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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Caldecott, ex-Nova Era, e Ward, ex-pastor anglicano: católicos e eruditos em Tolkien e C.S.Lewis

Viagens de fé no congresso literário da San Pablo CEU 

Tolkien, à esquerda, e o seu amigo C.S.Lewis, à direita, tocaram
a imaginação de centenas de milhões de pessoas
Actualizado 25 de Fevereiro de 2014

ReL

A Universidade San Pablo CEU de Madrid acolhe em 24 e 25 de Fevereiro um interessantíssimo congresso sobre dois dos escritores cristãos mais influentes e populares do século XX: C.S. Lewis, autor de "Crónicas de Narnia" e "Mero Cristianismo", e J.R.R. Tolkien, famoso por "O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit" (aqui a página na internet do congresso)

María Martínez López, desde o semanário Alfa y Omega, oferece uma aproximação a alguns dos especialistas estrangeiros no congresso, a maioria com itinerários espirituais que nascem longe da fé católica, mas que levam a ela paulatinamente.

Caldecott, família Nova Era, católico aos 27

Um destes especialistas é Stratford Caldecott, que participa através de videoconferência desde Inglaterra. Pertence (assinala María Martínez) às primeiras gerações de meninos ingleses que leu O Senhor dos anéis, nos anos 60 (o livro publicou-se em 1954).

A empresa do seu pai publicou uma das primeiras edições, e ele ainda conserva esses volumes, desgastados depois de muitas leituras.

«Fascinaram-me até agora. Também disfrutava das histórias de Narnia, de C.S. Lewis, dos contos do rei Artur e de outros mitos e lendas».

Depois de um longo processo espiritual desde a Nova Era que cativou os seus pais, passando pela religião bahai, o budismo e o sufismo, Caldecott entrou na Igreja católica aos 27 anos.

«Ler Tolkien foi parte do meu longo caminho», como as outras leituras infantis.

«Nenhuma foi decisiva, mas ajudaram-me a caminhar com a imaginação até um universo cristão: um mundo no qual o amor e o bem reinam de forma soberana. Também um mundo no qual podem ocorrer coisas mágicas, não regido totalmente pela ciência. Tudo isso preparou o solo da minha alma para receber as sementes do Evangelho».

Desde a sua conversão, Tolkien seguiu-o ajudando na vida cristã, no seu esforço pela evangelização da cultura, e inclusive agora que enfrenta um cancro avançado.

«A sua fé brilha nas suas novelas e também nas suas cartas, e ambas me parecem enormemente alentadoras e inspiradoras».

Caldecott admite que a obra de Tolkien foi uma via de evangelização para «outras pessoas que conheço». Mas (qualifica), «em primeiro lugar, deveriam ler-se para disfrutar», pois apresentá-los de entrada como obras cristãs pode gerar rejeição.

Michael Ward: de pastor anglicano a católico
Michael Ward, também inglês, gostou muito com a sua conferência sobre a relação oculta entre os 7 livros de Narnia de C.S.Lewis e os 7 planetas do cânone medieval, um tema que apaixonava Lewis (para os medievais os 7 planetas eram: a Lua, o Sol, Vénus, Mercúrio, Marte, Júpiter e Saturno... E cada um, com a sua simbologia mitológica, tem "atribuída" uma novela; Marte, com a sua dimensão guerreira, impregna "O Príncipe Caspian", por exemplo).

Ward cresceu escutando as Crónicas de Narnia que lhe liam os seus pais. Já mais velho «parecia-me interessante o facto de que tivessem um simbolismo cristão. Os meus dois interesses principais foram sempre a literatura inglesa e a teologia, e Lewis combina-os melhor que nenhum outro escritor que conheça».

María Martínez explica em Alfa y Omega que foi ordenado pastor anglicano em 2005, aos 37 anos.

Sete anos depois, em 2012, era admitido na Igreja católica.

Também nesse caminho o acompanhou Lewis, convertido do agnosticismo ao ramo anglicano mais próximo do catolicismo.

«As próprias tendências católicas de Lewis (a Confissão, uma visão elevada do sacerdócio e a Eucaristia, a crença no purgatório, etc.-», e a sua amizade com autores católicos ou próximos ao catolicismo como Tolkien, Charles Williams e Dorothy Sayers, «ajudaram-me a olhar em direcção à Igreja católica mais do que o teria feito de outro modo».

Hoje, continuam ajudando-o «a habilidade de Lewis para considerar a fé tanto desde um ponto de vista artístico como filosófico, esta combinação de razão e imaginação; e a sua sinceridade ao tratar temas difíceis», como a morte da sua mulher, em Uma pena em observação.

Estes testemunhos (disse a jornalista de Alfa y Omega) demonstram que, em palavras de Ward, as «histórias populares e ao alcance das crianças podem reivindicar-se como o tipo de literatura imaginativa mais importante que há».



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