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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Especialista em cuidados paliativos: «Ajudar os doentes como a Madre Teresa, não com a eutanásia»

Desde Singapura a Calcutá 

Um exemplo de entrega.
Actualizado 22 de Novembro de 2013

Asia News / Nirmala Carvalho / ReL

Amy Lim é uma enfermeira especializada em cuidados paliativos, cristã, casada e mãe de três filhos. No ano 2014 estará como voluntária na primeira casa para os moribundos fundada pela Beata Teresa de Calcutá. Um trabalho que requer "profunda humanidade para entrar em sintonia com os pacientes", ajudando-os a encontrar "a felicidade inclusive no meio de uma profunda tristeza".

Proporcionar cuidados paliativos significa ajudar o paciente "a viver os dias que lhe restam significativamente e com dignidade".

Porque decidiste fazer voluntariado em Nirmal Hriday de Calcutá?
Neste momento estou fazendo uma busca espiritual que quero concluir em Junho de 2014. Por essa data, espero que esteja mais adequada para proporcionar melhor atenção espiritual ao grupo de pacientes que estão morrendo, especialmente aqueles com grande angústia. Por isto, leva-me algum tempo a preparar-me, com o fim de ser mais eficaz quando estiver Calcutá. Levarei comigo todo o amor possível, junto com o conhecimento e os resultados da minha investigação.

O meu coração deseja tanto trazer a beleza e essência do cuidado paliativo para muitos que, em redor do mundo, o merecem, especialmente aqueles que estão nos últimos dias das suas vidas.

Nos últimos dois anos fiz trabalho voluntário em Jacarta. Tive o privilégio de estar numa casa onde morrem crianças que pertencem a famílias muito pobres locais e também de receber algumas lições. O trabalho em Jacarta conquistou o meu coração ainda mais e uma grande parte de mim quer visitar o Nirmal Hriday em Calcutá. 

Que fazes para ajudar o paciente? E porquê definir este serviço como "sagrado"?
Os cuidados paliativos são um tipo de terapia centrada no paciente, que consiste em manejar os sintomas e dar apoio integral tanto aos enfermos como aos seus seres queridos. A essência do cuidado paliativo centra-se no individuo que está sofrendo para viver os dias que lhe restam significativamente e com a sua dignidade intacta.

Num mundo que considera todo o sofrimento como uma tragédia a evitar, estes tratamentos são evidência de um crescimento mais humano e a humanidade frequentemente evolui através desta tragédia, e que pode haver felicidade inclusive no meio de uma profunda tristeza. Quantas vezes temos assistido ao perdão e a reconciliação do coração, até então negados? Mas torna-se possível no final da vida através de bons cuidados paliativos.

Sinto que este trabalho é sagrado porque na vida há muito mais que carne e sangue. Aqueles que queiram participar neste tipo de terapia, devem estar conectados com o paciente, oferecer-lhe presença absoluta e preparados para escutar toda a sua dor. A angústia espiritual e o sofrimento são indivisíveis. Os cuidados paliativos vão mais além dos cuidados físicos. 

Que lições importantes aprendeste de Madre Teresa, e de que modo formou a tua vocação com os enfermos terminais?
Creio que a Madre Teresa praticou cuidados paliativos ao longo da sua vida, cuidando dos pobres e dos moribundos. As suas poderosas palavras - "Não é quanto fazemos, mas sim quanto amor pusemos no fazer. Não é quanto damos, mas sim quanto amor pusemos em dar" – são a essência do cuidado paliativo.

Dar o melhor do que não se vê, ou àqueles que nunca poderão restituir a tua amabilidade de qualquer maneira, é a forma mais alta da terapia. As suas palavras são como um gerador eléctrico para mim, que cada dia produz energia e compaixão que necessitava para continuar caminhando com os enfermos e os moribundos. 

Que pensas da eutanásia e porque o exemplo da Madre Teresa em cuidados paliativos é tão importante?
A eutanásia põe fim à vida de forma prematura; o cuidado paliativo acrescenta qualidade aos dias que nos restam. A eutanásia elimina a dor mediante a eliminação da vida; os cuidados paliativos têm como objectivo melhorar cada ser humano sofredor ao qual vale a pena prestar atenção, inclusive alimentando-o até o último dia de vida.

Os cuidados paliativos vivem da esperança para enfrentar o sofrimento; a eutanásia mata toda a esperança. Animo os meus pacientes a não queixar-se demasiado do que perderam, mas sim a concentrar-se no que ainda tem e considerar cada uma destas coisas como bendições.

Trata-se só do que mais importa ao paciente nesse momento, e como podemos hacer esta viagem real para ele e para os seus seres queridos. Com boa terapia, a eutanásia é inútil.


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