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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Evangelização online: o uso das redes sociais como ponto de encontro

O digital não é uma simples extensão da própria existência, mas uma parte integrante da vida


Roma, 19 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) Jorge Henrique Mújica


Sabemos que o sucesso das redes sociais se deve a um factor decisivo: elas facilitaram as relações interpessoais. Foi no começo da primeira década do terceiro milénio que a massificação das tecnologias da comunicação e da informação se globalizou. Em pouco menos de dez anos, aconteceu uma verdadeira revolução, que não foi apenas tecnológica, mas também antropológica.

O homem de hoje pensa, vive e sente com a internet. O digital não é uma simples extensão da própria existência, mas uma parte integrante da vida, o que se reflecte na “hiperconexão” de milhões de pessoas em todo lugar e a qualquer momento. Paradoxalmente, a finalidade de relação passou a ser um factor secundário.

Como é que a evangelização entra neste complexo mundo digital? E mais: como entender a evangelização num contexto existencial como o de hoje? Há quem aposte em “habitar a rede” e possibilitar, a partir dela, uma aproximação das pessoas que não conhecem Deus, não acreditam nele ou deixaram de acreditar. Se este objectivo levar a outro mais profundo (o encontro pessoal com Deus) e houver não apenas boas intenções, mas a formação e a criatividade necessárias, isso é óptimo.

Assim como milhares de missionários partiram um dia para anunciar a mensagem de Jesus em novas terras e em novos continentes, assim também os missionários da web desembarcam no continente digital para repropor a mesma mensagem. E a experiência e as lições daqueles evangelizadores podem servir para o presente.

Em primeiro lugar, os missionários transmitiam a palavra de Deus, não a deles mesmos. Eram intermediários entre Deus e os homens e, em consequência, conduziam as pessoas ao fim que era Deus, não a si próprios. Existe hoje a tentação de se colocar no centro da mensagem e acabar desviando a atenção do fim verdadeiro.

Os missionários eram enviados: o impulso vinha de Deus e, como dizia São Paulo, “Ai de mim se não pregar o Evangelho!”. Mas também é verdade que o envio imediato era feito por uma autoridade eclesiástica, que avalizava o trabalho apostólico. Isto continua sendo verdade hoje. A evangelização online exige a boa intenção, mas também a adequada preparação e, na medida do possível, o respaldo ao menos do próprio pároco ou de algum representante eclesiástico que acompanhe e oriente o nosso trabalho.

Os missionários de antigamente aprendiam a língua dos nativos. Os nativos digitais também têm a sua linguagem própria: mais visual, interactiva, intuitiva, multimédia. São elementos que o missionário não só precisa conhecer, mas dominar, para falar ao homem contemporâneo de um jeito que ele entenda.

Ao chegar à nova terra, os missionários também sabiam identificar as coisas boas da cultura local. Devemos fazer o mesmo: não quebrar a cabeça pensando em milhares de tácticas novas; podemos aproveitar o que já existe, purificando-o, se necessário, e elevando-o.

Finalmente, o sucesso pastoral de muitos missionários não vinha da quantidade de coisas que eles faziam, mas do testemunho de vida santa que eles davam. Se as actividades eram muitas, era porque vinham do conselho que Deus lhes dava na oração. E isso as pessoas notavam, sentindo-se interpeladas a conhecer o Deus com quem o missionário se comunicava. Isto permanece válido: falar primeiro com Deus e depois falar dele para os outros. Os homens de hoje não escutam os mestres, e sim as testemunhas. E, se escutam os mestres, é porque eles são testemunhas.

Em suma, trata-se do desafio de levar as almas ao contacto directo com Deus e devolver às redes sociais o seu factor de sucesso. O “grande encontro” passa pelos pequenos encontros que os missionários são chamados a possibilitar na conexão com Deus fora do ambiente digital.

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