilia do Papa Francisco

***

«Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2, 12).

Que graça grande celebrar a Eucaristia junto do lugar onde nasceu Jesus! Agradeço a Deus e agradeço a vós que me acolhestes nesta minha peregrinação: o Presidente Mahmoud Abbas e demais autoridades; o Patriarca Fouad Twal, os outros Bispos e os Ordinários da Terra Santa, os sacerdotes, os dedicados Franciscanos, as pessoas consagradas e quantos trabalham por manter viva a fé, a esperança e a caridade nestes territórios; as delegações de fiéis vindas de Gaza, da Galileia, os imigrantes da Ásia e da África. Obrigado pela vossa recepção!

O Menino Jesus, nascido em Belém, é o sinal dado por Deus a quem esperava a salvação, e permanece para sempre o sinal da ternura de Deus e da sua presença no mundo. O Anjo disse aos pastores: «Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino…».

Também hoje  as crianças são um sinal. Sinal de esperança, sinal de vida, mas também sinal de «diagnóstico» para compreender o estado de saúde duma família, duma sociedade, do mundo inteiro. Quando as crianças são acolhidas, amadas, protegidas, tuteladas, a família é sadia, a sociedade melhora, o mundo é mais humano. Pensemos na obra que realiza o Instituto Effathá Paulo VI a favor das crianças surdas-mudas palestinianos: é um sinal concreto da bondade de Deus. É um sinal concreto de que a sociedade melhora.

Hoje Deus repete também a nós, homens e mulheres do século XXI: «Isto vos servirá de sinal», procurai o menino…

O Menino de Belém é frágil, como todos os recém-nascidos. Não sabe falar e, no entanto, é a Palavra que Se fez carne e veio para mudar o coração e a vida dos homens. Aquele Menino, como qualquer criança, é frágil e precisa de ser ajudado e protegido. Também hoje as crianças precisam de ser acolhidas e defendidas, desde o ventre materno.

Infelizmente, neste mundo que desenvolveu as tecnologias mais sofisticadas, ainda há tantas crianças em condições desumanas, que vivem à margem da sociedade, nas periferias das grandes cidades ou nas zonas rurais. Ainda hoje há tantas crianças exploradas, maltratadas, escravizadas, vítimas de violência e de tráficos ilícitos. Demasiadas são hoje as crianças exiladas, refugiadas, por vezes afundadas nos mares, especialmente nas águas do Mediterrâneo. De tudo isto nos envergonhamos hoje diante de Deus, Deus que Se fez Menino.

E interrogamo-nos: Quem somos nós diante de Jesus Menino? Quem somos nós diante das crianças de hoje? Somos como Maria e José que acolhem Jesus e cuidam d’Ele com amor maternal e paternal? Ou somos como Herodes, que quer eliminá-Lo? Somos como os pastores, que se apressam a adorá-Lo prostrando-se diante d’Ele e oferecendo-Lhe os seus presentes humildes? Ou então ficamos indiferentes? Por acaso limitamo-nos à retórica e ao pietismo, sendo pessoas que exploram as imagens das crianças pobres para fins de lucro? Somos capazes de permanecer junto delas, de «perder tempo» com elas? Sabemos ouvi-las, defendê-las, rezar por elas e com elas? Ou negligenciamo-las, preferindo ocupar-nos dos nossos interesses?

«Isto nos servirá de sinal: encontrareis um menino…». Talvez aquela criança chore! Chora porque tem fome, porque tem frio, porque quer colo... Também hoje as crianças choram (e choram muito!), e o seu choro interpela-nos. Num mundo que descarta diariamente toneladas de alimentos e remédios, há crianças que choram, sem ser preciso, por fome e doenças facilmente curáveis. Num tempo que proclama a tutela dos menores, comercializam-se armas que acabam nas mãos de crianças-soldado; comercializam-se produtos confeccionados por pequenos trabalhadores-escravos. O seu choro é sufocado: o choro destes meninos é sufocado! Têm que combater, têm que trabalhar, não podem chorar! Mas choram por elas as mães, as Raquéis de hoje: choram os seus filhos, e não querem ser consoladas (cf. Mt 2, 18).

«Isto vos servirá de sinal»: encontrareis um menino. O Menino Jesus nasceu em Belém, cada criança que nasce e cresce em qualquer parte do mundo é sinal de diagnóstico, que nos permite verificar o estado de saúde da nossa família, da nossa comunidade, da nossa nação. Deste diagnóstico franco e honesto, pode brotar um novo estilo de vida, onde as relações deixem de ser de conflito, de opressão, de consumismo, para serem relações de fraternidade, de perdão e reconciliação, de partilha e de amor.

Ó Maria, Mãe de Jesus,
Vós que acolhestes, ensinai-nos a acolher;
Vós que adorastes, ensinai-nos a adorar;
Vós que acompanhastes, ensinai-nos a acompanhar. Amen.

(© Copyright - Libreria Editrice Vaticana / Trad.TS)

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