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quarta-feira, 30 de abril de 2014

As 4 igrejas históricas de Maaloula, destroçadas sem necessidade: «um crime organizado», denunciam

Actualizado 23 de Abril de 2014

Fady Noun / AsiaNews / ReL 

O Patriarca greco-católico
Gregório III com crianças de
Maalula deslocados em
Dezembro passado
Os terroristas islamitas de Al-Nusra abandonaram o histórico povoado cristão de Maalula na Síria, onde ainda se fala arameu, a língua de Jesus.

O patriarca Gregório III dos católicos de rito grego e o patriarca João X Yazigi, dos ortodoxos de rito grego, percorreram juntos a população cristã, constatando que os islamitas se revoltaram com templos e edifícios cristãos, com uma destruição sem justificação militar.

"As quatro igrejas históricas de Maaloula viram-se afectadas", disse o patriarca Gregório dos grego-católicos sírios.

"A nossa igreja paroquial, dedicada a São Jorge, está crivada. A cúpula do mosteiro foi danificada em dois lugares. As paredes foram demolidas pelo fogo de canhão. Certas partes do convento estão em perigo de colapsar e devem ser reconstruídas. Os ícones encontram-se dispersos no solo, sujos ou roubados. Actualmente é completamente inabitável".


Interior das oficinas do convento dos
Santos Sérgio e Baco
"No Convento dos Santos Sérgio e Baco o histórico altar de origem pagã, convertido num altar cristão, o único deste tipo, está partido em dois", detalha.

O mesmo espectáculo de devastação oferece-se aos olhares nas igrejas de Santo Elias e Santa Tecla, do Patriarcado greco-ortodoxo.

O patriarca Gregório III Laham utiliza vocabulário bíblico para descrever a destruição de lugares sagrados sem justificação militar. 

"É o mistério de iniquidade que se vê no facto", "é a devastação do Templo, o mistério da iniquidade", repete numa entrevista telefónica com a AsiaNews em Beirute, aludindo às palavras bíblicas que se usam quando o templo de Jerusalém é profanado com ídolos pagãos.

"Apresentou-se um espectáculo apocalíptico. Outras igrejas foram destruídas na Síria, mas nunca vi esse tipo de coisas. Chorei e tentei em vão um momento de solidão para orar. O meu coração está partido", disse o prelado de novo.

Na opinião de Gregório III, esta devastação é "um crime organizado" e um verdadeiro crime de guerra".
Maaloula está incrustada num passo
da montanha
A Carta de Londres (1946) define como crimes de guerra "o saqueio da propriedade pública ou privada, a destruição sem motivo de cidades e aldeias, ou a devastação não justificada por necessidades militares".

"Não há - disse o Patriarca - nenhuma justificação militar para o vandalismo. Tem-se a impressão de que se tratava de um vandalismo mandado". "Porque fizeram posições entrincheiradas com as nossas igrejas?"

Com amargura, Gregório III acusa o Ocidente de ser cego à verdade da guerra na Síria. Segundo ele, não se trata de uma "Guerra síria" ou uma "guerra civil". Certo, há uma parte de conflito entre os mesmo muçulmanos, mas não é uma guerra entre o Islão e o cristianismo. Para ele trata-se só de "crime organizado".

Em termos de segurança, a população de Maaloula pode sonhar com voltar, disse o patriarca, apesar da incerteza da situação da infra-estrutura (electricidade, água, telefone). Acrescenta que alguns jovens estão voltando a inspeccionar as casas e estudar a possibilidade de retorno.

Mas Gregório III chama a atenção sobre as dificuldades que será "reparar o laço social" entre a população cristã e muçulmana de Maaloula. Algumas famílias do povoado submeteram-se aos insurgentes islamitas e a reconstrução da confiança na realidade coloca problemas. Muitos jovens não querem uma reconciliação superficial, de "hipócritas abraços".

A Igreja tem o dever de impedir que toda a população muçulmana seja assimilada ao que alguns fizeram. Os cristãos não devem viver separados da sociedade, disse Gregório III.

Na sua opinião, a verdadeira conspiração está aí. O seu objectivo é romper o tecido social da sociedade síria, na qual nunca houve discórdia entre muçulmanos e cristãos. Insiste-se na barbárie dos comportamentos que, aos seus olhos, não se explica mais que no desejo de destruir a Síria "profunda".

No apoio do que disse, indica a morte atroz, na presença de testemunhas, de um padeiro de Adra, um município próximo de Damasco. O desafortunado homem foi arrojado, vivo e junto com os seus filhos no forno no qual havia cozido pão recentemente para os combatentes islamitas.

Gregório III denuncia a "criminal indiferença com a qual o mundo ocidental, com o falso pretexto de defender a democracia, continua sendo testemunha deste espectáculo de destruição. Absolutamente deve-se evitar que o vírus do ódio se propague", conclui, depois de recordar todavia que não há notícias dos seis habitantes de Maaloula sequestrados, como os bispos greco-ortodoxo e sírio-ortodoxo de Aleppo, desaparecidos desde há mais de um ano.


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